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21/09/2012 - 06h55

Soberba

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Auro Lescher
Fernando Savater
Fernando Silveira
Humberto Maturana
Marcelo Gleiser
Paul Verlaine
Paulo Balthazar

Aprendi com a Divina Comédia, de Dante Alighieri, que o pior dos pecados é a soberba, porque deixa o terreno escorregadio para os outros seis. E, aprendi com a vida, que, simetricamente oposta a ela, está a ética, entendida como a virtude da justa mistura entre os seres humanos.

Este texto, escrito a várias mãos (sete mais precisamente, ou 14, se pensarmos no teclado e não na caneta), tenta colocar alguns pingos nos "is".

Há 14 bilhōes de anos, o Universo iniciou seu processo de expansão, gerando as partículas elementares da matéria: os primeiros prótons, elétrons e nêutrons e, com eles, os primeiros núcleos atômicos. Os átomos foram se atraindo pela força da gravidade, e essas nuvens cósmicas formaram as primeiras estrelas, que viveram pouco, vitimadas pela sua enorme massa. Com o seu colapso, foram pulverizadas no espaço elementos químicos mais pesados: carbono, oxigênio e ferro.

Dez bilhões de anos depois, nasceu o Sistema Solar, que teve uma infância bastante violenta: cometas e asteróides bombardeando as superfícies dos planetas e uma irradiação solar letal. Mas, em um deles, por não estar nem muito longe nem muito perto do Sol, a água pode manter-se líquida, além de estar circundado por uma camada protetora, a atmosfera. Aos poucos, os elementos químicos foram se combinando, formando moléculas complexas. Delas surgiram as bactérias, os corais, os coqueiros, o tiranossauro, a orquídea, o pernilongo, a girafa, o homem, a mulher.

Esta brevíssima história, um Hai-Kai do universo, serve-nos num duplo sentido: primeiro, o fato de as coisas, as plantas e os bichos terem todos uma origem comum -somos tudo e todos farinhas do mesmo saco cósmico; segundo, a necessidade de algo que nos dê uma forma, um contorno à nossa identidade e que ao mesmo tempo nos diferencie do mundo: a atmosfera que é a pele da Terra, a membrana citoplasmática das células ou as fronteiras entre os países tentam cumprir o seu destino -comunicação entre o que está dentro e o que está fora, o Eu e o Outro.

Vivemos as transformações próprias do nosso tempo. Tais transformações geram frequentemente situações de crise que podem acarretar, para alguns, a interrupção de um processo; para outros, a possibilidade de crescimento. O desfecho de uma crise vai depender não somente de fatores externos, mas também da capacidade que uma estrutura tem de adaptação a uma realidade em transformação.

Conceber uma estrutura capaz de suportar crises implica em considerar sua capacidade de se organizar, de suportar a desorganização para poder reorganizar-se novamente, num equilíbrio dinâmico de forças, muitas vezes antagônicas, geralmente conflitantes.

Assim, ao invés de apontarmos para uma organização estruturada rigidamente existindo por si em oposição ao mundo, devemos concebê-la como uma estrutura flexível, inserida em uma realidade complexa, mutante, produtora de perturbações e capaz de assimilar tais perturbações.

Incluir a complexidade não é pensar de forma complicada, mas diante dos desafios que a realidade lança ao nosso espírito, dialogar com um mundo complexo, abrindo-se para ele.

Um organismo tem maior chance de sobreviver se puder estabelecer um sistema de cooperação e troca com seu meio. Aquele que se porta somente de maneira competitiva, predatória, ao contrário, tem menor chance de sobrevivência. Podemos aproveitar esse exemplo vindo da biologia para transpô-lo ao funcionamento dos grupos: indivíduos que estabelecem trocas, entre si e com o meio, numa relação de cooperação, têm maior chance de obterem sucesso em suas tarefas.

Lidar com a complexidade implica entrar em contato com a diferença e a diversidade. O contato com novas culturas e novas visões de mundo traz uma ampliação do universo, sem que isto represente a perda da identidade, da unidade. Ao contrário, essas trocas são enriquecedoras para a identidade, pois permitem o aumento do repertório de ações, produzindo relações humanas mais francas e sinérgicas.

Ora, do que se ocupa a ética se não o viver bem a vida humana? A maior vantagem que podemos obter de nossos semelhantes não é a posse de mais coisas ou o domínio sobre mais pessoas tratadas como coisas, mas a cumplicidade e o afeto de mais seres livres.

Ou seja, ampliação e o reforço de minha humanidade. Onde há troca, também há reconhecimento de que, de certo modo, pertencemos a quem está diante de nós; e quem está diante de nós também nos pertence.

Ter consciência de minha humanidade consiste em dar-me conta de que, apesar de todas as diferenças muito reais entre os indivíduos, também estou de certo modo dentro de cada um de meus semelhantes.

Talvez esteja aí um sentido para aquele verso do poeta: "O mais profundo é a pele".

A autoria desse artigo é coletiva: Fernando Savater, Fernando Silveira, Humberto Maturana, Marcelo Gleiser, Paul Verlaine e Paulo Balthazar; eu, Auro Lescher, assino junto, como tecelão.


 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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