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27/03/2005 - 13h00

Família brasileira vive drama do marido de Terri Schiavo

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ANDRÉ CARAMANTE
do Agora

Ao falar sobre o drama que vive desde dezembro de 1999 ao lado dos dois filhos, uma moça de 20 anos e um menino de 12, Milena Bonato Mascaro, 40 anos, é incisiva e se apresenta como defensora da eutanásia para o marido, Giovanino Mascaro, 50 anos, que vive em estado de vegetativo --atestado por uma junta de quatro médicos-- desde os 45.

No fim de 1999, apenas três meses após passar a morar com a família em uma confortável casa no Parque Espacial, em São Bernardo do Campo (ABC), Giovanino sofreu um enfarte na empresa onde trabalhava como consultor técnico e, segundo os médicos que o atenderam, sofreu diversas paradas cardíacas que, juntas, fizeram o seu coração ficar parado por quase 20 minutos.

Depois do enfarte, responsável por graves danos em seu cérebro, Giovanino ficou quatro meses internado em uma UTI, onde só respirava com a ajuda de aparelhos.

Sempre que tentavam retirá-lo da respiração artificial, seu coração parava. Foram necessários mais três meses de hospital para Giovanino voltar para casa, onde permaneceu mais de um ano sendo cuidado por duas enfermeiras e um fisioterapeuta.

Após esse período, Milena, que cuida da família com o dinheiro ganho com a fabricação e venda de cortinas, resolveu transferir o marido para uma clínica na cidade de Santo André (ABC). Todos os meses, a internação de Giovanino custa R$ 1.500, parte deles custeados com a aposentadoria por invalidez.

Com a recente polêmica criada em torno do caso da americana Terri Schiavo, 41 anos, cujo marido, Michael, entrou na Justiça e obteve ganho de causa para que os aparelhos que a mantém viva há 15 anos fossem desligados, Milena resolveu tornar seu drama pessoal público e criar um debate em torno da eutanásia no Brasil.

"Por um só instante, gostaria que as pessoas que me criticam por ser a favor da eutanásia para o meu marido, por valores religiosos ou legais, se colocassem no meu lugar e no lugar dos meus filhos. Qual é o sentido de manter uma pessoa viva como o meu marido está hoje?", argumenta.

"Não tenho nem mais condições de manter a casa onde vivo, pois as economias deixadas por meu marido acabaram. Ao falar do meu caso, gostaria de que algo fosse feito para que o país olhasse melhor para as famílias de quem vive essa situação. Nem mesmo o dinheiro do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) dele, acumulado ao longo de anos de trabalho, eu posso sacar para usar no tratamento", continua.

Milena também diz que os traumas causados nos filhos por causa da atual situação do marido são vários. "É justo obrigá-los a passar um Domingo de Páscoa ao lado dele [Giovanino] lá na clínica, mesmo ele não conseguindo distinguir uma pessoa de uma porta? E o que eu digo para o meu filho quando ele me fala que os amiguinhos foram ao estádio ver um jogo de futebol com o pai?", diz.

Premonição ou não, em 1998, ao acompanhar as notícias sobre o ator Gerson Brenner --que foi baleado por ladrões na rodovia Ayrton Senna e ficou meses em uma cam-- Giovanino disse à mulher que, caso algum dia ele ficasse em situação parecida, gostaria de que ela fizesse algo para abreviar seu sofrimento.

Sem saída

Especialista em direito criminal, o advogado José Luís de Oliveira Lima não vê brecha na legislação brasileira atual para que se obtenha sucesso em uma ação judicial pela eutanásia.

"Hoje, não é permitido, é considerado homicídio. Se alguém entrasse com ação na Justiça nesse sentido, dificilmente teria êxito." Lima já participou de debates sobre o tema, mas reconhece as dificuldades na aprovação de uma mudança na lei.

"No mundo inteiro, não é uma questão pacífica. Há lobby contra da Igreja e de outras instituições", diz o criminalista.

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