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19/02/2008 - 06h28

Fidel: De filho de latifundiário a grande inimigo dos EUA

da BBC Brasil

Após quase cinco décadas no poder em Cuba, Fidel Castro foi um dos líderes que permaneceu por mais tempo no poder em todo o mundo.

Seu anúncio de que está deixando a Presidência de Cuba simboliza o fim de uma era marcada por confrontos com o país mais poderoso do mundo, os Estados Unidos.

No longo período em que esteve à frente do país tido como o bastião do comunismo na América Latina, Fidel Castro sobreviveu a nove diferentes governos americanos --e a várias tentativas de assassinato.

Para os Estados Unidos, ele vinha representando uma lembrança constante e incômoda das idéias comunistas que, apesar de praticamente abandonadas no resto do mundo, permaneceram vivas a nada menos do que 144 quilômetros de distância de sua costa.

E essas idéias foram adotadas, com uma interpretação própria, por um filho de latifundiários ricos nascido em 1926. Ciente dos grandes contrastes entre seu confortável cotidiano e a pobreza de muitos cubanos, Fidel se tornou um revolucionário.

Com um grupo de jovens decidiu derrubar o regime de Fulgêncio Batista, marcado por corrupção e que ajudava a compor a imagem da Cuba dos anos 1950 como um paraíso de ricos nas mãos de uma máfia. Prostituição, jogatina e tráfico de drogas eram endêmicos na ilha.

Revolução

Fidel Castro liderou uma invasão ao quartel de Moncada, em Santiago de Cuba, no dia 26 de julho de 1953. Apesar de fracassada, a iniciativa marcou o começo da revolução que acabaria levando-o ao poder.

Depois de breve período preso, Fidel foi anistiado e se exilou no México, onde organizou uma expedição que voltou a Cuba.

Ao lado do argentino Ernesto "Che" Guevara, que conheceu durante o exílio, o jovem cubano montou uma campanha de guerrilha a partir de sua base, na Serra Maestra.

Em 1959, Batista deixou o país e Fidel estabeleceu um novo governo que prometia devolver a propriedade da terra aos agricultores e defender o direito dos pobres.

Nos braços soviéticos

Desde o começo, Fidel insistiu que sua ideologia era, acima de tudo, cubana. "Não há comunismo nem marxismo em nossas idéias, só democracia representativa e justiça social", dizia.

Criticado pelos Estados Unidos pela nacionalização de empresas de americanos, foi alvo do embargo comercial que vigora até hoje.

Fidel disse que assim foi empurrado para os braços da União Soviética, liderada por Nikita Kruchev. Com o novo aliado, Cuba virou mais um campo de batalha da Guerra Fria.

Os Estados Unidos tentaram derrubar o governo de Fidel em abril de 1961, apoiando um grupo de exilados cubanos em uma desastrosa invasão à praia de Girón, na baía dos Porcos.

A CIA, central de inteligência americana, foi acusada pelo líder cubano de tentar assassiná-lo várias vezes, inclusive com um charuto explosivo.

Em 1962, aviões de reconhecimento dos Estados Unidos detectaram um carregamento de mísseis soviéticos rumo a Cuba, criando um impasse entre o presidente americano, John F. Kennedy, e Kruchev.

Depois de 13 dias de impasse, os soviéticos desistiram de instalar mísseis com potencial nuclear em Cuba, em troca de uma promessa secreta americana de retirar suas armas da Turquia.

Perestroika

Cuba "exportou" a sua revolução para outras partes do mundo na forma do apoio às guerrilhas marxistas em Angola e Moçambique.

A União Soviética ajudou Cuba comprando sua produção de açúcar e enviando a Havana navios carregados de produtos que supriam um mercado estrangulado pelo embargo americano.

Na década de 1980, contudo, o governo castrista sofreu um duro golpe com a implementação da perestroika (reestruturação) por Mikhail Gorbachev na União Soviética.

Tempos difíceis levaram milhares de cubanos a se lançar ao mar em embarcações precárias nos anos 1990 na esperança de chegar a Miami.

O caso do menino Elián González ganhou as manchetes do mundo inteiro. Ele perdeu a mãe em uma viagem perigosa e, depois de uma longa batalha legal entre parentes em Miami e o pai, que morava em Cuba, foi levado de volta para a ilha.

