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04/11/2004
-
12h09
SÉRGIO RIPARDO
da Folha Online
Ao assumir o Ministério da Defesa na próxima segunda-feira, no lugar de José Viegas, que pediu demissão, o vice-presidente José Alencar terá como desafio resolver o imbróglio que envolve a escolha do novo caça supersônico da FAB (Força Aérea Brasileira), um projeto de pelo menos US$ 700 milhões que está parado desde março e precisa ser acelerado, pois os atuais aviões --os velhos Mirage-- estão prestes a caducar.
No mês passado, antes de se noticiar a demissão de Viegas, Alencar visitou a Rússia, acompanhado de uma missão empresarial, e tratou da questão com o Kremlin. Ficou acertado que o presidente russo, Vladimir Putin, visitará o Brasil no final deste mês. Há no mercado a expectativa de que o Planalto tome a decisão sobre os caças e aproveite a visita de Putin para fazer o anúncio oficial.
Em sua visita a Moscou, Alencar chegou a elogiar a proposta dos russos: "Do ponto de vista técnico, a Rússia tem condições de fornecer estes aviões ao Brasil."
Mas o vice-presidente deixou claro que a Rússia terá de oferecer alguma contrapartida para levar o contrato bilionário (R$ 2 bilhões). Um jornal russo chegou a noticiar que a Rússia poderia comprar 50 jatos da Embraer, em um acordo de US$ 1,5 bilhão que seria fechado neste mês.
Essa seria um prêmio de consolo para a Embraer, que participa da licitação. A empresa de São José dos Campos (SP), que tem 20% de capital europeu (majoritariamente francês), ofereceu o caça Mirage-2000, da francesa Dassault. Logo que saiu a notícia da troca de jatos, a Embraer se apressou para negar o negócio. Se fizesse o contrário, a Embraer estaria admitindo antes do tempo a suposta derrota na disputa para fornecer os caças da FAB.
A busca por uma decisão sobre o novo caça vem do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que chegou a sinalizar que tomaria a decisão em dezembro de 2002, mas acabou deixando o veredicto para seu sucessor. Ao assumir, Lula suspendeu o chamado projeto F-X alegando que o combate à fome era prioritário, uma jogada para reavaliar as propostas.
A intenção inicial da FAB é "aposentar" até 2005 a frota de Mirage, sediada na base militar de Anápolis (GO) e adotar um modelo temporário até 2007. A concorrência virou uma polêmica política durante a campanha presidencial de 2002. A oposição questionou supostos favorecimentos no processo de licitação.
Outro motivo para o "nó" na escolha do caça é a disputa entre lobistas de alguns concorrentes nos bastidores em meio a um discurso político sobre nacionalismo e a atuação ideal do governo em uma questão estratégica de segurança nacional.
Em março deste ano, o presidente Lula recebeu o relatório elaborado pela comissão especial criada para assessor o CDN (Conselho de Defesa Nacional) no processo de escolha do consórcio que vai construir os novos caças. A expectativa do Ministério da Defesa era de que o consórcio vencedor fosse anunciado em abril após uma reunião do CDN, que acabou sendo adiada.
O relatório da comissão que estudou o caso da venda dos caças que prevê o fornecimento de 12 aparelhos para substituir os atuais Mirage IIIEBR, que estão caducando no fim deste ano. No mesmo dia, o presidente da Embraer, Maurício Botelho, visitou o presidente Lula.
O relatório da comissão que estudou o caso da venda dos caças prevê o fornecimento de 12 aparelhos para substituir os atuais Mirage IIIEBR, que estão caducando.
Circularam versões de que o relatório era favorável aos modelos
Sukhoi Su-35 (Rosoboronexoport/Rússia, em parceria com a brasileira Avibrás) e Gripen, do consórcio anglo-sueco composto pela BAe (British Aerospace, britânica) e pela Saab (sueca). Também foram analisados o Mirage 2000BR (Dassault, França/ Embraer, Brasil), F-16 (Lockheed Martin, EUA) e MiG-29 (RAC, Rússia).
Em agosto de 2002, reportagem da revista "IstoÉ" afirmou que EUA teriam embutido, no empréstimo de US$ 30 bilhões do FMI (Fundo Monetário Internacional), a escolha do Gripen. Boa parte dos sistemas do Gripen é americana, prejudicando os franceses da Dassault e os russos da Sukhoi.
