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09/03/2006 - 18h09

Confira a íntegra do bate-papo com Sergio Costa

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da Folha Online

Confira abaixo a íntegra do bate-papo com o jornalista Sergio Costa, coordenador da Sucursal do Rio da Folha. O texto abaixo reproduz a forma como os participantes escreveram.

Bem-vindo ao Bate-papo com Convidados do UOL. Converse agora com o jornalista Sergio Costa sobre a ocupação pelo Exército dos morros e favelas do Rio. Para enviar sua pergunta, selecione o nome do convidado no menu de participantes. É o primeiro da lista.

(05:00:09) Sergio: Boa tarde a todos

(05:00:57) jane fala para Sergio: Oi Sergio, boa tarde. Onde você acha que vai parar esta loucura no RJ?

(05:02:57) Sergio: Jane, se essa loucura a que você se refere é a violência, acredito que só no dia em que deixarem interesses políticos e outros mais sórdidos de lado para enfrentar o tremendo problema social deste país, que se radicaliza no Rio

(05:03:09) Célia fala para Sergio: Sérgio,boa tarde! O que se espera como resultado dessa operação? Ela pode ter um final negativo?

(05:05:04) Sergio: Celia, acho que o Exército se meteu numa enrascada. Embora boa parte da classe média esteja aplaudindo a visão de tropas na rua, a missão militar é bem definida. Recuperar armas roubadas. se recuperarem, voltam aos quartéis. se não, estarão com sérios problemas de imagem, para ser bem educado

(05:05:10) GaBi fala para Sergio: Sergio, você é a favor da ocupação de morros e favelas pelo Exército?

(05:06:48) Sergio: Não, Gabi. De maneira alguma. Exército não é polícia, é máquina de guerra, treinada para matar. Favela precisa da presença do estado: luz, esgoto, água, educação, asfalto, registro de imóveis, emprego, não necesariamente nesta ordem

(05:06:54) Debatedor pergunta para Sergio: Meu caro Sergio, me parece que a questao da ocupação do exercito se trata de medida ilegal e inconstitucional. Contudo, pensando pragmaticamente, talvez seja interessante submeter o crime organizado do Rio de Janeiro, uma das maiores vergonhas do país a uma estratégia real de guerra. Enfim, diante desse impasse, digamos, pragmático, como você avalia a situação?

(05:10:11) Sergio: Primeiro, não há ocupação do Exército. Talvez haja uma ação desproporcional considerando seu objetivo. Depois, não há uma estratégia de guerra para combate ao crime organizado. se houvesse, o resultado seria sangrento. Ou vc imagina que basta apontar um canhão para o morro da Mangueira e os traficantes ali encastelados vão depor suas armas? Claro que não. Acho até que os traficantes querem um confronto. Seria a senha para descer e protestar no asfalto, dividindo a opinião pública depois da morte de inocentes.

(05:10:17) ARTHUR fala para Sergio: SERGIO BOA TARDE VC ACREDITA QUE UM DIA ESSES "BANDIDOS" NAO VAO TER MAIS ARMAS PARA COMPRAR

(05:12:38) Sergio: Caro Arthur, mesmo no crime vale um princípio básico da economia. Oferta e procura. Haverá sempre um fabricante, um mercado negro, um mau policial ou mau militar para abastecer o crime de armas. A não ser que acreditemos num mundo "Imagine" de John Lennon com países em paz e sem conflitos. Pegamos o subproduto da in´dústria da guerra

(05:12:58) Célia fala para Sergio: e qto a legalidade dessa ação? Isso não interfere na vida das pessoas de bem que vivem nos morros?

(05:14:42) Sergio: Celia, claro que interfere. Os mais pobres, principalmente, acabam sempre sofrendo mais com este tipo de ação. São os mais revistados, os que mais são impedidos de exercer o direito de ir e vir.

(05:16:14) GaBi fala para Sergio: Sérgio, para você, até onde vai a responsabilidade de prefeitura, governo e União sobre a violência no Rio?

