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28/12/2001 - 20h00

2002: Próximo ano será o do clone humano?

GIOVANA GIRARDI
editora de Ciência e Educação da Folha Online

O ano de 2002 mal terá começado e a comunidade científica poderá estar fervilhando. É que está previsto para janeiro ou fevereiro a produção do primeiro clone humano. A promessa foi feita pelo italiano Severino Antinori e pelo cipriota radicado nos EUA Panos Zavos, dois médicos que planejam clonar um ser humano com fins reprodutivos - para ajudar casais inférteis a ter filhos, segundo eles.

Os polêmicos pesquisadores apareceram em março deste ano anunciando a novidade para o final de 2001. Em outubro eles adiaram o acontecimento para janeiro próximo. A maior dificuldade era encontrar um país para realizar a pesquisa, já que praticamente nenhum permite a clonagem humana.

Mas no dia 25 de novembro os dois foram surpreendidos pela empresa norte-americana ACT (Advanced Cell Technology), que anunciou a clonagem do primeiro embrião humano. A companhia afirmou que seu objetivo era produzir o clone com fins terapêuticos, ou seja, para produzir células-tronco - células indiferenciadas, capazes de se transformar nos vários órgãos do corpo humano.

Por essa razão, os embriões clonados podem, em tese, fornecer material para regenerar tecidos com problemas em órgãos como o fígado, o pâncreas ou a medula óssea, sem problemas de rejeição - afinal, eles têm exatamente a mesma sequência de DNA do paciente.

Uma das grandes promessas do uso terapêutico dessas células é substituir células defeituosas em diabéticos, curando a doença. Ou regenerar a medula óssea de indivíduos portadores de leucemia.

Mas o experimento, além de causar críticas de cientistas, religiosos e políticos, não se mostrou muito próspero. Os pesquisadores obtiveram um embrião com apenas seis células, que morreu logo em seguida. Para produzir as células-tronco é necessário desenvolver o embrião até o estágio de blastocisto, com algumas centenas de células.

A repercussão do caso foi bastante negativa. Vários países, além do Vaticano, se posicionaram contra a clonagem humana e proibiram as pesquisas em seus países. No campo científico, pesquisadores questionaram a descoberta. Os cientistas que clonaram a ovelha Dolly, por exemplo, afirmaram que o feito da ACT não tinha valor, já que parou num estágio inicial. E Antinori não perdeu tempo, declarando que a empresa roubou o seu projeto.

A principal ressalva feita ao experimento é compartilhada por cientistas, religiosos e governos de todo o mundo. O medo é que os pesquisadores não parem no estágio de coleta de células-tronco e implantem o embrião em um útero, para dar origem a um ser humano.

Os exemplos de clonagens de outros animais mostram que até ser obtida uma cópia sem defeitos, nascem verdadeiras aberrações. Uma pesquisadora da ACT publicou na "New Scientist", antes de ser incorporada à equipe, que clones de macacos eram "loja de horrores", levando a crer que a experiência com primatas é ainda mais difícil.

Já a geneticista Lygia da Veiga Pereira, que pesquisa células-tronco na USP (Universidade de São Paulo), afirmou, em entrevista à Folha, que, "na melhor das hipóteses, a tentativa de clonar um humano levaria a um aborto". No mínimo podemos dizer que a pesquisa jamais será fácil, simples e perfeita como tenta mostrar a novela da Globo.

Mas depois do anúncio feito pela companhia norte-americana, Antinori e Zavos engrossaram o discurso e prometeram um clone no ano que vem, que seria feito no Reino Unido, país que proíbe a clonagem humana com fins reprodutivos. Eles dizem que têm tomado todos os cuidados para evitar tais defeitos. Só resta esperar.

Espaço e turismo

2001 não foi o ano da "Odisséia no Espaço", longe disso, aliás. Não chegamos a Marte, mas pelo menos dois fatos marcaram a exploração espacial.

Em março, depois de 15 anos em órbita a estação espacial russa Mir (projetada inicialmente para ficar três anos no espaço) foi afundada no sul do oceano Pacífico.

A decisão do governo russo foi tomada em cima de questões técnicas -a estação vinha apresentando uma série de problemas- e também econômicas -os investimentos para o setor espacial foram transferidos para a construção da ISS (Estação Espacial Internacional).

Agora todos os esforços estão voltados para a nova estação, que só deve ficar pronta em 2006, mas parte da ISS já está em órbita e algumas pesquisas começaram a ser feitas.

Mas se neste ano os avanços não foram tão grandes, uma novidade deve dar frutos: o turismo espacial.

No dia 30 de abril, após intensas negociações entre a agência espacial russa e a Nasa, o norte-americano Dennis Tito, 60, o primeiro turista espacial, chegou à ISS para passar seis dias no espaço. Tito pagou cerca de US$ 20 mil à Rosviakosmos (agência espacial russa) para poder fazer a viagem, que, segundo ele, era o seu sonho.

A experiência provocou atritos entre a Nasa e a agência russa. Para os americanos a ISS não era lugar para amadores e eles resistiram até o último momento em liberar a ida de Tito. Para 2002 já está programada a viagem do segundo turista espacial, o magnata sul-africano Mark Shuttleworth.

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