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da Folha Online
Ao assumir o Ministério da Defesa na próxima segunda-feira, no lugar de José Viegas, que pediu demissão, o vice-presidente José Alencar terá como desafio resolver o imbróglio que envolve a escolha do novo caça supersônico da FAB (Força Aérea Brasileira), um projeto de pelo menos US$ 700 milhões que está parado desde março e precisa ser acelerado, pois os atuais aviões --os velhos Mirage-- estão prestes a caducar.
No mês passado, antes de se noticiar a demissão de Viegas, Alencar visitou a Rússia, acompanhado de uma missão empresarial, e tratou da questão com o Kremlin. Ficou acertado que o presidente russo, Vladimir Putin, visitará o Brasil no final deste mês. Há no mercado a expectativa de que o Planalto tome a decisão sobre os caças e aproveite a visita de Putin para fazer o anúncio oficial.
Em sua visita a Moscou, Alencar chegou a elogiar a proposta dos russos: "Do ponto de vista técnico, a Rússia tem condições de fornecer estes aviões ao Brasil."
Ricardo Stuckert/Divulgação |
Do Boeing, Lula observa caça |
Essa seria um prêmio de consolo para a Embraer, que participa da licitação. A empresa de São José dos Campos (SP), que tem 20% de capital europeu (majoritariamente francês), ofereceu o caça Mirage-2000, da francesa Dassault. Logo que saiu a notícia da troca de jatos, a Embraer se apressou para negar o negócio. Se fizesse o contrário, a Embraer estaria admitindo antes do tempo a suposta derrota na disputa para fornecer os caças da FAB.
A busca por uma decisão sobre o novo caça vem do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que chegou a sinalizar que tomaria a decisão em dezembro de 2002, mas acabou deixando o veredicto para seu sucessor. Ao assumir, Lula suspendeu o chamado projeto F-X alegando que o combate à fome era prioritário, uma jogada para reavaliar as propostas.
A intenção inicial da FAB é "aposentar" até 2005 a frota de Mirage, sediada na base militar de Anápolis (GO) e adotar um modelo temporário até 2007. A concorrência virou uma polêmica política durante a campanha presidencial de 2002. A oposição questionou supostos favorecimentos no processo de licitação.
Outro motivo para o "nó" na escolha do caça é a disputa entre lobistas de alguns concorrentes nos bastidores em meio a um discurso político sobre nacionalismo e a atuação ideal do governo em uma questão estratégica de segurança nacional.
Em março deste ano, o presidente Lula recebeu o relatório elaborado pela comissão especial criada para assessor o CDN (Conselho de Defesa Nacional) no processo de escolha do consórcio que vai construir os novos caças. A expectativa do Ministério da Defesa era de que o consórcio vencedor fosse anunciado em abril após uma reunião do CDN, que acabou sendo adiada.
O relatório da comissão que estudou o caso da venda dos caças que prevê o fornecimento de 12 aparelhos para substituir os atuais Mirage IIIEBR, que estão caducando no fim deste ano. No mesmo dia, o presidente da Embraer, Maurício Botelho, visitou o presidente Lula.
O relatório da comissão que estudou o caso da venda dos caças prevê o fornecimento de 12 aparelhos para substituir os atuais Mirage IIIEBR, que estão caducando.
Circularam versões de que o relatório era favorável aos modelos
Sukhoi Su-35 (Rosoboronexoport/Rússia, em parceria com a brasileira Avibrás) e Gripen, do consórcio anglo-sueco composto pela BAe (British Aerospace, britânica) e pela Saab (sueca). Também foram analisados o Mirage 2000BR (Dassault, França/ Embraer, Brasil), F-16 (Lockheed Martin, EUA) e MiG-29 (RAC, Rússia).
Em agosto de 2002, reportagem da revista "IstoÉ" afirmou que EUA teriam embutido, no empréstimo de US$ 30 bilhões do FMI (Fundo Monetário Internacional), a escolha do Gripen. Boa parte dos sistemas do Gripen é americana, prejudicando os franceses da Dassault e os russos da Sukhoi.
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