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exposição
02/09/2004
Objetos de arte resgatam e valorizam matéria-prima de Itaparica

O bordado da almofada, feito pela nativa Ana Maria Silva, 20 anos, recria a paisagem reconfortante da Ilha de Itaparica. Os pontos do bordado ela aprendeu com a artista plástica sul-africana Célia de Villiers, a técnica de fuxico (que virou o sol na almofada) lhe foi ensinada pela artista baiana Viga Gordilho.

O trabalho de Ana, junto com outras peças decorativas, adereços e trajes elaborados por cinco artistas, 21 artesãs e um artesão, compõe o acervo da exposição denominada TeCido do Corpo Social, que abre hoje, às 18 horas, no Museu do Traje e do Têxtil do Instituto Feminino da Bahia.

A exposição, aberta à visitação pública até o dia 18, guarda características atípicas. Todas as peças são compostas com matéria-prima garimpada em Itaparica. Tem algas e corais desidratados, contas e conchas do mar, fibras de coqueiro. Das plantas urucum e açafrão foram retirados os pigmentos para colorir objetos em vermelho, laranja e amarelo. A idéia é resgatar e valorizar a matéria-prima da Ilha, transformada pelo grupo em objetos de arte e utilitários.

TeCido do Corpo Social é resultado de um prêmio internacional patrocinado pela fundação americana Sacatar, que seleciona projetos de arte que tenham relação com comunidades locais. O projeto concorreu com 430 propostas do mundo todo e foi selecionado este ano pela Fundação Sacatar (nome da província, na Califórnia, onde funciona a matriz). Como a sede na Bahia fica em Itaparica, as artesãs da Ilha foram as escolhidas para participar do projeto.

Múltiplos Siginificados
O diálogo entre artesãos e artistas rendeu bons frutos na Ilha. Durante um mês, em oficinas realizadas duas vezes por semana, 22 nativos conviveram com as artistas plásticas Viga Gordilho (Brasil), Gema Hoyas Frontera (Espanha), Célia de Villiers (África do Sul) e Sophie Lecomte (França), hospedadas na Fundação Sacatar, uma antiga casa de veraneio de Henriqueta Catharino, idealizadora e fundadora do Instituto Feminino. Também participante do projeto, a artista espanhola Maribel Domenech não pôde vir ao Brasil mas enviou seu trabalho.

Sexta-feira passada, estavam sendo dados os últimos retoques nas peças antes do início da exposição. Objetos, os mais variados, com múltiplos significados, como o vestido longo branco, todo feito em fuxico, com enorme cauda inacabada. A peça batizada como Silêncio Fuxiqueiro traz pequenos fones que transmitem histórias das artesãs da Ilha, numa idéia materializada por Viga Gordilho.

A sul-africana Célia encontrou enterrada na areia da praia parte de uma antiga máquina de costura enferrujada e com conchas incrustadas. “Resgatei a peça como obra de arte da natureza para a exposição”, avisa. É dela também a concepção de um manto sagrado e da bolsa muti bag que traz a memória africana nas folhas, nos tecidos e até em peles de bichos.

Gema Hoyas Frontera trouxe de Valencia, na Espanha, o acessório chamado de bastidor, utilizado em bordados. Em panos esticados por esses bastidores, ela imprime as palmas das mãos dos artesãos. Em outro pedaço de tecido, cada nativo bordou o seu nome. “Nós, os artistas, temos nomes. Os artesãos, não. Quis enfatizar isso neste trabalho”, diz, esmiuçando o conceito da sua obra.

Resgatar auto- estima
A francesa Sophie Lecomte trabalha com o tema Metamorfoses do Tempo. Mostra um conjunto de porta-espelhos e de caixas espelhadas de pó compacto, vazias, que compõem o seu trabalho: “Você se olha no espelho. A imagem que vê não vai voltar”, diz. Sophie também recobriu uma bota com espinhos de rosa.

Os bordados e os fuxicos moveram as mãos hábeis de artesãs como Gildete, Maria, Lucimar (Lu para os íntimos), Lourdes, Lúcia e Hilda. Único homem do grupo, Fernando César de Miranda, 36 anos, aprendeu a bordar. “Nunca peguei numa agulha e já aprendi o ponto-de-cruz, o corrente e o dente-de-cão”, diz, sorridente. O nativo Fernando e suas 21 companheiras artesãs não só aderiram à arte do bordado mas começam a entender o significado de resgatar a auto-estima.


JEANE BORGES
do jornal A Tarde, de Salvador-BA

 
 
 

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