Confeitaria caminha para o anonimato


especial para a Folha

A A doçaria é uma das áreas em que se deu uma atraente fusão da culinária portuguesa com as condições da cozinha no Brasil.

Nos empórios do interior, ainda é possível encontrar pé-de-moleque, maria-mole, cocada e guloseimas mais antigas. Nas capitais, porém, as confeitarias atendem a um paladar principalmente francês e italiano com tradições deliciosas, mas que não precisariam sobrepor-se a valores locais.

E, no entanto, a nossa é uma rica tradição. A primeira e grande aquisição local tinha muito pouco a ver com a pastelaria européia: ocasamento do açúcar com as frutas nativas. Embora a confecção de geléias e marmeladas seja igualmente um uso europeu, o cozimento das frutas em ponto de compota e a existência de frutas com sabores exóticos fez dessa doçaria uma atração irresistível, expressa em doces de banana ou de jaca, de goiaba ou de caju.

Servidos com queijo, sábio acompanhante, capaz de introduzir uma ponta de sal para equilibrar o doce por vezes excessivo.

Muitos doces portugueses, como o alfenim, os filhoses e os bolos de todos os matizes, tornaram-se brasileiros por adoção. Com muitos outros doces, passaram a compor o tabuleiro das escravas, que os vendiam nas ruas.

O repertório de doces brasileiros é capaz de contemplar as mais diferentes ocasiões, mas caminha para o anonimato. A confeitaria passa, no Brasil, pelo mesmo fenômeno comum à gastronomia em geral e aos restaurantes em particular.

O brasileiro urbano, se decide abrir um restaurante, escolherá a cozinha francesa ou italiana (tailandesa? marroquina?) antes de optar pela cozinha regional. Os valores culturais, da música ao tutu de feijão, não serão mantidos apenas pela prática doméstica.

Doces e salgados correm o risco de desaparecer se não forem adotados pelas instituições que os produzem. Restaurantes e confeitarias podem ser tanto os santuários dessas tradições quanto seus coveiros.(JM)

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