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10/08/2005
-
02h46
FELIPE NEVES
da Folha Online
Terminou às 2h15, após mais de 14 horas de duração, o depoimento do publicitário Marcos Valério à CPI do "Mensalão". Já no início da madrugada desta quarta-feira, Valério afirmou que aceitaria uma acareação com o deputado Roberto Jefferson (PTB), que foi "usado" pelo PT e que não pretende chantagear o governo federal.
À CPI, Valério disse que Jefferson mente ao afirmar que ele levava malas de dinheiro ao Congresso Nacional. "Nunca trouxe dinheiro em malas". Questionado se aceitaria uma acareação, respondeu que estava à disposição.
Mais cedo, ainda na terça-feira, Valério tentou desqualificar publicamente o petebista. Ele disse que Jefferson "chantageia" e "intimida" as outras pessoas e por isso não tem credibilidade.
Justiça
O publicitário garantiu que vai entrar na Justiça manter os contratos cancelados pelo governo. Segundo ele, os contratos eram legais, amparados pela Lei de Licitações.
Admitindo que a probabilidade de o PT pagar os empréstimos de R$ 55 milhões é muito pequena, Valério disse que se sentiu usado por toda a cúpula do partido. Cúpula esta formada, nas suas próprias palavras, por Delúbio Soares, Marcelo Sereno, José Genoino e José Dirceu. Ele garantiu que vai entrar na Justiça para tentar receber o dinheiro.
Valério afirmou, no entanto, que isso não significa que ele planeja chantagear o governo. Questionado se havia alguma pergunta que ele achava que sua resposta seria importante para as investigações, mas que ainda não tinha sido feita pela comissão, Valério respondeu que queria fazer uma declaração. E falou: "O PT pagando ou não, eu não quero nada do governo".
Duda Mendonça
O publicitário Duda Mendonça recebeu das contas de Valério, ainda em 1998, um total de R$ 4,5 milhões. Segundo relato à CPI, o repasse foi pago por ordem do tesoureiro de campanha do candidato tucano ao governo de Minas Gerais, Eduardo Azeredo.
Os R$ 4,5 milhões pagos a Duda Mendonça fazem parte de um total de R$ 9 milhões emprestados por Marcos Valério ao PSDB e repassados à campanha tucana em Minas. "Outros R$ 1,8 milhões foram distribuídos em 79 saques que eu já detalhei [ver abaixo]. O restante do dinheiro ficou com o senhor Cláudio Mourão, tesoureiro da campanha de Azeredo", disse Valério.
Segundo o publicitário, o empréstimo feito para o PSDB foi exatamente igual aos feitos para repasse de recursos ao PT.
Valério confirmou à CPI que ele, o atual vice-governador de Minas, Clésio Andrade, e o ex-governador de Minas e atual presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo, respondem processo no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a acusação de terem se beneficiado do contrato entre as estatais mineiras Copasa e Comig com a SMPB, em 1998, referente ao patrocínio do Enduro da Independência.
Listas
Valério leu para os parlamentares duas listas de pagamentos feitas pelas suas empresas. A primeira lista contém os nomes das pessoas que sacaram recursos das suas contas em 2003 e 2004.
A lista de 2004 confirma os nomes de Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL, que teria recebido o valor de R$ 10,837 milhões; o publicitário Duda Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes, R$ 15,5 milhões; o ex-líder do PT Paulo Rocha, um total de R$ 920 mil; Márcio Lacerda, secretário-executivo do ministro Ciro Gomes (Integração Nacional), R$ 457 mil (Lacerda pediu afastamento do cargo).
Apesar do nome de Lacerda aparecer na lista, Valério afirmou que ele não recebeu dinheiro e que o nome dele aparece entre os sacadores porque ele fez um "contato telefônico".
Na lista de 1998, constam 79 saques no valor total de R$ 1,805 milhão. Entre os principais sacadores da lista estão: a ex-senadora Junia Marise (1991-1999), do PDT de MG, no total de R$ 200 mil, e Murilo Borges, com um saque no valor de R$ 125 mil. Outro sacador importante é o deputado Romel Anízio (PP-MG), com uma retirada de R$ 100 mil.
Esta lista de 1998 se refere ao empréstimo feito para bancar a campanha tucana ao governo de Minas Gerais. O total do empréstimo feito por Marcos Valério para a campanha é de R$ 9 milhões. Para o PT, o publicitário alega que o valor total do empréstimo é de R$ 55,217 milhões.
