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20/06/2004
-
07h14
RAYMUNDO COSTA
da Folha de S.Paulo, em Brasília
O presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), acha que o governo federal precisa "definir quem são seus aliados prioritários" no Senado, assim como os tem definidos entre os deputados.
A falta de clareza nessa definição, segundo acredita o deputado, levou o governo a perder a votação no Senado do salário mínimo de R$ 260, na última quinta. A Casa aprovou o valor em R$ 275.
João Paulo acredita que a articulação política do governo errou, sobretudo no tratamento que foi dispensado ao grupo ligado ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Ele defende tratamento diferenciado a senadores como Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), Roseana Sarney (PFL-MA) e Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO).
Esse grupo, formado por cerca de 13 senadores, foi decisivo na derrota do governo, é interlocutor privilegiado de José Dirceu (Casa Civil) e torce o nariz para Aldo Rebelo (Coordenação Política) desde que ele se opôs à emenda que permitia a reeleição de Sarney e João Paulo, que ainda tramita, apesar de uma de suas versões ter sido derrubada na Câmara.
No Senado, a reeleição de Sarney é contestada pelo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), que controla a maioria da bancada, mas não dispõe de igual trânsito no PFL e no PSDB.
É ao grupo liderado por Calheiros que o presidente da Câmara se refere quando critica senadores que teriam se aproveitado das dificuldades pelas quais passava o governo, na votação, "para criar mais complicadores".
Para o deputado, a Câmara vai derrubar o salário de R$ 275 aprovado no Senado e restaurar o projeto original de R$ 260.
Abaixo, os principais trechos da entrevista concedida por João Paulo na tarde de sexta-feira passada à Folha.
Folha - O Senado impôs uma derrota política ao governo ao aprovar o salário mínimo de R$ 275. Dá para reverter na Câmara?
João Paulo Cunha - Na política não há derrota definitiva. Nem o governo nem o mundo acabaram, não há derrotados e não há vitoriosos com o resultado do Senado. É preciso baixar a bola e continuar caminhando. A Câmara dos Deputados vai fazer o seu papel.
Folha - Por que a Câmara deve reverter a decisão do Senado?
João Paulo - Quando a Câmara apreciou os R$ 260, tinha a possibilidade de ser R$ 275. O conjunto dos deputados optou por R$ 260. Tomou uma decisão política dos R$ 260 a partir dos dados e das informações que a Câmara tinha. A minha impressão é que a maioria dos deputados vai restabelecer a decisão da Câmara, que é uma decisão soberana, de maioria, com base na quantidade e em dados suficientes para sustentar a posição dos nossos deputados.
Folha - A que o sr. atribui a derrota no Senado, uma vez que, na Câmara, o projeto passou até com certa facilidade.
João Paulo - A derrota é uma confluência de situações e de problemas. No Senado, teve o problema de articulação política, tem problema de ressentimento de vários parlamentares pelo tratamento dado a eles, tem o problema real de lideranças às quais o governo não tem dado atenção e que merecem atenção, e o conteúdo do debate, que precisa de um trabalho muito bem feito que não sei se foi realizado.
Folha - Que problemas de articulação política? A divisão do governo e o clima de intrigas no Planalto contribuíram para esse resultado?
João Paulo - Claro que todo clima de muita fofoca e de muita intriga acaba atrapalhando o conjunto das ações, porque as pessoas perdem muito tempo com isso. Nesse caso, especificamente, acho que não.
Folha - Então qual foi o problema de articulação política?
João Paulo - Você não pode deixar, por exemplo, de ter uma conversa um pouco mais demorada e reconhecer o papel que tem o senador Antonio Carlos Magalhães. Você não pode deixar de reconhecer o papel e a importância que tem a senadora Roseana Sarney. Precisa conversar com eles demoradamente e especificamente com eles. É preciso reconhecer que, no Tocantins, o senador Siqueira Campos (PSDB) cumpre um papel importante. Então, é preciso dialogar com eles.
Esses diálogos não podem acontecer somente na véspera da votação, no dia da votação.
Folha - Foi o que ocorreu agora?