(05:19:09) Sergio: Gabi, acho que é uma responsabilidade muito grande. E não é só pelas disputas políticas e pela inépcia ao tratar da questão da segurança e da questão social, mas também por não ter mecanismos que contenham a ação de maus policiais. A promiscuidade entre polícia e crime é muito grande no Rio. Um alimenta o outro e quem paga por isso somos nós.

(05:19:33) rafael henrique fala para Sergio: essa postura de colocar execito com tanque,armamento pesado,ou seja tudo isso não é um exagero

(05:22:19) Sergio: Rafael, é um exagero total. Acho que eles querem dar uma demonstração de força depois do roubo das armas no quartel na última sexta-feira. Se quisessem recuperar as armas, procuravam as pessoas certas na polícia e logo, logo elas apareciam. Quando a polícia quer, não encontra logo o Bem-Te-Vi, o Beija-Flor, o Gangan, o "chefão" do tráfico que for? Aposto que tem gente lá que já sabe onde estão os tais fuzis. O resto é jogo de cena.

(05:23:09) xxx fala para Sergio: Se a corrupção policial é um dos fatores mais relevantes na criminalidade do Rio, como enfrentar esta questão?

(05:24:34) Sergio: Caro triple X, não vejo muito jeito, não, a não ser: 1. trocar todo mundo, começar de novo. 2. depois disso, profissionalizar ao máximo quem trabalha coms egurança. E isso passa por formação e salário digno

(05:24:40) Seu Antonio fala para Sergio: Boa tarde Sérgio. Você acha que essa operação no Rio, se tiver resultados positivos, pode dar à população a falsa ilusão de que o exército é a salvação para os problemas da cidade?

(05:28:04) Sergio: Seu Antonio, basta ler as colunas de cartas dos leitores dos jornais para ter esta percepção. Mas é uma percepção equivocada e discriminatória, excludente de boa parte da população que vive em guetos, favelas, e não é porque quer. Insisto que um dos principais problema da violência no Rio é a corrupção policial. O Exército já tem uma missão constitucional e ela não é policial.

(05:28:22) Perplexo_SP fala para Sergio: Você não acha que estes 9 fusís vieram só dar o pretexto jurídico para o Exército intervir num território abandonado pela Polícia ?

(05:32:24) Sergio: Perplexo, acredito que o problema é um pouco maior do que isso. E o próprio Exército vive um momento conturbado como instituição: dois generais se suicidaram, roubos de quartéis são frequentes, um comandante deu carteirada para conseguir lugar no avião, não sei se há condições objetivas para os militares ocuparem este espaço. Até porque eles foram bem claros: querem os fuzis de volta e pronto. depois vão embora e a gente que se vire sem eles

(05:32:48) newlands fala para Sergio: ola sergio, sou a favor da ocupação e desarmamento definitivos. Só sair quando não tiver mais armamento no morro. Estou iludido??

(05:36:40) Sergio: newlands, temo que sim. que armas o Exército apreendeu até agora? Ainda que fosse esse o objetivo deles, desarmar as quadrilhas, voc~e acha mesmo que isso aconteceria sem um banho de sangue, inclsuive de inocentes? Claro que não. Confrontos com armas militares em becos e vielas de favelas tendem a ser trágicos.

(05:37:12) pepe legal fala para Sergio: O exercito, basicamente, a nao ser que haja guerra, é praticamente uma mao de obra ociosa. Teria como usar melhor o exército pra proteger o povo no dia-a-dia, como por exemplo em fronteiras estaduais, dificultando assim o pagamento de "brindes" pra atravessar a fronteira ?

(05:39:39) Sergio: Pepe, me parece muito mais lógica essa sua idéia. O ideal é que todas as forças trabalhassem integradas: o exército nas fronteiras, a federal no contrabando de armas, a policia civil investigando o crime e a PM na prevenção. Perguntar não ofende, mas eu arrisco: em quanto tempo você acha que os podres militares viriam à tona quando assumissem o um papel, digamos, mais policial?

(05:39:45) 100%exercito fala para Sergio: o que leva um policial ou soldado a ficar a favor dos traficantes e abandonarem seus trabalhos? e porque estamos vendo isso acontecer com tanta frequência poderia ser os baixos salarios?

