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20/06/2004
-
07h31
RAQUEL ULHÔA
da Folha de S.Paulo, em Brasília
A derrota do governo na votação do mínimo não pode ser atribuída apenas à disputa entre os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política) ou à deslealdade do PMDB, maior partido aliado. O placar refletiu a profunda inabilidade do PT e do governo Lula em lidar com a base e com a oposição.
Vários senadores não votaram apenas a favor de um salário mínimo maior, mas principalmente contra o tratamento recebido do Planalto e do PT, especialmente nas bases eleitorais. Lula não tem conseguido manter apoios estratégicos, como o do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), ligados a Dirceu.
O primeiro ressente-se da falta de apoio na votação da emenda da reeleição na Casa, e ACM se queixa de mais verbas para a Bahia. Os senadores ligados a ambos ajudaram a derrotar o governo, num aviso ao Planalto de que o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), não constrói maioria sozinho. Renan quer suceder Sarney.
O Senado tem peculiaridades que exigem dos governos relacionamento diferente do mantido com a Câmara. Muitos são ex-governadores e ex-ministros. Há um ex-presidente da República e um ex-vice. Cada um se considera uma instituição, com independência em relação a orientações partidárias. Todos querem verbas para os Estados, mas querem principalmente manifestações de prestígio: ser recebidos em audiências e, no caso de aliados, ser consultados antes de decisões e de envio de propostas ao Congresso.
Ramez Tebet (PMDB-MS) há muito manifesta indignação com ataques do governador do seu Estado, Zeca do PT, ao PMDB e à sua filha Simone, candidata em Três Lagoas. Votou pelos R$ 275.
Senadores da base reclamam da atitude "autoritária" do PT e do Planalto, que exigem voto e apoio incondicional, sem negociação.
Flávio Arns (PT-PR) votou pelos R$ 275. Teve grande decepção no início de 2003, quando Lula vetou projeto --aprovado por unanimidade-- que incluía as instituições sem fins lucrativos para crianças portadoras de necessidades especiais, como as Apaes, entre os beneficiários do Fundef. O governo prometeu compensações, mas não o fez.
Eduardo Siqueira Campos (TO), segundo-vice-presidente do Senado, foi convidado para ir à China. Só recebeu convite na véspera, orientado a providenciar a passagem de volta, já que Lula seguiria ao México. Diante do episódio, senadores lembravam que, na gestão FHC, convites chegavam com antecedência, providências eram tomadas.
Senadores lembram também que FHC telefonava a senadores, convidava-os para conversas no Alvorada. Agora, até governistas têm dificuldades. O senador Fernando Bezerra (PTB-RN), líder do governo no Congresso, teve sua primeira audiência particular com Lula nas vésperas da votação do mínimo. Alertou para as dificuldades e aconselhou adiamento. Não foi ouvido.
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da Folha de S.Paulo, em Brasília
A derrota do governo na votação do mínimo não pode ser atribuída apenas à disputa entre os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política) ou à deslealdade do PMDB, maior partido aliado. O placar refletiu a profunda inabilidade do PT e do governo Lula em lidar com a base e com a oposição.
Vários senadores não votaram apenas a favor de um salário mínimo maior, mas principalmente contra o tratamento recebido do Planalto e do PT, especialmente nas bases eleitorais. Lula não tem conseguido manter apoios estratégicos, como o do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), ligados a Dirceu.
O primeiro ressente-se da falta de apoio na votação da emenda da reeleição na Casa, e ACM se queixa de mais verbas para a Bahia. Os senadores ligados a ambos ajudaram a derrotar o governo, num aviso ao Planalto de que o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), não constrói maioria sozinho. Renan quer suceder Sarney.
O Senado tem peculiaridades que exigem dos governos relacionamento diferente do mantido com a Câmara. Muitos são ex-governadores e ex-ministros. Há um ex-presidente da República e um ex-vice. Cada um se considera uma instituição, com independência em relação a orientações partidárias. Todos querem verbas para os Estados, mas querem principalmente manifestações de prestígio: ser recebidos em audiências e, no caso de aliados, ser consultados antes de decisões e de envio de propostas ao Congresso.
Ramez Tebet (PMDB-MS) há muito manifesta indignação com ataques do governador do seu Estado, Zeca do PT, ao PMDB e à sua filha Simone, candidata em Três Lagoas. Votou pelos R$ 275.
Senadores da base reclamam da atitude "autoritária" do PT e do Planalto, que exigem voto e apoio incondicional, sem negociação.
Flávio Arns (PT-PR) votou pelos R$ 275. Teve grande decepção no início de 2003, quando Lula vetou projeto --aprovado por unanimidade-- que incluía as instituições sem fins lucrativos para crianças portadoras de necessidades especiais, como as Apaes, entre os beneficiários do Fundef. O governo prometeu compensações, mas não o fez.
Eduardo Siqueira Campos (TO), segundo-vice-presidente do Senado, foi convidado para ir à China. Só recebeu convite na véspera, orientado a providenciar a passagem de volta, já que Lula seguiria ao México. Diante do episódio, senadores lembravam que, na gestão FHC, convites chegavam com antecedência, providências eram tomadas.
Senadores lembram também que FHC telefonava a senadores, convidava-os para conversas no Alvorada. Agora, até governistas têm dificuldades. O senador Fernando Bezerra (PTB-RN), líder do governo no Congresso, teve sua primeira audiência particular com Lula nas vésperas da votação do mínimo. Alertou para as dificuldades e aconselhou adiamento. Não foi ouvido.
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