Medo
Depois de dizer à CPI que teme pela sua vida e pela sua família, Valério se emocionou ao negar sistematicamente que esteja sofrendo algum tipo de chantagem ou pressão. Ele repetia a mesma resposta a cada pergunta que lhe era feita pelo deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP): "Ninguém está me pressionando, senhor deputado".
Valério disse temer pela sua vida por ter conhecimento da história brasileira e pela proporção que tomou o caso do "mensalão". "É normal sentir medo em virtude das coisas que aconteceram. É normal ter medo da morte depois da proporção que as coisas tomaram."
Festas em Brasília
Valério negou que tenha promovido festas em Brasília para deputados ou para integrantes do PT, conforme denúncia feita nesta segunda-feira por seu ex-sócio, Ricardo Machado, em depoimento à Polícia Federal.
Segundo Machado, sua empresa, a MutiAction, promoveu, a pedido de Valério, duas festas no Hotel Gran Bittar para as quais teriam sido contratadas garotas de programa. Valério desmentiu.
Na sessão, o senador Romeu Tuma (PFL-SP) perguntou se Valério conhecia a "nossa Geane", em uma referência a Geane Mary Córner, que segundo Machado intermediou a contratação de garotas de programa para as duas festas ocorridas no Gran Bittar. Valério respondeu que não.
O publicitário disse, ainda, que Machado mentiu porque "saiu com mágoa" da empresa. "Já fiquei no Gran Bittar. Não nego as reservas em meu nome, mas não assumo qualquer outra feita. Nunca houve uma festa feita em meu nome", disse.
A primeira festa, segundo Machado, foi realizada em setembro de 2003 e custou R$ 14 mil com hospedagem e mais aproximadamente R$ 8 mil com consumo, o que inclui o pagamento das garotas de programa.
A outra festa, realizada em novembro do mesmo ano, teria custado R$ 15 mil de hospedagem e aproximadamente R$ 10 mil de consumo.
Machado presta depoimento nesta quarta-feira à CPI do "Mensalão".
Com Rose Ane Silveira e Agência Câmara
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da Folha Online
Terminou às 2h15, após mais de 14 horas de duração, o depoimento do publicitário Marcos Valério à CPI do "Mensalão". Já no início da madrugada desta quarta-feira, Valério afirmou que aceitaria uma acareação com o deputado Roberto Jefferson (PTB), que foi "usado" pelo PT e que não pretende chantagear o governo federal.
À CPI, Valério disse que Jefferson mente ao afirmar que ele levava malas de dinheiro ao Congresso Nacional. "Nunca trouxe dinheiro em malas". Questionado se aceitaria uma acareação, respondeu que estava à disposição.
Mais cedo, ainda na terça-feira, Valério tentou desqualificar publicamente o petebista. Ele disse que Jefferson "chantageia" e "intimida" as outras pessoas e por isso não tem credibilidade.
Justiça
O publicitário garantiu que vai entrar na Justiça manter os contratos cancelados pelo governo. Segundo ele, os contratos eram legais, amparados pela Lei de Licitações.
Admitindo que a probabilidade de o PT pagar os empréstimos de R$ 55 milhões é muito pequena, Valério disse que se sentiu usado por toda a cúpula do partido. Cúpula esta formada, nas suas próprias palavras, por Delúbio Soares, Marcelo Sereno, José Genoino e José Dirceu. Ele garantiu que vai entrar na Justiça para tentar receber o dinheiro.
Valério afirmou, no entanto, que isso não significa que ele planeja chantagear o governo. Questionado se havia alguma pergunta que ele achava que sua resposta seria importante para as investigações, mas que ainda não tinha sido feita pela comissão, Valério respondeu que queria fazer uma declaração. E falou: "O PT pagando ou não, eu não quero nada do governo".
Duda Mendonça
O publicitário Duda Mendonça recebeu das contas de Valério, ainda em 1998, um total de R$ 4,5 milhões. Segundo relato à CPI, o repasse foi pago por ordem do tesoureiro de campanha do candidato tucano ao governo de Minas Gerais, Eduardo Azeredo.
