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Em depoimento, Valério diz ter indicado advogado a cervejaria
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LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Folha de S.Paulo
Preso numa cela da Polícia Federal em São Paulo com mais duas pessoas, o publicitário Marcos Valério de Souza, réu no processo do mensalão, confirmou ter indicado um advogado à Cervejaria Petrópolis, que havia sido multada em R$ 100 milhões, mas negou ter "encomendado" um inquérito falso para desmoralizar os fiscais que autuaram a empresa.
Segundo a polícia, foi o advogado indicado por Marcos Valério que operacionalizou a fabricação de um inquérito contra os auditores fiscais.
Marcos Valério foi ouvido por três horas e meia pelo delegado da PF Rodrigo Campos, o responsável pela Operação Avalanche, que prendeu anteontem 17 pessoas (13 em SP e 4 em MG) supostamente envolvidas em três núcleos criminosos independentes, um de extorsão, outro de fraude fiscal e o último, onde surgiu o nome do publicitário, de espionagem.
A operação foi batizada de Avalanche porque, como num efeito dominó, a primeira investigação levou a outras.
À PF, Marcos Valério disse não ter pedido ao advogado Ildeu Sobrinho que recorresse a policiais para forjar um inquérito contra os fiscais da Fazenda Antônio Carlos de Moura Campos e Eduardo Fridman, que, no início do ano, multaram em R$ 104,5 milhões a empresa Praiamar, do grupo Petrópolis, dona da Itaipava --Valério é conselheiro da Praiamar.
"O meu cliente indicou o advogado Ildeu para ajudar na defesa da área tributária da cervejaria, que tinha sofrido autuações fiscais", disse o advogado Marcelo Leonardo, que assistiu ao depoimento do publicitário, encerrado à 1h30 de ontem.
Sobre as conversas telefônicas, quase monossilábicas, entre Marcos Valério e o advogado, captadas em escutas telefônicas, o publicitário disse que, na verdade, eles falavam sobre a busca por um terreno em Minas Gerais que pudesse abrigar uma nova área da cervejaria.
Para a PF e o Ministério Público Federal, os diálogos evidenciam o interesse dos investigados em prejudicar os fiscais. O inquérito contra os auditores foi efetivamente aberto por dois delegados federais.
Pelas conversas gravadas, diz a PF, constata-se o interesse em intimidar os fiscais. Havia a sugestão de convocar as respectivas mulheres e filhos para depor no falso inquérito e ainda a preocupação em divulgar a investigação falsa na imprensa.
A PF apreendeu R$ 1 milhão com o advogado Ildeu em 13 de agosto. Segundo a PF, o dinheiro é da cervejaria e seria usado para pagar os serviços dos que ajudaram no falso inquérito.
O publicitário divide a cela com seu sócio, Rogério Tolentino, e com o advogado.
O dono da cervejaria, Walter Faria, teve a prisão pedida pela Procuradoria. A Justiça, porém, entendeu não existir provas suficientes contra ele. Em nota, a empresa informou não ter contrato com Valério.
A defesa de outros presos pedirá hoje o afastamento da juíza do caso por entender que ela já está convicta da culpa de todos.
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