João Paulo - Um pouco o que ocorreu agora. É preciso conversar permanentemente com essas pessoas. Além de também ter surpresa nesse tipo de votação.
Para mim, uma grande surpresa foi a votação de aliados que o governo considerava certos e que, na hora em que o governo passava por dificuldades, em vez de ajudarem o governo, aproveitaram as dificuldades para criar ainda mais complicadores.
Folha - A quem o sr. se refere?
João Paulo - É uma coisa pública, as pessoas perceberam.
Folha - Como exigir lealdade dos aliados, quando o próprio PT deu três votos em 13 contra o governo?
João Paulo - Com partidos amarrados a um mesmo projeto não tem um que valha mais que o outro. A importância do PT é a mesma do PSB, do PPS e do PMDB, porque todos eles estão amarrados a uma política de sustentação do governo Lula. É até admissível que, num projeto e num assunto dessa magnitude, você tenha algumas perdas nos partidos, mas eu acho que você precisa começar a trabalhar antes, não é? Mesmo tendo esses três casos no PT, eu acho que no conjunto poderia ter trabalhado melhor.
Folha - A derrota da emenda da reeleição na Câmara contribuiu para a derrota do mínimo?
João Paulo - Não. A facilidade [de o governo aprovar projetos] na Câmara dos Deputados antes da reeleição continuou depois da emenda da reeleição, não mudou nada. As dificuldades que existiam no Senado antes da reeleição continuaram depois da emenda da reeleição. O que eu acho é que o governo precisa definir quem são seus aliados prioritários no Senado, assim como os tem definidos na Câmara.
Folha - Qual a sua sugestão?
João Paulo - As pessoas do governo evidentemente saberão escolher os seus aliados. Eu sei escolher os meus aliados.
Folha - O PMDB é um partido confiável?
João Paulo - Na Câmara, nós tivemos 39 votos do PMDB a favor do governo, 32 contra e sete abstenções. No Senado foi 16 a 6. É preciso destacar que tem muita gente boa no PMDB e que pode ajudar muito o governo. No Senado e na Câmara.
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O presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), acha que o governo federal precisa "definir quem são seus aliados prioritários" no Senado, assim como os tem definidos entre os deputados.
A falta de clareza nessa definição, segundo acredita o deputado, levou o governo a perder a votação no Senado do salário mínimo de R$ 260, na última quinta. A Casa aprovou o valor em R$ 275.
João Paulo acredita que a articulação política do governo errou, sobretudo no tratamento que foi dispensado ao grupo ligado ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Ele defende tratamento diferenciado a senadores como Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), Roseana Sarney (PFL-MA) e Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO).
Esse grupo, formado por cerca de 13 senadores, foi decisivo na derrota do governo, é interlocutor privilegiado de José Dirceu (Casa Civil) e torce o nariz para Aldo Rebelo (Coordenação Política) desde que ele se opôs à emenda que permitia a reeleição de Sarney e João Paulo, que ainda tramita, apesar de uma de suas versões ter sido derrubada na Câmara.
No Senado, a reeleição de Sarney é contestada pelo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), que controla a maioria da bancada, mas não dispõe de igual trânsito no PFL e no PSDB.
É ao grupo liderado por Calheiros que o presidente da Câmara se refere quando critica senadores que teriam se aproveitado das dificuldades pelas quais passava o governo, na votação, "para criar mais complicadores".
Para o deputado, a Câmara vai derrubar o salário de R$ 275 aprovado no Senado e restaurar o projeto original de R$ 260.
Abaixo, os principais trechos da entrevista concedida por João Paulo na tarde de sexta-feira passada à Folha.
Folha - O Senado impôs uma derrota política ao governo ao aprovar o salário mínimo de R$ 275. Dá para reverter na Câmara?
João Paulo Cunha - Na política não há derrota definitiva. Nem o governo nem o mundo acabaram, não há derrotados e não há vitoriosos com o resultado do Senado. É preciso baixar a bola e continuar caminhando. A Câmara dos Deputados vai fazer o seu papel.
