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18/07/2006 - 10h08

Julgamento do caso Richthofen entra no 2º dia com expectativa de acareação

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da Folha Online

O julgamento dos três acusados de planejar e matar o casal Manfred e Marísia von Richthofen, em São Paulo, entra no segundo dia, nesta terça-feira. Ontem, a sessão começou com os depoimentos dos réus --os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos e a filha das vítimas, Suzane.

Contradições e acusações mútuas marcaram os interrogatórios. O advogado dos irmãos, Geraldo Jabur, chamou Suzane de mentirosa, após seu interrogatório, e pediu uma acareação entre os três réus. A acareação deverá ser decidida pelo juiz Alberto Anderson Filho, presidente do 1º Tribunal do Júri, no fórum da Barra Funda (zona oeste de São Paulo).

Daniel assumiu ter matado o casal sozinho e isentou o irmão de participação no crime. Em seu depoimento, o rapaz --que namorava Suzane na época do crime-- tentou desmoralizar a família Richthofen. Disse que a filha do casal era agredida e vítima de abuso sexual. Afirmou, ainda, que era de conhecimento de todas as pessoas que conviviam com os dois que Suzane tinha péssima relação com os pais.
André Porto/Folha Imagem
Suzane deixa carceragem do 89 DP, onde passou a noite, e segue para julgamento
Suzane deixa carceragem do 89 DP, onde passou a noite, e segue para julgamento


Suzane, a última a depor, afirmou que foi induzida pelo ex-namorado. A versão segue a estratégia anunciada pela defesa, de coação moral, ou seja, de que ela foi pressionada por Daniel para participar do crime, sob pena de perdê-lo.

Depoimentos

Daniel e Cristian surpreenderam ao mudar a versão do crime apresentada durante o inquérito policial. Inicialmente, os dois afirmavam que cada um havia desferido golpes contra uma das vítimas. Nesta segunda, diante dos jurados, os irmãos sustentaram que apenas Daniel golpeou o casal.

Os relatos dos irmãos apresentaram também uma contradição. Enquanto Daniel disse que Suzane foi à porta do quarto onde os pais acabavam de ser mortos e entregou a ele toalhas, uma jarra de água e sacolas plásticas para cobrir o rosto de Manfred e de Marísia, Cristian, por sua vez, afirma ter descido ao primeiro andar da casa para pegar os objetos com Suzane.

Os desencontros na descrição deste momento do crime apareceram ainda no inquérito policial. O esclarecimento é importante porque, na argumentação do Ministério Público, o fato de Suzane ter se preocupado em ver os corpos dos pais sobre a cama fala bastante sobre a personalidade dela.

Já o interrogatório de Suzane foi marcado por sua tentativa de convencer os jurados sobre seu total desconhecimento do plano --que ela atribui a Daniel e a Cristian-- de matar o casal. Outra característica marcante foram os bate-bocas entre o juiz, Alberto Anderson Filho, o advogado dos Cravinhos Geraldo Jabur, e o advogado de Suzane Mauro Octávio Nacif.

Suzane disse ao júri que Daniel usou o consumo excessivo de maconha --um costume que ela diz ter adquirido com ele-- para conduzi-la nas etapas do crime. Disse ter levado os Cravinhos para a casa sem saber do plano de matar o casal e diz ter apenas obedecido às ordens do então namorado ao entrar para checar se os pais estavam dormindo e ao acender uma luz do corredor, em frente ao quarto.

"Eu desci assustada, sem saber o que estava acontecendo direito. Era uma sensação estranha, um aperto no peito", relatou Suzane.

"Mentirosa"

Os ânimos se exaltaram no final da sessão. Jabur chamou Suzane de "mentirosa" durante o interrogatório e pediu uma acareação entre os três réus.

Jabur também reclamou das supostas regalias concedidas a Suzane durante sua fala, como posicioná-la de frente para os jurados, para que eles mantivessem contato visual; e ouvi-la depois dos dois irmãos. Os advogados de Suzane ainda puderam rejeitar as três primeiras pessoas sorteadas para integrar o júri.

O jeito autoritário e debochado de Nacif irritou a defesa dos Cravinhos e arrancou risos do juiz e da platéia.

Virgindade

De acordo com Suzane, ela perdeu a virgindade com Daniel, no dia do aniversário dele, na casa dos Cravinhos. "Ele saiu do banho de toalha e sem nada daquilo que eu imaginava, sem nada do que eu sempre sonhei. Naquele dia, eu perdi minha virgindade com ele."

Quando foi interrogado, Daniel afirmou que Suzane havia perdido a virgindade com o namorado anterior. De acordo com o depoimento de Daniel, no primeiro ano de namoro, Suzane chegou a chorar antes de os dois transarem pela primeira vez. Na ocasião, ela teria admitido a ele que chorava por causa das lembranças do ex. "Ficou uma situação muito constrangedora pra mim", disse Daniel.

O debate sobre a perda da virgindade de Suzane é importante porque sustenta a principal tese da defesa dela: a de que Daniel a convenceu a matar os pais pelo poder irresistível que exercia sobre ela, desde a perda da virgindade. Essa influência seria potencializada pelo uso de drogas.

Expectativa

O júri do caso Richthofen é considerado o mais esperado do ano em São Paulo.

Em junho, a sessão foi adiada depois que os advogados de Suzane abandonaram o plenário, antes da instauração do júri, em protesto contra a decisão do juiz que presidia a sessão, Alberto Anderson Filho, de ignorar a ausência de uma testemunha da defesa e prosseguir com os trabalhos.

Já os advogados dos irmãos Cravinhos sequer compareceram ao tribunal. Eles alegaram cerceamento da defesa, pois não haviam conseguido encontrar-se com os clientes na semana anterior à data.

Para a Promotoria, os três cometeram o crime para ficar com o patrimônio da família Richthofen. A acusação deve pedir penas idênticas para os réus, que podem chegar a 50 anos. No Brasil, o condenado fica preso por, no máximo, 30 anos.

Crime

Manfred e Marísia foram assassinados com golpes de barra de ferro em 30 de outubro de 2002, enquanto dormiam. Atualmente, a casa da família está coberta de pichações de ataque aos assassinos.

Suzane e os irmãos Cravinhos foram denunciados (acusados formalmente) por duplo homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima; e fraude processual, por terem alterado a cena do crime.

Colaboraram GABRIELA MANZINI e TATHIANA BARBAR, da Folha Online e LÍVIA MARRA, editora de Cotidiano da Folha Online

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