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02/05/2006
-
18h53
CAMILA MARQUES
da Folha Online
O psicanalista e professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Rubem Alves, 72, também escritor e especialista em educação, transformou a segunda sabatina de 2006 da Folha, realizada no Shopping Higienópolis, em São Paulo, em um livro de contos.
Entre uma pergunta e outra, Alves parava, pensava alguns segundos e emendava: "Uma vez...". Assim, a série foi permeada por histórias da neta Mariana, da professora do primário, de sua estrada como professor e das viagens que faz pelo Brasil.
O principal tema abordado na sabatina desta terça foi a educação e a formação infantil. Ele respondeu a perguntas feitas pela platéia e por quatro entrevistadores: o colunista e membro do conselho editorial do jornal Gilberto Dimenstein, o repórter da Folha Antônio Gois, a repórter especial da Folha Laura Capriglione e Oscar Pilagallo, colaborador da Folha e editor da revista "EntreLivros".
"A escola é muito chata porque ela está nas mãos dos burocratas. A burocracia não está ligada com a vida. Os burocratas são os maiores hereges", continua Rubem Alves. "As escolas são chatas porque não levam em consideração as crianças, eles [burocratas] estão preocupados com administração. E as crianças são fascinantes, elas fazem perguntas incríveis, brilhantes. Temos que prestar atenção nelas", afirma Rubem Alves.
Alves disse que, para ele, o erro das escolas é ensinar coisas que os alunos nunca vão usar e, mais que isso, estão longe da realidade de vida deles. 'As crianças de uma favela de São Paulo não podem aprender as mesmas coisas que os alunos da Amazônia', diz, ressaltando que há coisas básicas e instrumentais, como a tabuada e a matemática, que devem ser as mesmas.
Indagado sobre qual a função da escola hoje, em um mundo competitivo, Alves hesitou na resposta. Afirmou que a maior função é dar cidadania, permitir a interação entre as pessoas. Para ele, é fundamental que os professores se interessem mais pelos alunos, e não se preocupem apenas em "dar a matéria". "Mas como fazer isso?", perguntou um entrevistado. "É difícil", disse Alves.
Ele também falou a respeito da integração entre as escolas e o terceiro setor, como as ONGs. "Tudo depende da diretora. Ela tem a chave. Se ela acha que educação é dar matéria, está perdido. Se ela acha que deve haver integração, tudo bem. Dá mais trabalho, mas é o caminho".
Vestibular
Durante a sabatina, em que comentou métodos alternativos de educação, como a Escola da Ponte (método desenvolvido em Portugal que não trabalha com classes e professores, mas com turmas de discussão), Alves defendeu a extinção do vestibular, o principal método de seleção usado hoje no Brasil por universidades.
Rubem Alves explicou sua posição descrevendo a teoria da caixa de ferramentas, desenvolvida por ele. 'É uma excelente idéia', disse arrancando risos da platéia. 'Mas é mesmo, o que posso fazer?', brincou.
Segundo a teoria, todo mundo carrega na mão direita uma caixa de ferramentas, ensinamentos usados no dia-a-dia efetivamente. 'Se eu for um marceneiro, não preciso carregar um soldador. Não tenho porque levar peso desnecessariamente. É isso o que faz o vestibular. Cobra coisas absurdas que um aluno nunca vai usar', diz.
Sobre a questão da cotas, Alves se posiciona contrariamente. "Acho que em vez de integrar as pessoas, função principal da educação e das escolas, as cotas vão começar a gerar raiva. Daqui um pouco vão querer cotas para chinês, gays, mulheres. Não gosto da idéia."
Psicanálise
Depois de brincar que ninguém perguntava de seus livros e trabalhos anteriores, Rubem Alves explicou o motivo de ter abandonado a psicanálise. Ele deu dois motivos: porque cansava e porque começava a imaginar crônicas sobre as histórias contadas pelos pacientes. "Aí tive que parar. Era antiético", brincou.
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O psicanalista e professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Rubem Alves, 72, também escritor e especialista em educação, transformou a segunda sabatina de 2006 da Folha, realizada no Shopping Higienópolis, em São Paulo, em um livro de contos.
Entre uma pergunta e outra, Alves parava, pensava alguns segundos e emendava: "Uma vez...". Assim, a série foi permeada por histórias da neta Mariana, da professora do primário, de sua estrada como professor e das viagens que faz pelo Brasil.
Divulgação |
Rubem Alves, 72, foi o segundo convidado de 2006 |
"A escola é muito chata porque ela está nas mãos dos burocratas. A burocracia não está ligada com a vida. Os burocratas são os maiores hereges", continua Rubem Alves. "As escolas são chatas porque não levam em consideração as crianças, eles [burocratas] estão preocupados com administração. E as crianças são fascinantes, elas fazem perguntas incríveis, brilhantes. Temos que prestar atenção nelas", afirma Rubem Alves.
Alves disse que, para ele, o erro das escolas é ensinar coisas que os alunos nunca vão usar e, mais que isso, estão longe da realidade de vida deles. 'As crianças de uma favela de São Paulo não podem aprender as mesmas coisas que os alunos da Amazônia', diz, ressaltando que há coisas básicas e instrumentais, como a tabuada e a matemática, que devem ser as mesmas.
Indagado sobre qual a função da escola hoje, em um mundo competitivo, Alves hesitou na resposta. Afirmou que a maior função é dar cidadania, permitir a interação entre as pessoas. Para ele, é fundamental que os professores se interessem mais pelos alunos, e não se preocupem apenas em "dar a matéria". "Mas como fazer isso?", perguntou um entrevistado. "É difícil", disse Alves.
Ele também falou a respeito da integração entre as escolas e o terceiro setor, como as ONGs. "Tudo depende da diretora. Ela tem a chave. Se ela acha que educação é dar matéria, está perdido. Se ela acha que deve haver integração, tudo bem. Dá mais trabalho, mas é o caminho".
Vestibular
Durante a sabatina, em que comentou métodos alternativos de educação, como a Escola da Ponte (método desenvolvido em Portugal que não trabalha com classes e professores, mas com turmas de discussão), Alves defendeu a extinção do vestibular, o principal método de seleção usado hoje no Brasil por universidades.
Rubem Alves explicou sua posição descrevendo a teoria da caixa de ferramentas, desenvolvida por ele. 'É uma excelente idéia', disse arrancando risos da platéia. 'Mas é mesmo, o que posso fazer?', brincou.
Segundo a teoria, todo mundo carrega na mão direita uma caixa de ferramentas, ensinamentos usados no dia-a-dia efetivamente. 'Se eu for um marceneiro, não preciso carregar um soldador. Não tenho porque levar peso desnecessariamente. É isso o que faz o vestibular. Cobra coisas absurdas que um aluno nunca vai usar', diz.
Sobre a questão da cotas, Alves se posiciona contrariamente. "Acho que em vez de integrar as pessoas, função principal da educação e das escolas, as cotas vão começar a gerar raiva. Daqui um pouco vão querer cotas para chinês, gays, mulheres. Não gosto da idéia."
Psicanálise
Depois de brincar que ninguém perguntava de seus livros e trabalhos anteriores, Rubem Alves explicou o motivo de ter abandonado a psicanálise. Ele deu dois motivos: porque cansava e porque começava a imaginar crônicas sobre as histórias contadas pelos pacientes. "Aí tive que parar. Era antiético", brincou.
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