(05:42:50) Sergio: 100% legal esta pergunta. Lembre-se que policiais, soldados e traficantes muitas e muitas vezes têm a mesma origem, quase sempre muito humilde. Não são raros os que crescem juntos. O que quero dizer é que eles falam a mesma língua, o que facilita uma aproximação quando uma das partes é mais fraca.

(05:43:22) Celze fala para Sergio: e a força nacional de segurança. Onde ela fica neste cenario. Ela não foi posta de lado?

(05:48:09) Sergio: Celze, força nacional de segurança é formada por policiais militares. esta sim teria que intervir em situações excepcionais nas cidades. o que agora não é o caso. Acho que todo mundo anda tão atordoado com a questão da segurança que esquece como essa história começou. O Exército foi humilhado dentro de um de seus quartéis. E reagiu de uma forma exagerada, botando, como se diz, a tropa nas ruas. Mas tudo isso, até agora, só quer dizer o seguinte: "Não mexam com o Exército, ou voces vão sentir o peso da nossa força". Alguém aí viu os militares se mexerem quando 30 pessoas foram mortas na Baixada, ou os bandidos da Rocinha fecharam o túnel e o acesso entre a zona sul e a Barra? Onde estão as tropas militares quando comboiois de traficantes armados cruzam as ruas da zona oeste à noite? Esta briga, ninguém se iluda, é só deles. O resto é uma espécie de "efeito colateral".

(05:48:23) Seu Antonio fala para Sergio: Caro Sergio, aí que não entendo... se o exercito não conseguiria desarmar os morros sem um "banho de sangue", como é que a polícia conseguiria?

(05:50:55) Sergio: com inteligência, investigação, ações pontuais, tolerância zero com corrupção. Como vc acha que aqueles garotos de bermuda e chinelo conseguem AR-15 para ficar de guarda na boca-de-fumo? Há uma linha de investigação que as armas foram roubadas do quartel para repor armamento perdido na guerra da rocinha. O problema é que maus policiais apreendem armas do CV e vendem noutra favela para traficantes do TC. Assim fica difícil

(05:51:19) Tenente fala para Sergio: Boa tarde Sergio. Como bem sabemos, existem muitos "mal elementos" dentro do Exército por causa de seu processo de seleção ser totalmente aberto a toda população. Porém quando esses "marginais" são mandados embora pelo Exército, a justiça obriga aceita-los de volta. O que você pensa disso ?

(05:54:09) Sergio: Continência, Tenente! Infelizmente nossa Justiça tem brecha para tudo. Mas tão grave quanto isso, são jovens treinados peloas Forças Armadas, acabarem não sendo aproveitados pelo estado e cooptados pelo poder paralelo, hoje um "empregador" bastante significativo nas comunidades mais pobres

(05:54:15) Ordem e Progresso fala para Sergio: Sérgio a operação militar realizada pelo Exercito, surtiu efeitos. Você acha que o mesmo sistema de sufocamento constantee da criminalidade não poderia ser realizado pela Policia Militar e Civil.

(05:57:53) Sergio: Ordem e progresso, é uma alternativa a ser considerada. Já foi feita pela PM algumas vezes aqui no Rio. O problema é o cobertor curto. Como cercar todas as favelas, centenas no Rio, e policiais as ruas ao mesmo tempo com a força policial que nós temos? Isso por tempo indeterminado se mostrou inviável. Melhor depurar a polícia e investir na investigação.

(05:58:05) ricardo aroni fala para Sergio: Nao seria um boa hora para se pensar no fim do alistamento obrigatorio ?

(05:59:38) Sergio: Caro Ricardo, acho que sim. Como quase tudo neste país, até o Exército precisa se modernizar, rever processos e, por que não, se profissionalizar totalmente? É uma boa discussão.

(06:00:39) Sergio: Queria agradecer a todos pelas perguntas e pela paciência. espero ter colaborado nessa discussão que está mobilizando muitas gente não só aqui no Rio. Um grande abraço aos internautas.

(06:01:15) Adriana/UOL: O Bate-papo UOL agradece a presença de Sergio Costa e de todos os internautas. Até o próximo!

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