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23/08/2004 - 03h05

Medo faz morador de rua dormir de dia

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da Folha de S.Paulo

O flanelinha Marcelo Sanches, 32, passou toda a noite de ontem em claro. Tinha medo de adormecer e ser mais uma vítima dos ataques a moradores de rua. Apenas quando o dia amanheceu ele teve coragem de cochilar um pouco.

Assim como ele, vários moradores de rua ouvidos pela Folha no centro estão apavorados com os ataques da última semana.

"Eu estou desesperado por estar nessa situação. Na rua eu passo fome, agora também passo sono. Dependo dos albergues e não encontro auxílio. Para proteger a gente, só Deus", disse Sanches. Segundo o flanelinha, há dias que ele procura uma vaga nos albergues da cidade, sem sucesso.

Para se sentir um pouco mais seguro, João Victor dos Santos, 22, que costumava dormir sozinho na rua, reuniu cerca de dez amigos para dormir numa praça próxima ao parque D. Pedro (centro). "Eu conhecia o Pantera [Ivanildo Amaro da Silva, morto na última quinta-feira]. Quando vi o cadáver dele, não acreditei. No mesmo dia, procurei o pessoal para a gente fazer essa união. Um dos meus amigos até tem um cachorro", disse Santos.

"Só sei de uma coisa: se algum de nós ficar sozinho, não tem defesa", afirmou Rosimeire Ferreira Matias, 34, que integrava o grupo do parque D. Pedro, acompanhada do marido.

Para eles, a possibilidade de os crimes serem decorrentes de brigas entre os próprios moradores de rua não faz sentido. "Existem brigas, mas um dá um murro no outro e tudo fica resolvido. Não dá para imaginar um grupo de moradores de rua andando pela cidade para matar um aqui, outro ali. Isso parece coisa de skinhead, de grupos preconceituosos", afirma Sanches.

No meio de toda a tensão, o comportamento da moradora de rua Shirlei Soares de Moraes, 54, é uma exceção. Ela dormiu de anteontem para ontem na rua Barão de Iguape (centro). Ao lado dela, dormia outra mulher, que foi atacada e morreu. Moraes disse que não viu nem ouviu nada. "Por incrível que pareça, eu realmente não sei o que aconteceu."

À tarde, ela continuava deitada perto do local, apesar dos apelos de amigos para que fosse dormir em um albergue ou perto de um posto policial. "Eu já vi tanta coisa nessa vida que não tenho medo de nada. Antes de dormir, eu me benzo. Mas ir para perto de polícia é bobagem. Não muda nada."

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