Entre os bons resultados domésticos de Fidel Castro está o serviço de saúde cubano, considerado um dos melhores da região, e o baixo índice de mortalidade infantil, comparável ao dos países mais desenvolvidos.

O governo de Fidel, no entanto, foi acusado por organismos internacionais de perseguição política contra os opositores do regime e de violações dos direitos humanos.

Uma comissão da ONU chegou inclusive a cobrar a libertação de dissidentes presos e maior liberdade de expressão em Cuba.

Moderação

Nos últimos anos, Fidel deu sinais de que teria moderado suas posições. Em 1998, recebeu no país o papa João Paulo 2º.

Nos últimos tempos, Fidel encontrou amizade e apoio econômico no presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Outros líderes regionais, como o presidente da Bolívia, Evo Morales, também se declararam simpatizantes do líder cubano.

Desde que foi internado com problemas de saúde, em agosto de 2006, Fidel Castro passou o poder em Cuba para o irmão, Raúl Castro, 75, ministro da Defesa e chefe das Forças Armadas cubanas.

Em janeiro passado, ele recebeu a segunda visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a prever, após um encontro de duas horas com o líder cubano, que Fidel estava "pronto para assumir o papel político que ele tem em Cuba".

Pouco mais de um mês depois, Castro anunciava, em uma carta publicada pelo jornal do Partido Comunista Granma, que não retornaria à Presidência do país, pondo fim a uma era de quase meio século.

Comentários dos leitores
Alessandro Conegundes (1) 20/02/2008 11h38
Alessandro Conegundes (1) 20/02/2008 11h38
BELO HORIZONTE / MG
Entre o oito e o oitenta, quando se trata de Fidel Castro, com certeza poder-se-ão encontrar fãs e opositores ardorosos! Enquanto uma dessas facções de críticos do líder político se apega às milhares de mortes dos opositores ao comandante Fidel, de outro lado, estão aqueles que o enxergam como o magistral homem do poder, único capaz até os tempos atuais a sustentar sua posição categoricamente antagônica aos Estados Unidos por anos seguidos.
Para os habitantes desta terra Tupiniquim, o fato deveras importante é: nosso Presidente Lula já representa peça chave nesse tabuleiro de xadrez político. Para o tio Sam é a chave para a ligação entre os donos do mundo e os cubanos, mas Lula também assumirá o papel de conector da ilha com os demais países sul americanos. Portanto, um papel de destaque na esfera da política internacional. O Brasil sai dos bastidores, enfim, para colocar a nossa nação emergente nos rumos do protagonismo do jogo diplomático!
sem opinião
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porfirio sperandio (122) 20/02/2008 10h31
porfirio sperandio (122) 20/02/2008 10h31
BRAGANCA PAULISTA / SP
A sorte Cubana e' sinceramente uma tragedia pra mim pessoalmente.
Eu admiro o Sr Fidel por toda sua garra, sua compaixao pelas causas latinas, e principalmente pelo seu apoio ao Brasil como nacao.
Tenho conhecidos que ficam enfurecidos por chama-los apenas "conhecidos", e que por muitos anos, viram no Senhor Fidel Castro conforto e seguranca em uma epoca de disturbio no meu Brasil...
Mas tenho "amigos" que adoram me ouvir chamando-os de amigos, os "amigos de Cuba".
Balseros por destino, me enebriavam com noites de estorias e entretenimento nas ruas de South Beach e noroeste de Hialeah, onde me contavam em um espanhol quase aportuguesado num esforco pra me fazer entender, as alegrias e tragedias familiares de gente atravessando o estreito que liga Key West - o ponto mais sul dos EUA com as praias de Havana, dentro de uma camara de roda de trator...
De um lado os meus ideais me convencem do bem que um estadista como Fidel fez aos culhoes latino-americanos. Mas do outro, meu coracao me alarma as angustias que um dia me relatavam meus amigos de Cuba.
So' espero que Cuba retorne a Cuba, e que as magoas entre as duas faccoes, sejam de alguma maneira superadas e possam voltar um dia ao que sempre foi ...
Toda Suerte Cuba ! - El Brasileño de San Pablo
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