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09/05/2001 - 17h15

Educação superior ainda é um obstáculo para o surdo

JÚLIO CÉSAR BARROS
da Folha Online

Os surdos ou deficientes auditivos que querem cursar uma faculdade no Brasil têm um sério problema quando chegam lá: entender o professor e ser entendido por ele. Isso porque a maior parte das instituições de ensino superior do país não oferece intérpretes ou qualquer outro tipo de recurso para seus alunos especiais.

O Ministério da Educação assinou em 1999 a portaria 1.679, que estabelece que todas as instituições de ensino superior do país devem dar condições para que alunos com necessidades especiais frequentem os cursos de graduação, mas até hoje poucas instituições aderiram, principalmente no que se refere aos surdos.

Hoje apenas duas oferecem intérpretes para os estudantes surdos: a Ulbra (Universidade Luterna do Brasil), de Canoas (RS), e a Faculdade Domus - Rio Branco, de São Paulo.

"Nossa luta é para que as determinações sejam cumpridas e que todos os surdos possam ter acesso à universidade", disse Myrna Salermo Monteiro, que é surda e faz parte da diretoria da Feneis (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos). "Já tentei implantar um núcleo para os surdos na Federal do Rio, mas não tive êxito."

Myrna, que defende os intérpretes nas salas, é professora auxiliar da Faculdade de Letras da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Ela é a única professora concursada de Libras (Língua de Sinais Brasileira - a linguagem dos sinais) do país.

Segundo Myrna, existe uma série de mecanismos que devem ser adaptados antes que o MEC possa obrigar de fato que as instituições ministrem cursos para surdos. "O ministério nos informou que levará pelo menos dez anos para implementar a estrutura necessária e só depois os cursos para surdos poderão oferecidos por todas universidades", afirma Myrna.

O órgão do MEC responsável pela capacitação de intérpretes é o Ines (Instituto Nacional de Educação de Surdos), com sede no Rio, mas ele só cuida de educação infantil e fundamental, apesar de ter muitos convênios com universidades fluminenses.

De acordo com a diretora de Desenvolvimento Humano, Científico e Tecnológico do Ines, Solange Rocha, a presença do intérprete em sala de aula pode atrapalhar a relação entre professor e estudante. "Em um primeiro momento, colocar um intérprete na sala de aula é fundamental, mas a nossa intenção é formar o professor em Libras, pois assim não iremos quebrar a relação entre mestre e aluno", disse ela, lembrando ainda que a política do MEC é de capacitar o professor.

A Libras já é reconhecida pelo MEC, mas não é regulamentada por lei. A Feneis aguarda a aprovação do Congresso do projeto de lei 48751/98 para que isso ocorra.

Até mesmo a função de intérprete, em razão disso, não é regulamentada. Solange acredita que se a lei for aprovada, os profissionais que trabalham com a Libras também seguirão o mesmo caminho.

Segundo a Feneis, uma pessoa pode levar até oito meses para aprender o básico da Libras e pelo menos três anos para dominar a linguagem. "É como aprender um novo idioma, requer prática e estudo para dominar", afirmou a assessora de imprensa da Feneis, Clélia Regina Ramos, que aprendeu a língua de sinais para trabalhar com os surdos.

Dados

Além de lutar pela regulamentação da Libras e da profissionalização das funções ligadas a ela, a Feneis quer um levantamento dos surdos existentes no país e assim utilizar os dados como instrumento de trabalho da entidade.

Segundo a federação, o governo trabalha em cima de números imprecisos, juntando em uma única porcentagem os deficientes físicos e mentais, surdos e cegos. "O Ministério da Saúde trabalha com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) que não refletem a nossa necessidade. São números gerais", afirmou Myrna.

"Nós já pedimos várias vezes uma pesquisa sobre o universo de surdos na população brasileira, mas o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ainda não atendeu nosso pedido. Para avaliarmos as nossas necessidade devemos saber quantos somos e onde estamos", disse a diretora.

De acordo com a fonoaudiológa Sabine Vergamini, diretora da Escola Especial para Crianças Surdas, da Fundação de Rotarianos de São Paulo, existe diferença entre surdez e deficiência auditiva, o que dificulta o detalhamento dos dados pesquisados. "Surdo é todo aquele que nasceu sem a audição ou a perdeu na fase pré-lingual, ou seja, antes de aprender a falar", afirma Sabine.

Leia também:


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