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30/11/2005
-
09h35
JANAINA LAGE
da Folha Online, no Rio
A economia brasileira teve retração de 1,2% no terceiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, segundo dados divulgados hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Trata-se da maior queda em dois anos e meio --no primeiro trimestre de 2003, caiu 1,3%.
O comportamento da economia ficou bem abaixo das expectativas dos analistas ouvidos pela Folha Online, que previam cenários de uma leve alta de 0,1% até uma queda de 0,5%.
Segundo reportagem publicada hoje pela Folha de S.Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem, quando já tinha conhecimento de que o PIB seria pior que o esperado, que ministros defendessem hoje a política econômica para não fragilizar o ministro Antonio Palocci (Fazenda) em um momento em que ele já vem sofrendo desgaste.
Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, houve expansão de 1% no PIB (Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos no país). No acumulados dos nove primeiros meses de 2005, a alta é de 2,6%.
O resultado mais fraco do ano já era previsto desde o primeiro semestre. Juros em alta, taxa de câmbio desfavorável aos exportadores e concentração dos efeitos da crise política do governo Lula foram alguns dos fatores citados por economistas para justificar a expectativa por um resultado inferior ao dos demais trimestres do ano. Sob a ótica da produção, o fraco desempenho do PIB foi motivado pelo comportamento da indústria e da agropecuária. Sob a ótica da demanda, os investimentos contribuíram para a taxa negativa.
'Tivemos uma surpresa no terceiro trimestre com a forte queda da confiança do consumidor intensificada pela crise política, o que levou a uma estabilidade das vendas no comércio e a uma redução da produção industrial', afirmou Guilherme Maia, da consultoria Tendências.
A expectativa por um desempenho mais fraco ganhou fôlego após a divulgação dos resultados da indústria, que foi o motor do crescimento da economia no segundo trimestre, quando houve expansão do PIB de 1,1%.
A produção industrial apresentou o pior desempenho do ano no terceiro trimestre. Segundo dados do IBGE, houve queda de 2,1% em julho, alta de 0,9% em agosto e queda de 2% em setembro. Embora existam diferenças entre a medição do comportamento da indústria na produção industrial e no PIB, os resultados já indicavam que a expansão do segundo trimestre não se repetiria.
A percepção de que a economia não deverá atingir o patamar de crescimento de 3,4% no ano --essa é a previsão do Banco Central-- levou analistas a revisarem para baixo suas projeções. Segundo o boletim Focus, organizado pelo Banco Central, a previsão média de crescimento de mais de cem instituições financeiras alcança 3%.
Segundo cálculos do IBGE, para alcançar um patamar de crescimento de 3% no ano, a economia brasileira precisa crescer 4,3% no último trimestre na comparação com igual período do ano passado. Um crescimento mais modesto, da ordem de 2,8% no ano, seria atingido com uma expansão do PIB no quarto trimestre de 3,5% em relação a igual período de 2004.
De acordo com os dados do PIB, a indústria brasileira teve queda de 1,2% no terceiro trimestre, após registrar expansão de 1,4% no segundo trimestre. A análise sob a ótica da produção mostra ainda que a agropecuária registrou queda de 3,4% e os serviços tiveram resultado estável.
A agropecuária foi afetada pela queda de 2,6% na safra de laranja, pelo recuo de 11% na safra de trigo e de 11,8% na safra de café. Segundo a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, o único produto que tem safra no terceiro trimestre com desempenho positivo foi a cana-de-açúcar. Além disso, a pecuária apresentou desempenho favorável e ainda não foi afetada nas contas nacionais pelo problema da aftosa.
Investimentos
Depois de um ensaio de recuperação no segundo trimestre, os investimentos voltaram a cair no período julho-setembro, com uma retração de 0,9%, contra alta de 4,7% no segundo trimestre. Segundo o IBGE, a queda foi motivada pelo recuo em máquinas e equipamentos e na construção civil, responsável por cerca de 60% dos investimentos.
Segundo analistas, as incertezas no cenário político em Brasília também afetaram a disposição do empresariado para realizar novos investimentos. 'Parte das decisões de investimento deixou de ser tomada durante a crise política', afirma Jason Vieira, economista da GRC Visão.
O IBGE destaca o aumento dos juros como um dos principais entraves à expansão dos investimentos e a base alta de comparação. No ano passado, o ápice do crescimento dos investimentos foi observado no terceiro trimestre, quando em comparação com igual período de 2003 houve expansão de 19,3%.
Para a economista do BES, Sandra Utsumi, as pesquisas qualitativas de confiança do empresariado no terceiro trimestre já sinalizavam uma expectativa menos otimista quanto ao futuro, o que contribuiu para desacelerar o nível de produção e o consumo de bens de capital (máquinas e equipamentos). 'Esse conjunto de fatores afetou o nível de investimento e trouxe como conseqüência um menor ritmo de produtividade', disse.