Os R$ 4,5 milhões pagos a Duda Mendonça fazem parte de um total de R$ 9 milhões emprestados por Marcos Valério ao PSDB e repassados à campanha tucana em Minas. "Outros R$ 1,8 milhões foram distribuídos em 79 saques que eu já detalhei [ver abaixo]. O restante do dinheiro ficou com o senhor Cláudio Mourão, tesoureiro da campanha de Azeredo", disse Valério.
Segundo o publicitário, o empréstimo feito para o PSDB foi exatamente igual aos feitos para repasse de recursos ao PT.
Valério confirmou à CPI que ele, o atual vice-governador de Minas, Clésio Andrade, e o ex-governador de Minas e atual presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo, respondem processo no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a acusação de terem se beneficiado do contrato entre as estatais mineiras Copasa e Comig com a SMPB, em 1998, referente ao patrocínio do Enduro da Independência.
Listas
Valério leu para os parlamentares duas listas de pagamentos feitas pelas suas empresas. A primeira lista contém os nomes das pessoas que sacaram recursos das suas contas em 2003 e 2004.
A lista de 2004 confirma os nomes de Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL, que teria recebido o valor de R$ 10,837 milhões; o publicitário Duda Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes, R$ 15,5 milhões; o ex-líder do PT Paulo Rocha, um total de R$ 920 mil; Márcio Lacerda, secretário-executivo do ministro Ciro Gomes (Integração Nacional), R$ 457 mil (Lacerda pediu afastamento do cargo).
Apesar do nome de Lacerda aparecer na lista, Valério afirmou que ele não recebeu dinheiro e que o nome dele aparece entre os sacadores porque ele fez um "contato telefônico".
Na lista de 1998, constam 79 saques no valor total de R$ 1,805 milhão. Entre os principais sacadores da lista estão: a ex-senadora Junia Marise (1991-1999), do PDT de MG, no total de R$ 200 mil, e Murilo Borges, com um saque no valor de R$ 125 mil. Outro sacador importante é o deputado Romel Anízio (PP-MG), com uma retirada de R$ 100 mil.
Esta lista de 1998 se refere ao empréstimo feito para bancar a campanha tucana ao governo de Minas Gerais. O total do empréstimo feito por Marcos Valério para a campanha é de R$ 9 milhões. Para o PT, o publicitário alega que o valor total do empréstimo é de R$ 55,217 milhões.
Medo
Depois de dizer à CPI que teme pela sua vida e pela sua família, Valério se emocionou ao negar sistematicamente que esteja sofrendo algum tipo de chantagem ou pressão. Ele repetia a mesma resposta a cada pergunta que lhe era feita pelo deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP): "Ninguém está me pressionando, senhor deputado".
Valério disse temer pela sua vida por ter conhecimento da história brasileira e pela proporção que tomou o caso do "mensalão". "É normal sentir medo em virtude das coisas que aconteceram. É normal ter medo da morte depois da proporção que as coisas tomaram."
Festas em Brasília
Valério negou que tenha promovido festas em Brasília para deputados ou para integrantes do PT, conforme denúncia feita nesta segunda-feira por seu ex-sócio, Ricardo Machado, em depoimento à Polícia Federal.
Segundo Machado, sua empresa, a MutiAction, promoveu, a pedido de Valério, duas festas no Hotel Gran Bittar para as quais teriam sido contratadas garotas de programa. Valério desmentiu.
Na sessão, o senador Romeu Tuma (PFL-SP) perguntou se Valério conhecia a "nossa Geane", em uma referência a Geane Mary Córner, que segundo Machado intermediou a contratação de garotas de programa para as duas festas ocorridas no Gran Bittar. Valério respondeu que não.
O publicitário disse, ainda, que Machado mentiu porque "saiu com mágoa" da empresa. "Já fiquei no Gran Bittar. Não nego as reservas em meu nome, mas não assumo qualquer outra feita. Nunca houve uma festa feita em meu nome", disse.
A primeira festa, segundo Machado, foi realizada em setembro de 2003 e custou R$ 14 mil com hospedagem e mais aproximadamente R$ 8 mil com consumo, o que inclui o pagamento das garotas de programa.
A outra festa, realizada em novembro do mesmo ano, teria custado R$ 15 mil de hospedagem e aproximadamente R$ 10 mil de consumo.
Machado presta depoimento nesta quarta-feira à CPI do "Mensalão".
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