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21/01/2007
-
09h23
CLÁUDIA TREVISAN
da Folha de S.Paulo
Representantes da indústria e alguns economistas começam a justificar os apelos por uma redução mais rápida de juros com um argumento que ganha corpo fora do país: o de que a globalização mudou a dinâmica da inflação, e esse movimento não é captado de maneira satisfatória nos modelos adotados pelos bancos centrais.
A crescente integração econômica mundial e a emergência da China e outros países asiáticos fabricantes de produtos industriais baratos forçaram uma redução global de preços. "A inflação no mundo murchou. O custo de produção mundial e de sustentação de uma família em escala global diminuiu muito", diz Fábio Silveira, da RC Consultores.
Outra conseqüência desse movimento é uma "ampliação" da capacidade de oferta no mercado local, que passa a incluir a produção interna e os produtos importados. Esse fenômeno explica como as vendas do comércio aumentaram 6,25% no ano passado e a inflação terminou o ano abaixo das expectativas. No modelo clássico, a alta da demanda levaria à aceleração de preços, principalmente se a oferta crescesse em ritmo menor, como aconteceu no Brasil.
A relação entre globalização e inflação já entrou no radar do BIS (Bank for International Settlements), conhecido como o banco central dos bancos centrais. Dois economistas da instituição, Claudio Borio e Andrew Filardo, escreveram no ano passado um estudo em que discutem a questão e sugerem que ela seja analisada pelas autoridades monetárias do mundo. O documento não reflete a posição oficial do BIS, mas indica a preocupação com o tema.
O texto sugere que os modelos atuais são muito focados em fatores internos das economias dos países e tendem a desprezar influências externas. "As descobertas sustentam a hipótese de que fatores globais estão se tornando empiricamente mais relevantes para a determinação da inflação doméstica em um grande número de países", conclui o estudo.
Projeções equivocadas
Segundo os autores, a não-consideração dessas influências externas pode levar a projeções equivocadas da inflação futura, mais altas do que seria razoável esperar.
Para os críticos do Banco Central, foi exatamente isso o que ocorreu no Brasil no ano passado, quando a inflação ficou em 3,14%, abaixo do centro da meta de 4,5%. O preço, dizem, foi o baixo crescimento da economia, que deve ter ficado em torno de 2,7%, bem abaixo da média mundial.
Edgard Pereira, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), afirma que o BC termina por inibir o aumento dos investimentos quando eleva os juros para conter a demanda sempre que ocorre grande redução da capacidade ociosa da indústria.
"Com uma economia globalizada, a oferta de bens é muito maior e se ajusta mais rapidamente à demanda do que em uma economia fechada", afirma. Na situação atual do Brasil, esse cenário é reforçado pela valorização do real, que facilita ainda mais as importações.
O diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Francini, sustenta que o BC analisa de forma equivocada a atividade real da indústria. Quando diminui a capacidade ociosa, eleva o juro para evitar pressão inflacionária. Assim, freia investimentos.
Segundo Francini, pesquisa da Fiesp com mil indústrias mostrou que elas poderiam aumentar em 50% a produção de forma rápida com medidas como horas extras, turnos adicionais e investimentos pontuais para redução de gargalos. Ou seja, a redução da capacidade ociosa não levaria ao desequilíbrio entre oferta e demanda.
"O investimento privado só ocorre quando há alta ocupação da capacidade", afirma.
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da Folha de S.Paulo
Representantes da indústria e alguns economistas começam a justificar os apelos por uma redução mais rápida de juros com um argumento que ganha corpo fora do país: o de que a globalização mudou a dinâmica da inflação, e esse movimento não é captado de maneira satisfatória nos modelos adotados pelos bancos centrais.
A crescente integração econômica mundial e a emergência da China e outros países asiáticos fabricantes de produtos industriais baratos forçaram uma redução global de preços. "A inflação no mundo murchou. O custo de produção mundial e de sustentação de uma família em escala global diminuiu muito", diz Fábio Silveira, da RC Consultores.
Outra conseqüência desse movimento é uma "ampliação" da capacidade de oferta no mercado local, que passa a incluir a produção interna e os produtos importados. Esse fenômeno explica como as vendas do comércio aumentaram 6,25% no ano passado e a inflação terminou o ano abaixo das expectativas. No modelo clássico, a alta da demanda levaria à aceleração de preços, principalmente se a oferta crescesse em ritmo menor, como aconteceu no Brasil.
A relação entre globalização e inflação já entrou no radar do BIS (Bank for International Settlements), conhecido como o banco central dos bancos centrais. Dois economistas da instituição, Claudio Borio e Andrew Filardo, escreveram no ano passado um estudo em que discutem a questão e sugerem que ela seja analisada pelas autoridades monetárias do mundo. O documento não reflete a posição oficial do BIS, mas indica a preocupação com o tema.
O texto sugere que os modelos atuais são muito focados em fatores internos das economias dos países e tendem a desprezar influências externas. "As descobertas sustentam a hipótese de que fatores globais estão se tornando empiricamente mais relevantes para a determinação da inflação doméstica em um grande número de países", conclui o estudo.
Projeções equivocadas
Segundo os autores, a não-consideração dessas influências externas pode levar a projeções equivocadas da inflação futura, mais altas do que seria razoável esperar.
Para os críticos do Banco Central, foi exatamente isso o que ocorreu no Brasil no ano passado, quando a inflação ficou em 3,14%, abaixo do centro da meta de 4,5%. O preço, dizem, foi o baixo crescimento da economia, que deve ter ficado em torno de 2,7%, bem abaixo da média mundial.
Edgard Pereira, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), afirma que o BC termina por inibir o aumento dos investimentos quando eleva os juros para conter a demanda sempre que ocorre grande redução da capacidade ociosa da indústria.
"Com uma economia globalizada, a oferta de bens é muito maior e se ajusta mais rapidamente à demanda do que em uma economia fechada", afirma. Na situação atual do Brasil, esse cenário é reforçado pela valorização do real, que facilita ainda mais as importações.
O diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Francini, sustenta que o BC analisa de forma equivocada a atividade real da indústria. Quando diminui a capacidade ociosa, eleva o juro para evitar pressão inflacionária. Assim, freia investimentos.
Segundo Francini, pesquisa da Fiesp com mil indústrias mostrou que elas poderiam aumentar em 50% a produção de forma rápida com medidas como horas extras, turnos adicionais e investimentos pontuais para redução de gargalos. Ou seja, a redução da capacidade ociosa não levaria ao desequilíbrio entre oferta e demanda.
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