A percepção de que a crise política afetou o investimento não é unânime.
Segundo Estevão Kopschitz, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, a coincidência entre o fraco desempenho e o período de crise cria a 'tentação' de associar os dois eventos. 'Se de um lado existe uma coincidência temporal, de outro, crises políticas tendem a afetar primeiro os mercados financeiros e somente depois, a produção, mas dólar e Bolsa não foram afetados', disse.
Consumo das famílias
A análise do PIB sob a ótica da demanda mostra que o consumo das famílias se manteve em alta no terceiro trimestre, com uma taxa de 0,8%. Analistas destacam a expansão do crédito como um dos aspectos positivos do período julho-setembro.
O setor externo continuou a representar um papel importante no desempenho da economia, apesar da taxa de câmbio ser considerada desfavorável para quem vende seus produtos no exterior. O ritmo de crescimento, no entanto, perdeu fôlego. As exportações cresceram 1,8%, ante uma variação positiva de 2,6% no trimestre anterior. As importações cresceram 1,4%, contra uma expansão de 1,9% no período abril-junho.
O consumo do governo teve queda de 0,4% no terceiro trimestre, após uma alta de 0,9% no segundo trimestre.
Quarto trimestre
Apesar do cenário desfavorável para a economia brasileira no terceiro trimestre, há uma expectativa generalizada de recuperação da economia no quarto trimestre. Esse movimento, no entanto, deve ficar restrito aos meses de novembro e dezembro. Dados antecedentes da indústria em outubro como a produção de automóveis, o consumo de energia, entre outros indicadores, já sinalizam um resultado fraco.
Segundo Kopschitz, o desempenho pode ser auxiliado pela expansão do crédito, pela pequena melhora nos salários reais e pela Selic em queda, mas destaca que o desempenho da indústria terá um papel fundamental na retomada do crescimento. 'Se de um lado há uma análise difundida de que o quarto trimestre será melhor, reforçada pelos dados de crédito, de outro os dados já disponíveis para a indústria são negativos', disse.
'Renda, crédito, retomada da confiança, vendas no comércio e juros em queda vão sustentar a recuperação no quarto trimestre', afirmou Maia. Apesar da perspectiva de recuperação, a Tendências aposta em crescimento de 2,8% no ano, abaixo do patamar previsto pelo Banco Central, de 3,4%.
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da Folha Online, no Rio
A economia brasileira teve retração de 1,2% no terceiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, segundo dados divulgados hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Trata-se da maior queda em dois anos e meio --no primeiro trimestre de 2003, caiu 1,3%.
O comportamento da economia ficou bem abaixo das expectativas dos analistas ouvidos pela Folha Online, que previam cenários de uma leve alta de 0,1% até uma queda de 0,5%.
Segundo reportagem publicada hoje pela Folha de S.Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem, quando já tinha conhecimento de que o PIB seria pior que o esperado, que ministros defendessem hoje a política econômica para não fragilizar o ministro Antonio Palocci (Fazenda) em um momento em que ele já vem sofrendo desgaste.
Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, houve expansão de 1% no PIB (Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos no país). No acumulados dos nove primeiros meses de 2005, a alta é de 2,6%.
O resultado mais fraco do ano já era previsto desde o primeiro semestre. Juros em alta, taxa de câmbio desfavorável aos exportadores e concentração dos efeitos da crise política do governo Lula foram alguns dos fatores citados por economistas para justificar a expectativa por um resultado inferior ao dos demais trimestres do ano. Sob a ótica da produção, o fraco desempenho do PIB foi motivado pelo comportamento da indústria e da agropecuária. Sob a ótica da demanda, os investimentos contribuíram para a taxa negativa.
'Tivemos uma surpresa no terceiro trimestre com a forte queda da confiança do consumidor intensificada pela crise política, o que levou a uma estabilidade das vendas no comércio e a uma redução da produção industrial', afirmou Guilherme Maia, da consultoria Tendências.
A expectativa por um desempenho mais fraco ganhou fôlego após a divulgação dos resultados da indústria, que foi o motor do crescimento da economia no segundo trimestre, quando houve expansão do PIB de 1,1%.
A produção industrial apresentou o pior desempenho do ano no terceiro trimestre. Segundo dados do IBGE, houve queda de 2,1% em julho, alta de 0,9% em agosto e queda de 2% em setembro. Embora existam diferenças entre a medição do comportamento da indústria na produção industrial e no PIB, os resultados já indicavam que a expansão do segundo trimestre não se repetiria.
A percepção de que a economia não deverá atingir o patamar de crescimento de 3,4% no ano --essa é a previsão do Banco Central-- levou analistas a revisarem para baixo suas projeções. Segundo o boletim Focus, organizado pelo Banco Central, a previsão média de crescimento de mais de cem instituições financeiras alcança 3%.
