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 Dia 04.04.02

     

 

Caro Dimenstein,

Concordo plenamente que a fase de 0 aos 3 anos é fundamental no desenvolvimento de todo indivíduo. Sempre lidei com crianças pequenas e conheço bem a sede de aprender e assimilar tudo que está à volta delas nesta fase. Já foi provado que os estímulos nesta faixa etária têm um papel fundamental no formação das conexões cerebrais. Contudo, é um erro pensar que a forma mais correta de proporcionar estímulos seria através de creches ou de qualquer estrutura de ensino formal.

Muitas vezes, estes estabelecimentos são fatores de redução dos estímulos que a criança teria em seu dia-a-dia. Por lidarem com um número em geral excessivo de crianças e com profissionais muitas vezes pouco preparados para a função, como seu artigo apontou, expõem as crianças a condições impróprias de cuidados, higiene e psicológicas.

Muitas com certeza, estariam melhor em suas casas, mesmo que sob o cuidado de uma irmã mais velha ou de uma vizinha, mas onde fossem livres para engatinhar, brincar na terra, explorar texturas, cores e sons... Fico assustada ao pensar quanto de verba seria empenhada na construção de creches, sua estruturação e manutenção. Quanta burocracia surgiria para implantá-las e administrá-las, os gastos com concursos e nomeações, licitações... Sabemos dos problemas de nosso país...

O mais importante para crianças de 0 a 3 anos seria conviver em um ambiente familiar sadio, inseridas em uma comunidade que abriga brincadeiras expontâneas e manifestações populares, em ambientes que, mesmo simples e pobres, sejam limpos e livres de esgosto e lixo.

Sem falar que, mesmo em creches bem estruturadas, causa-me calafrios ver a pressa com que impõem atividades inadequadas de 'pré-alfabetização' às crianças e mães que se orgulham de filhos que já lêem aos quatro/cinco anos de idade...mas muito provavelmente, lêem mas não entendem. O respeito ao ritmo de cada criança tem sido esquecido e todas passam por uma 'pasteurização' cada vez maior, através das estruturas de ensino formal. Nas camadas mais privilegiadas de nossa sociedade, enfrentam 'vestibulinhos' para ingressar no primeiro ano do ensino fundamental...

Mobilizar-se por creches pode não ser o melhor caminho. Eu me engajaria em formas de conscientizar todas as camadas da população da importância desta fase da vida. Tornar as pessoas de todas as classes, cada vez mais conscientes de como os bebês absorvem tudo que está a sua volta e quanto mais ricas as experiências que lhes proporcionarmos, mais eles se desenvolverão. Incentivar as famílias que tiverem condições de manter suas crianças em casa, sob bons cuidados e estímulos afetivos e sensoriais, que o façam.

Um primeiro passo: seria desligar a televisão (presente até mesmo nos humildes barracos) e trocá-la por boas músicas, a preencher os ambientes da casa e os ouvidos dos pequeninos. Dançar com eles, conversar, fazer cócegas. Estar ao lado deles com corpo e mente presentes. Envolvê-los nas atividades domésticas, como deixar que empilhem panelas e potinhos, enquanto se está cozinhando. Ensiná-los a notar cada detalhe visual de onde estão, observar o céu, pequenos insetos, cores, sombras. Deixá-los ter contato com animais, mesmo que gatos ou cachorros sem raça, e com crianças de diferentes faixas etárias. O dia-a-dia de uma casa é um ambiente muito estimulante, se o bebê não for confinado a um berço, carrinho ou 'chiqueirinho' em demasia.

Os bebês estão atentos e não é preciso tirá-los de suas casas para que suas fases evolutivas se desenrolem a contento. Um objetivo maior é tornar estas casas ambientes adequados para abrigá-los e isto, talvez possa ser mais facilmente alcançado com programas como os agentes de saúde, que visitam comunidades periodicamente. Estes agentes, além dos cuidados físicos, podem ser treinados para passarem conceitos de como estimular os bebês nos diferentes aspectos necessários. Podem detectar situações restritivas (como bebês mantidos imobilizados por cueiros...) ou estressantes (como bebês expostos a ruídos altos constantes) e orientar. Podem até distribuir para as famílias pequenos kits explicativos e com brinquedos educacionais de baixo custo, financiados por iniciativa privada.

Haverá casos em que uma creche, com certeza, será a melhor solução para a evolução de um pequenino, mas não é necessário esperar vagas para todos em uma creche. Podemos nos mobilizar por iniciativas mais fáceis e ágeis de serem implantadas e esta mensagem, que se tornou tão extensa (desculpe! não era minha intenção) é, simplesmente, para semear esta idéia junto a uma pessoa de tamanha influência como você.

Neuza de Faria Árbocz

 

 
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