Folha - Por que a Câmara deve reverter a decisão do Senado?
João Paulo - Quando a Câmara apreciou os R$ 260, tinha a possibilidade de ser R$ 275. O conjunto dos deputados optou por R$ 260. Tomou uma decisão política dos R$ 260 a partir dos dados e das informações que a Câmara tinha. A minha impressão é que a maioria dos deputados vai restabelecer a decisão da Câmara, que é uma decisão soberana, de maioria, com base na quantidade e em dados suficientes para sustentar a posição dos nossos deputados.
Folha - A que o sr. atribui a derrota no Senado, uma vez que, na Câmara, o projeto passou até com certa facilidade.
João Paulo - A derrota é uma confluência de situações e de problemas. No Senado, teve o problema de articulação política, tem problema de ressentimento de vários parlamentares pelo tratamento dado a eles, tem o problema real de lideranças às quais o governo não tem dado atenção e que merecem atenção, e o conteúdo do debate, que precisa de um trabalho muito bem feito que não sei se foi realizado.
Folha - Que problemas de articulação política? A divisão do governo e o clima de intrigas no Planalto contribuíram para esse resultado?
João Paulo - Claro que todo clima de muita fofoca e de muita intriga acaba atrapalhando o conjunto das ações, porque as pessoas perdem muito tempo com isso. Nesse caso, especificamente, acho que não.
Folha - Então qual foi o problema de articulação política?
João Paulo - Você não pode deixar, por exemplo, de ter uma conversa um pouco mais demorada e reconhecer o papel que tem o senador Antonio Carlos Magalhães. Você não pode deixar de reconhecer o papel e a importância que tem a senadora Roseana Sarney. Precisa conversar com eles demoradamente e especificamente com eles. É preciso reconhecer que, no Tocantins, o senador Siqueira Campos (PSDB) cumpre um papel importante. Então, é preciso dialogar com eles.
Esses diálogos não podem acontecer somente na véspera da votação, no dia da votação.
Folha - Foi o que ocorreu agora?
João Paulo - Um pouco o que ocorreu agora. É preciso conversar permanentemente com essas pessoas. Além de também ter surpresa nesse tipo de votação.
Para mim, uma grande surpresa foi a votação de aliados que o governo considerava certos e que, na hora em que o governo passava por dificuldades, em vez de ajudarem o governo, aproveitaram as dificuldades para criar ainda mais complicadores.
Folha - A quem o sr. se refere?
João Paulo - É uma coisa pública, as pessoas perceberam.
Folha - Como exigir lealdade dos aliados, quando o próprio PT deu três votos em 13 contra o governo?
João Paulo - Com partidos amarrados a um mesmo projeto não tem um que valha mais que o outro. A importância do PT é a mesma do PSB, do PPS e do PMDB, porque todos eles estão amarrados a uma política de sustentação do governo Lula. É até admissível que, num projeto e num assunto dessa magnitude, você tenha algumas perdas nos partidos, mas eu acho que você precisa começar a trabalhar antes, não é? Mesmo tendo esses três casos no PT, eu acho que no conjunto poderia ter trabalhado melhor.
Folha - A derrota da emenda da reeleição na Câmara contribuiu para a derrota do mínimo?
João Paulo - Não. A facilidade [de o governo aprovar projetos] na Câmara dos Deputados antes da reeleição continuou depois da emenda da reeleição, não mudou nada. As dificuldades que existiam no Senado antes da reeleição continuaram depois da emenda da reeleição. O que eu acho é que o governo precisa definir quem são seus aliados prioritários no Senado, assim como os tem definidos na Câmara.
Folha - Qual a sua sugestão?
João Paulo - As pessoas do governo evidentemente saberão escolher os seus aliados. Eu sei escolher os meus aliados.
Folha - O PMDB é um partido confiável?
João Paulo - Na Câmara, nós tivemos 39 votos do PMDB a favor do governo, 32 contra e sete abstenções. No Senado foi 16 a 6. É preciso destacar que tem muita gente boa no PMDB e que pode ajudar muito o governo. No Senado e na Câmara.
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