02/09/2003 - 18h53

Cigarro só faz mal se for aceso, diz executivo da Souza Cruz

SÉRGIO RIPARDO
da Folha Online

Após registrar uma queda de quase 8% nas vendas de cigarros no primeiro semestre, a Souza Cruz decidiu deflagrar uma campanha de comunicação em 34,5 mil dos seus 200 mil pontos-de-venda espalhados pelo país, adotando o discurso de transparência, responsabilidade social e preocupação com a saúde dos fumantes.

A empresa nega que o objetivo da campanha seja segurar a queda nas vendas. Defende que visa apenas ampliar o acesso das informações pelos consumidores. A Souza Cruz diz ser "confidencial" a quantia gasta na campanha.

O primeiro passo foi colocar em seu site a lista das substâncias que compõem a fumaça e o cigarro da marca Free, mais voltada para o público jovem e sofisticado.

Para a Souza Cruz, é a combustão das substâncias presentes no cigarro que representam riscos "estatísticos" de doenças, como o câncer. A empresa afirma que todas os componentes do cigarro são liberados pelo governo para consumo em outros produtos, como alimentos e bebidas.

"Todos os ingredientes são aprovados para uso em alimentos pela legislação brasileira. Já os constituintes da fumaça são substâncias geradas pela combustão do fumo e algumas estão estatisticamente associadas a riscos [de doenças]", disse João Paulo Gava, gerente de assuntos corporativos da Souza Cruz.

Questionado se isso quer dizer que os cigarros só fazem mal à saúde quando acesos, Gava respondeu: "É isso mesmo. As substâncias estatisticamente associadas aos riscos são geradas pela combustão do cigarro."

As afirmações foram feitas durante entrevista virtual promovida pelo site Comunique-se, especializado em mídia.

A campanha, elaborada pela agência de publicidade Ogilvy, inclui divulgação em bares, padarias e lojas de conveniência, por meio de cartazes e painéis nos pontos de venda, nas próximas três semanas. Não houve consultoria médica para realizar a campanha.

"Fumar com moderação"

"O objetivo da campanha é informar os consumidores adultos, de modo que possam tomar a decisão de fumar ou não", disse Gava.

O mote da campanha é "fumar com moderação", o que lembra a mensagem obrigatória das propagandas de bebidas. Segundo Gava, isso significa "diminuir o consumo de cigarro, fumando menos por dia ou menos dias por semana".

Ele afirma, como manda a lei, que não existe um nível de consumo isento de risco, e que a única forma segura de evitar os riscos é não fumar.

"Não se trata de uma propaganda enganosa, pois estudos reportam a redução de riscos em grupos de pessoas que fumam menos", diz Gava.

A segunda etapa da campanha, denominada "Free Line" e ainda sem data para lançamento, difundirá por telefone a mensagem "livre para fumar ou parar" e promete dar informações ao consumidor sobre "o hábito de fumar com moderação". A empresa diz que não sofreu pressão de grupos antitabagistas para desenvolver a campanha.

Marcas

Maior fabricante de cigarros do país (78% do mercado legalizado), a Souza Cruz também é dona das marcas Derby, Hollywood, Carlton, Continental, Plaza, Hilton, Camel, Lucky Strike, Minister e Camel, Belmont e Ritz.

A partir do próximo dia 16, a Souza Cruz deve informar em seu site a constituição das demais marcas.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) prepara uma nota para comentar a campanha e as declarações do gerente da Souza Cruz.

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