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17/03/2004
-
08h00
OTAVIO DURÃO
especial para a Folha de S.Paulo
Após quase sete meses do acidente que vitimou 21 engenheiros e técnicos, o relatório sobre o acidente com o VLS-1 foi finalmente divulgado. Não é um prazo excessivo, considerando que ele é profundo e o primeiro com essa abrangência.
A comissão responsável realizou um bom trabalho com o material de que dispunha. Ela se tornou mais representativa com a inclusão de membros externos da comunidade científica e das famílias das vítimas. A metodologia de dividi-la em quatro subcomissões (material/sistema, meteorologia, fatores humanos e operação) também a fez mais efetiva.
Seus resultados e conclusões são um alerta. Até a falta de alguns resultados e conclusões, que se poderia esperar, também o é. O fato de não se poder concluir o que gerou a ignição do detonador de um propulsor do primeiro estágio do foguete, após um trabalho tão minucioso, é revelador.
Revela a insegurança que cerca o projeto do VLS como um todo e também a falta de controle, dados e informações, e reforça as conclusões de falta de organização. Tais conclusões --principalmente nos fatores operacionais e humanos-- podem surpreender quem não está familiarizado com a condução do programa, mas não quem convive com ele.
O que aconteceu em Alcântara foi conseqüência de problemas que persistem há vários anos. Não foi um problema somente localizado e datado, mas sim uma evidência trágica de problemas maiores e anteriores.
O que iniciou indevidamente a ignição do primeiro estágio do VLS-1 foi gerado durante anos pela falta de planejamento, de objetivos claros e definidos e de uma centralização do processo de decisão no programa. Essas indefinições se manifestam em orçamentos sempre insuficientes, contingenciamentos e incertezas, e na fuga de pessoal qualificado.
Um relatório como esse não tem valia se não tiver conseqüências. Ele abre, e de fato até recomenda implicitamente, a oportunidade para as modificações que são necessárias na condução do programa --explicitando e reforçando seus objetivos, sejam eles científicos ou de aplicações, civis ou militares, e criando uma estrutura hierárquica que seja de fato, e não somente de direito, responsável por sua condução e passível de cobranças pela sociedade.
Otavio Durão, 55, é doutor em engenharia pela Penn State University (EUA) e engenheiro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desde 1986
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especial para a Folha de S.Paulo
Após quase sete meses do acidente que vitimou 21 engenheiros e técnicos, o relatório sobre o acidente com o VLS-1 foi finalmente divulgado. Não é um prazo excessivo, considerando que ele é profundo e o primeiro com essa abrangência.
A comissão responsável realizou um bom trabalho com o material de que dispunha. Ela se tornou mais representativa com a inclusão de membros externos da comunidade científica e das famílias das vítimas. A metodologia de dividi-la em quatro subcomissões (material/sistema, meteorologia, fatores humanos e operação) também a fez mais efetiva.
Seus resultados e conclusões são um alerta. Até a falta de alguns resultados e conclusões, que se poderia esperar, também o é. O fato de não se poder concluir o que gerou a ignição do detonador de um propulsor do primeiro estágio do foguete, após um trabalho tão minucioso, é revelador.
Revela a insegurança que cerca o projeto do VLS como um todo e também a falta de controle, dados e informações, e reforça as conclusões de falta de organização. Tais conclusões --principalmente nos fatores operacionais e humanos-- podem surpreender quem não está familiarizado com a condução do programa, mas não quem convive com ele.
O que aconteceu em Alcântara foi conseqüência de problemas que persistem há vários anos. Não foi um problema somente localizado e datado, mas sim uma evidência trágica de problemas maiores e anteriores.
O que iniciou indevidamente a ignição do primeiro estágio do VLS-1 foi gerado durante anos pela falta de planejamento, de objetivos claros e definidos e de uma centralização do processo de decisão no programa. Essas indefinições se manifestam em orçamentos sempre insuficientes, contingenciamentos e incertezas, e na fuga de pessoal qualificado.
Um relatório como esse não tem valia se não tiver conseqüências. Ele abre, e de fato até recomenda implicitamente, a oportunidade para as modificações que são necessárias na condução do programa --explicitando e reforçando seus objetivos, sejam eles científicos ou de aplicações, civis ou militares, e criando uma estrutura hierárquica que seja de fato, e não somente de direito, responsável por sua condução e passível de cobranças pela sociedade.
Otavio Durão, 55, é doutor em engenharia pela Penn State University (EUA) e engenheiro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desde 1986
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