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05/08/2004
-
13h10
da BBC Brasil
Vinte anos se passaram desde o fim do regime militar no Brasil, mas a polícia ainda sofre influência dos tempos de repressão política, na opinião de Jean-François Deluchey, cientista político e pesquisador do Instituto de Estudos da América Latina da Universidade Sorbonne, em Paris. "Os resquícios da ditatura não sumiram", disse o especialista.
Para Deluchey, que, desde 1996 estuda a violência no Brasil, os primeiros governos democraticamente eleitos no país não deram atenção suficiente ao problema.
"As primeiras experiências em busca de mudanças só foram feitas a partir de 1995, no Estado de São Paulo, com a criação da primeira Ouvidoria de Polícia. E, também, no Estado do Pará, que fez uma grande reforma do seu sistema policial", disse.
"Desde então, muitas reformas dos sistemas estaduais foram feitas, no bom caminho. Mas é preciso reformar também as mentes e a doutrina, a cultura que estrutura o sistema policial brasileiro."
Para o especialista, o país precisa demostrar que as práticas repressivas foram deixadas de lado. "É fundamental demonstrar que o Brasil da segurança vai para outra direção que antigamente. E eu acho que é exatamente o que o governo está fazendo agora, dando continuidade ao Programa Nacional de Direitos Humanos, criado na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso."
Uma das qualidades deste plano, segundo o especialista francês, é ter pensado as questões de segurança pública, sem deixar de lado a defesa dos direitos humanos. "Essa mudança mostrou que os direitos humanos não eram um obstáculo à eficácia do sistema policial."
Corrupção
Deluchey também ressaltou a necessidade de combate à corrupção policial. "Você pode detectar os casos de corrupção apenas lendo os relatórios de flagrantes". Para ele, é preciso desbaratar a polícia da chamada "parte pobre" antes de qualquer medida.
Os passos seguintes seriam ensinar, formar e reativar outra doutrina de segurança pública para que os policiais tenham os valores para defender que não sejam apenas o enriquecimento individual.
"Só depois de tudo isso você vai voltar a ter credibilidade. E só vai conseguir isso trabalhando, trabalhando certo", disse.
Ao contrário de muitos especialistas que trabalham no ramo de segurança pública brasileira, Jean-François Deluchey se diz otimista com mudanças que possam ocorrer no Brasil. Mas as transformações, na sua opinião, vão demorar. "O Brasil atualmente não tem possibilidade de investir radicalmente em equipamentos, em policiais e em ensino."
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Polícia brasileira ainda carrega herança da ditadura, diz francês
CLAUDIA SILVA JACOBSda BBC Brasil
Vinte anos se passaram desde o fim do regime militar no Brasil, mas a polícia ainda sofre influência dos tempos de repressão política, na opinião de Jean-François Deluchey, cientista político e pesquisador do Instituto de Estudos da América Latina da Universidade Sorbonne, em Paris. "Os resquícios da ditatura não sumiram", disse o especialista.
Para Deluchey, que, desde 1996 estuda a violência no Brasil, os primeiros governos democraticamente eleitos no país não deram atenção suficiente ao problema.
"As primeiras experiências em busca de mudanças só foram feitas a partir de 1995, no Estado de São Paulo, com a criação da primeira Ouvidoria de Polícia. E, também, no Estado do Pará, que fez uma grande reforma do seu sistema policial", disse.
"Desde então, muitas reformas dos sistemas estaduais foram feitas, no bom caminho. Mas é preciso reformar também as mentes e a doutrina, a cultura que estrutura o sistema policial brasileiro."
Para o especialista, o país precisa demostrar que as práticas repressivas foram deixadas de lado. "É fundamental demonstrar que o Brasil da segurança vai para outra direção que antigamente. E eu acho que é exatamente o que o governo está fazendo agora, dando continuidade ao Programa Nacional de Direitos Humanos, criado na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso."
Uma das qualidades deste plano, segundo o especialista francês, é ter pensado as questões de segurança pública, sem deixar de lado a defesa dos direitos humanos. "Essa mudança mostrou que os direitos humanos não eram um obstáculo à eficácia do sistema policial."
Corrupção
Deluchey também ressaltou a necessidade de combate à corrupção policial. "Você pode detectar os casos de corrupção apenas lendo os relatórios de flagrantes". Para ele, é preciso desbaratar a polícia da chamada "parte pobre" antes de qualquer medida.
Os passos seguintes seriam ensinar, formar e reativar outra doutrina de segurança pública para que os policiais tenham os valores para defender que não sejam apenas o enriquecimento individual.
"Só depois de tudo isso você vai voltar a ter credibilidade. E só vai conseguir isso trabalhando, trabalhando certo", disse.
Ao contrário de muitos especialistas que trabalham no ramo de segurança pública brasileira, Jean-François Deluchey se diz otimista com mudanças que possam ocorrer no Brasil. Mas as transformações, na sua opinião, vão demorar. "O Brasil atualmente não tem possibilidade de investir radicalmente em equipamentos, em policiais e em ensino."
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