Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
05/04/2006 - 09h17

Policial transexual reclama de preconceito

Publicidade

MAURÍCIO SIMIONATO
da Agência Folha, em Campinas

A investigadora Renata Pereira de Azevedo, 26, afirma ser vítima de discriminação da própria Polícia Civil de São Paulo, onde trabalha desde 2001. Renata, que é transexual e na realidade se chama Renato, denunciou ao Ministério Público e à Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania integrantes da cúpula da polícia por prevaricação, abuso de autoridade e discriminação.

Renata entrou na polícia em 2001 e está afastada do cargo de investigadora em Campinas (SP) desde agosto de 2004 --quase um ano depois de começar a se vestir como mulher e após diagnóstico psiquiátrico de transexualismo. A assessoria da Secretaria da Segurança Pública afirma que a sexualidade não foi o motivo do afastamento da policial).

Desde então, ela colocou prótese nos seios e fez plásticas. Seus planos incluem fazer uma cirurgia de mudança de sexo. Mesmo assim, continuou a trabalhar normalmente e chegou a ser promovida em março de 2004.

O afastamento de Renata, que continua recebendo seu salário de R$ 1.700 ao mês, ocorreu após ela responder a um processo administrativo por falsa comunicação de crime, que tramita sob sigilo. A polícia já pediu que ela seja demitida do cargo.

No processo de Renata contra a polícia, ao qual a Folha teve acesso, ela diz que está sendo perseguida por integrantes da corporação. A Secretaria da Justiça abriu um processo para investigar o caso no mês passado, e o Ministério Público irá apurar a denúncia.

Renata disse não poder conceder entrevista à Folha nem tirar fotografias pelo fato de o caso correr sob sigilo. Atestados médicos que estão no processo confirmam que ela possui "transtorno de gênero".

"Após dezenas de explicações e relatórios médicos sobre o meu caso, fui "tolerada" pelo doutor Miguel Voigth Júnior [delegado seccional de Campinas, na época], até o mesmo conseguir um motivo para me prejudicar administrativa e juridicamente", diz um trecho da denúncia encaminhada à Secretaria da Justiça, ao qual a Folha teve acesso.

Já no processo da Corregedoria da Polícia Civil, ela é acusada de comunicar falsamente a ocorrência de furto de um veículo que havia locado, no dia 15 de agosto de 2004, acusando de autoria seu namorado na época.

Posteriormente, ela alegou à polícia que a comunicação foi um equívoco e tentou retirar a queixa, mas o imbróglio resultou em um processo administrativo e depois em seu afastamento preventivo.

"Ela sofreu menções preconceituosas no processo administrativo, que nada têm a ver com a acusação que fizeram contra ela", disse a mãe, Maria Cecília Azevedo.

Um trecho do processo administrativo aberto na polícia, de 28 de março de 2005, diz que "consta ainda, nos autos, que o acusado vem se portando de forma inadequada ao cargo que exerce, não dignificando a instituição policial civil, eis que tem se apresentado trajado de mulher, alegando sofrer doença identificada como Transtorno de Identidade Sexual - CID 64, estando sob tratamento médico para mudança de sexo".

Um relatório médico de 12 de julho de 2005, assinado pelo psiquiatra Pedro Henrique Mendes Amparo, atesta que: "[Azevedo] é inequivocamente portador de um Transtorno de Gênero - CID X F 64, ou seja, apesar de seus documentos serem de um homem, psicologicamente, fisicamente, este homem não existe, mas uma mulher, aprisionada por registros civis (...)".

Em um ofício do dia 17 de agosto de 2004, no qual a Polícia Civil determina a apreensão de sua arma, consta que a corporação entende "seus problemas e apóia sua busca de solução. Ocorre que, logo após, o mesmo começou a se trajar como mulher, usando brincos, maquiagem etc.".

No mesmo documento, a polícia afirma que Renata "demonstra a inequívoca incapacidade de bem resolver a situação" e determinou a apreensão de sua arma, citando que o objeto estava "em sua bolsa [de mulher]".

Leia mais
  • Secretaria nega discriminação de policial
  • Polícia vistoria complexo Tatuapé da Febem após rebelião
  • PM mata suspeito de chefiar o tráfico no morro do Borel
  • Justiça pára apuração de ação militar no Rio

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre transexuais
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página