Segundo cálculos do IBGE, para alcançar um patamar de crescimento de 3% no ano, a economia brasileira precisa crescer 4,3% no último trimestre na comparação com igual período do ano passado. Um crescimento mais modesto, da ordem de 2,8% no ano, seria atingido com uma expansão do PIB no quarto trimestre de 3,5% em relação a igual período de 2004.
De acordo com os dados do PIB, a indústria brasileira teve queda de 1,2% no terceiro trimestre, após registrar expansão de 1,4% no segundo trimestre. A análise sob a ótica da produção mostra ainda que a agropecuária registrou queda de 3,4% e os serviços tiveram resultado estável.
A agropecuária foi afetada pela queda de 2,6% na safra de laranja, pelo recuo de 11% na safra de trigo e de 11,8% na safra de café. Segundo a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, o único produto que tem safra no terceiro trimestre com desempenho positivo foi a cana-de-açúcar. Além disso, a pecuária apresentou desempenho favorável e ainda não foi afetada nas contas nacionais pelo problema da aftosa.
Investimentos
Depois de um ensaio de recuperação no segundo trimestre, os investimentos voltaram a cair no período julho-setembro, com uma retração de 0,9%, contra alta de 4,7% no segundo trimestre. Segundo o IBGE, a queda foi motivada pelo recuo em máquinas e equipamentos e na construção civil, responsável por cerca de 60% dos investimentos.
Segundo analistas, as incertezas no cenário político em Brasília também afetaram a disposição do empresariado para realizar novos investimentos. 'Parte das decisões de investimento deixou de ser tomada durante a crise política', afirma Jason Vieira, economista da GRC Visão.
O IBGE destaca o aumento dos juros como um dos principais entraves à expansão dos investimentos e a base alta de comparação. No ano passado, o ápice do crescimento dos investimentos foi observado no terceiro trimestre, quando em comparação com igual período de 2003 houve expansão de 19,3%.
Para a economista do BES, Sandra Utsumi, as pesquisas qualitativas de confiança do empresariado no terceiro trimestre já sinalizavam uma expectativa menos otimista quanto ao futuro, o que contribuiu para desacelerar o nível de produção e o consumo de bens de capital (máquinas e equipamentos). 'Esse conjunto de fatores afetou o nível de investimento e trouxe como conseqüência um menor ritmo de produtividade', disse.
A percepção de que a crise política afetou o investimento não é unânime.
Segundo Estevão Kopschitz, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, a coincidência entre o fraco desempenho e o período de crise cria a 'tentação' de associar os dois eventos. 'Se de um lado existe uma coincidência temporal, de outro, crises políticas tendem a afetar primeiro os mercados financeiros e somente depois, a produção, mas dólar e Bolsa não foram afetados', disse.
Consumo das famílias
A análise do PIB sob a ótica da demanda mostra que o consumo das famílias se manteve em alta no terceiro trimestre, com uma taxa de 0,8%. Analistas destacam a expansão do crédito como um dos aspectos positivos do período julho-setembro.
O setor externo continuou a representar um papel importante no desempenho da economia, apesar da taxa de câmbio ser considerada desfavorável para quem vende seus produtos no exterior. O ritmo de crescimento, no entanto, perdeu fôlego. As exportações cresceram 1,8%, ante uma variação positiva de 2,6% no trimestre anterior. As importações cresceram 1,4%, contra uma expansão de 1,9% no período abril-junho.
O consumo do governo teve queda de 0,4% no terceiro trimestre, após uma alta de 0,9% no segundo trimestre.
Quarto trimestre
Apesar do cenário desfavorável para a economia brasileira no terceiro trimestre, há uma expectativa generalizada de recuperação da economia no quarto trimestre. Esse movimento, no entanto, deve ficar restrito aos meses de novembro e dezembro. Dados antecedentes da indústria em outubro como a produção de automóveis, o consumo de energia, entre outros indicadores, já sinalizam um resultado fraco.
Segundo Kopschitz, o desempenho pode ser auxiliado pela expansão do crédito, pela pequena melhora nos salários reais e pela Selic em queda, mas destaca que o desempenho da indústria terá um papel fundamental na retomada do crescimento. 'Se de um lado há uma análise difundida de que o quarto trimestre será melhor, reforçada pelos dados de crédito, de outro os dados já disponíveis para a indústria são negativos', disse.
'Renda, crédito, retomada da confiança, vendas no comércio e juros em queda vão sustentar a recuperação no quarto trimestre', afirmou Maia. Apesar da perspectiva de recuperação, a Tendências aposta em crescimento de 2,8% no ano, abaixo do patamar previsto pelo Banco Central, de 3,4%.
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