É claro que a resposta é não. Mas e quando a gente está envenenando nossos próprios filhos sem saber? É isso que tem acontecido com o uso indiscriminado dos agrotóxicos no Brasil.
Durante os últimos três anos o Governo Federal aprovou a maior quantidade de agrotóxicos dos últimos 20 anos. Foram 1560 novos registros de ingredientes ativos de 2019 a 2021.
Mas o que mais assusta, se é que isso já não é assustador, é que hoje 44% dos agrotóxicos registrados em 2019 foram banidos em países europeus porque causam excesso de toxicidade à saúde.
Sem ter onde vender seus produtos tóxicos, as grandes produtoras desses produtos fazem seus lobbies em países com governantes e regulações mais frouxas para escoar o que já não é aceito em países desenvolvidos do mundo.
Em recente estudo do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), se constatou que 59% dos produtos ultraprocessados mais consumidos no Brasil têm resíduos destes agrotóxicos. Entre eles, biscoitos, bisnaguinhas e bebidas lácteas.
Na maioria dos produtos, foram encontradas substâncias que têm potencial cancerígeno e que são relacionadas à má formação embrionária e a problemas no sistema nervoso central em ratos.
Em um único pacote de biscoitos de chocolate, muito consumido no Brasil pelas crianças, foram encontrados traços de oito agrotóxicos, dentre eles o glifosato da Bayer, que é classificado pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc) como "provavelmente cancerígeno".
Sabendo disso, você continuaria dando este biscoito aos seus filhos?
Já outro herbicida, chamado atrazina, segundo mais usado no Brasil segundo a Embrapa, é proibido na União Europeia e outros países desde 2004 por estar associado a doenças como Parkinson, câncer de ovário, próstata e infertilidade.
O paraquate, que até 2020 era o mais usado no Brasil, foi proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por estar associado a casos de Parkinson e câncer. Porém, este ano, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) solicitou a "liberação emergencial" do produto à agência reguladora.
É sempre importante lembrar que além dos alimentos em si que ficam contaminados, rios, terras e trabalhadores rurais também sofrem com a contaminação destes produtos.
Nessa esteira de absurdos que vive o Brasil, o governo e a bancada ruralista pressionam para aprovação do PL 6299/2022, que já foi aprovado na Câmara dos Deputados, e agora aguarda votação no Senado com um silêncio abissal da imprensa sobre o tema.
O PL traz uma série de novas facilidades para o deságue do veneno no Brasil, dentre elas a mudança do termo agrotóxico para um termo mais suave, pesticida.
Também muda a forma como os registros são aprovados, retirando o peso da Anvisa e do Ibama do processo de aprovação, ficando o Ministério do Agricultura como o órgão registrante dos agrotóxicos no país, o que deixa as aprovações mais políticas do que técnicas.
Ainda restringe o prazo máximo para análise de agrotóxicos, fazendo-os serem automaticamente aprovados com registro especial temporário até que haja a avaliação final.
Com mais de 1.500 novos ingredientes ativos só em 2019, como um órgão, esvaziado propositalmente pelo governo, conseguirá dar conta destas avaliações com o tempo necessário para as pesquisas? Além destas, há diversos outros absurdos neste PL que não podem avançar.
Por isso, a Ação da Cidadania colocou no ar o site comidasemveneno.acaodacidadania.org.br para que se possa saber mais sobre o tema, monitorar e cobrar como os senadores estão se posicionando em relação à votação.
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