Chinaglia diz que embaixador deve explicar casos de brasileiros barrados na Espanha

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), confirmou nesta segunda-feira o convite para que o embaixador da Espanha no Brasil, Ricardo Peidró, compareça à Comissão de Relações Exteriores da Casa para prestar esclarecimentos sobre os incidentes envolvendo brasileiros barrados ao tentarem entrar em Madri. Todos os dias, mais de dez brasileiros são impedidos de entrar no país e são mantidos nos aeroportos, à espera da repatriação.

"É uma atitude de se buscar esclarecimentos. Temos o dever de defender os brasileiros. Países como Brasil e Espanha, que tentam transformar parcerias estratégicas, não poderão colocar isso em prática se não houver respeito entre os cidadãos", afirmou Chinaglia. O embaixador deve comparecer amanhã na Comissão.

Chinaglia defende que o Ministério das Relações Exteriores adote a diplomacia para contornar a crise. "Eu acho que o Itamaraty tem que atuar no limite da legalidade. Não se trata de fazer onda de enfrentamento."

Ele atribuiu à disputa eleitoral da Espanha os recentes incidentes envolvendo brasileiros que foram barrados pela imigração do país. O deputado considerou legítimo que a Espanha estabeleça rigor no controle sobre os estrangeiros que chegam ao país, mas criticou o formato imposto pela polícia espanhola aos brasileiros retidos em Madri.

"Eu acho que essa onda de expulsão [dos brasileiros] atendeu ao mercado de disputa interna espanhol. Jogaram para os brasileiros a responsabilidade de problemas internos deles. Pode ser que haja circunstâncias de legalidade, mas manter pessoas presas, sem água ou telefone, é um abuso inaceitável", disse.

Na opinião de Chinaglia, a postura adotada pela polícia de Madri lembra "a Espanha que invadia e destruía culturas" na época do descobrimento da América. "Se houve oportunismo eleitoral, foi ruim. Mas é menos ruim que a visão arcaica de que os países sejam isolados entre as diferentes regiões", afirmou.

Na sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também associou a proibição da entrada de brasileiros na Espanha ao processo eleitoral daquele país. "Eu acho que muito disso está ligado ao tema eleitoral, e normalmente os partidos conservadores tem quase uma vontade de proibir que os pobres de outros países adentrem seus países", disse Lula.

O PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) --do atual chefe de governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero-- saiu vitorioso nas eleições espanholas neste domingo. Chinaglia disse acreditar que, pela tradição socialista, a Espanha se mantenha receptiva a visitantes de outros continentes. "Até provem o contrário, os partidos socialistas tendem a ter visão mais humanista da sociedade."