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12/05/2006 - 09h07

Lula vê ação eleitoral de Evo, endurece e pensa em plano B

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CLÓVIS ROSSI
enviado especial da Folha de S.Paulo a Viena

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu o ataque de Evo Morales ao Brasil e à Petrobras à campanha eleitoral para a Assembléia Constituinte boliviana, eleição marcada para 2 de julho e peça fundamental no desenho do presidente da Bolívia para o que chama de "refundação" de seu país.

O nacionalismo tem forte apelo eleitoral na Bolívia (como na maioria dos países).

Mas Lula não escondeu de seus auxiliares a profunda irritação com Evo Morales e a disposição de lhe dizer hoje, em encontro reservado mas ainda não agendado, que "assim não dá". Tanto não dá que o presidente já determinou estudos para o que, na intimidade do Planalto, se chama de "Plano B".

Pelo que a Folha pôde saber ontem, o plano inclui a ameaça de suspender a importação de gás da Bolívia, o que estrangularia a economia boliviana, na medida em que as operações da Petrobras representam hoje 18% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da renda de um país).

Lula acredita que a ameaça por si só é suficiente para fazer Evo Morales depor as armas retóricas que vem usando. Concretizar a ameaça já é mais complicado porque suspender as importações causaria um apagão, em especial na indústria paulista, o que teria efeitos eleitorais potencialmente desastrosos.

O que mais irrita Lula é o fato de que Evo Morales --e o venezuelano Hugo Chávez, mas em menor medida-- desmente em declarações públicas tudo o que fica combinado entre os presidentes ou entre seus assessores em encontros fechados.

O mais recente exemplo é a reunião de anteontem em La Paz entre o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, e o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, com as autoridades locais. O relatório que o Planalto recebeu sobre a reunião era de um acordo completo. A mesma sensação foi transmitida por Rondeau diretamente a Lula, em telefonema na quarta-feira.

Ontem de manhã (madrugada ainda na América do Sul), Evo Morales reunia-se com os jornalistas em Viena com todos os torpedos assestados na direção da Petrobras.

A negociação de anteontem é apenas o exemplo mais recente. Quando Morales assumiu, há quase quatro meses, os dois lados já sabiam que teriam que enfrentar mais cedo que tarde o problema da nacionalização do gás, prometida pelo boliviano na campanha (e, aliás, pelos demais candidatos).

Mas ficou combinado entre eles que não fariam negociações pela imprensa. Exatamente o contrário do que vem ocorrendo seguidamente.

Outro episódio envolveu os Estados Unidos. Primeiro, Morales pediu ao governo brasileiro que ajudasse a melhorar as relações com os Estados Unidos (o presidente George Walker Bush considera Lula um "amigo", por mais que teoricamente estejam em posições opostas no arco político-ideológico).

Em seguida, os Estados Unidos pediram "ajuda e conselho" ao governo brasileiro, pela voz de Thomas Shannon, novo responsável por América Latina no Departamento de Estado, justamente para tratar do caso boliviano.

Tudo parecia combinar para um bom encaminhamento quando Morales disparou outro de seus torpedos, desta vez tendo Bush como alvo.

Foi a primeira das muitas vezes em que Lula desabafou um "assim não dá" em relação a seu colega da Bolívia.

À medida que as coisas foram se complicando, Lula decidiu escrever carta ao presidente boliviano na qual analisava extensamente o relacionamento bilateral e o processo de integração sul-americano, antiga menina dos olhos da diplomacia brasileira e que já começava a fazer água.

Foi um mês antes da nacionalização do gás. Morales nem sequer se deu ao trabalho de responder, a não ser no dia 1º de maio, por meio da nacionalização do gás.

Como a nacionalização se deu no dia seguinte a um encontro, em Havana, entre Morales, Hugo Chávez e, obviamente, o anfitrião Fidel Castro, Lula envolveu também Chávez no "assim não dá". Foi o que lhe disse em telefonema no dia 2, 24 horas após o ato de Evo Morales.

A preocupação do presidente brasileiro não é apenas nem principalmente com a questão do gás, mas com o conjunto da integração sul-americana, que está se tornando inviável, quase impossível, diante de uma catarata de confrontos.

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