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04/05/2006 - 10h08

Brasil vê "jogo duplo" de Chávez sobre gás

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CLÓVIS ROSSI
da Folha de S.Paulo

O governo brasileiro, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou seus assessores mais próximos, pretende reclamar hoje ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, do que considera "jogo duplo" deste, ao propor um megaprojeto de integração regional (o gasoduto de Puerto Ordaz ao rio da Prata), ao mesmo tempo em que estimula a nacionalização do gás boliviano, em prejuízo do Brasil.

A queixa será apresentada em Puerto Iguazu, a cidade argentina na tríplice fronteira Brasil/Argentina/Paraguai, na qual se reúnem, além de Chávez e Lula, também o argentino Néstor Kirchner e o boliviano Evo Morales. Aliás, pelo que a Folha ouviu no governo brasileiro, um dos efeitos colaterais da reunião será justamente tentar enquadrar Chávez. Ou seja, avisá-lo de que tem limites seu "jogo duplo", conforme o vê o governo Lula.

É claro que o principal objetivo do encontro será discutir a crise criada pela decisão de Morales de nacionalizar o gás.

O Palácio do Planalto, mesmo sem dispor de nenhuma informação concreta, faz a suposição natural de que a ação de Evo Morales, no dia 1º, foi discutida e, eventualmente, decidida em Havana, durante o encontro com Chávez e o anfitrião Fidel Castro, 24 horas antes. Chávez disse a Lula que tentou ligar para o brasileiro de Havana mas não conseguiu por causa das dificuldades telefônicas do país comunista.

O Brasil reclama também da dubiedade inicial de Chávez, ao vender o projeto do megagasoduto como uma espécie de substituição do gasoduto Brasil/Bolívia, o que depois ficou claro que não era. Tanto que a Bolívia foi convidada depois para o projeto.

Algo mais antiga é a reclamação sobre a presença de Chávez em reunião dos presidentes do Paraguai e do Uruguai, na qual o venezuelano somou-se às queixas sobre o tratamento dado pelos dois grandes do Mercosul (Argentina e Brasil) aos dois pequenos.

Chávez e Lula já haviam tido um entrevero pessoal durante a cúpula da Comunidade Sul-Americana das Nações, no fim do ano, no Peru. Lula, na reunião a portas fechadas, criticou Chávez pelo que considerava excesso de ansiedade (por resultados concretos nesse tipo de cúpula). Chegou a ironizar a juventude do presidente venezuelano, na comparação com ele, Lula, e outros mais velhos, como o chileno Ricardo Lagos, uma espécie de patriarca desse tipo de cúpula na América Latina.

Chávez, à saída, devolveu a crítica, dizendo que tinha pressa: "Eram os milhões de latino-americanos que ainda não comeram até esta hora". A conversa do venezuelano com a Folha deu-se logo após o almoço.

Embora Chávez esteja dando demonstrações cada vez mais estridentes de que quer um vôo próprio como líder da esquerda na América Latina, o Planalto ainda acredita em sua capacidade de moderar o venezuelano.

Na diplomacia brasileira, cita-se até um caso concreto e recente: na Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio, em dezembro, em Hong Kong, a delegação venezuelana ameaçou até o último instante vetar a declaração final, o que causaria o fracasso total do encontro, já que a OMC só decide por consenso.

A delegação brasileira foi chave para quebrar a resistência venezuelana.

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