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05/09/2001 - 03h40

Para historiador, continente africano é depreciado

da Folha de S.Paulo, no Rio

Para o historiador Luiz Felipe de Alencastro, a superficialidade com que os livros didáticos tratam a história da África e suas influências sobre o Brasil não pode ser creditada apenas aos autores dessas publicações. Ele diz que "o problema está mais em cima", localizado na academia.

"Recentemente, promovemos na USP [Universidade de São Paulo] dois concursos para interessados em pesquisar a história da África. Nos dois casos, apenas uma pessoa se apresentou para a vaga. Há um desinteresse da academia pelo tema e isso acaba se refletindo nos livros didáticos", afirma Alencastro.

Ele dá outro exemplo para justificar sua tese: "Não conheço uma biblioteca brasileira com um bom acervo de história da África. Os documentos históricos em língua portuguesa são relativamente fáceis de ser encontrados e não são muito caros", diz.

Alencastro recebeu no mês passado um prêmio por seu livro "O Trato dos Viventes - Formação do Brasil no Atlântico Sul", em que retrata a importância de fatos históricos ocorridos no continente africano para a formação econômica do Brasil.

De acordo com o historiador brasileiro, há uma tendência dos historiadores do país de limitarem suas pesquisas ao território colonial brasileiro.

"É uma visão territorial e anacrônica da história do Brasil, como se a idéia de nação sempre existisse na colônia. Somente após a independência dos Estados Unidos essa idéia ganha força nas colônias americanas. Antes disso, boa parte de nossa formação é melhor entendida com a história de países africanos como Angola", declara.

Ele relata que em 1988, quando Celso Furtado foi ministro da Cultura do presidente José Sarney, tentou-se instituir uma disciplina obrigatória de história da África no currículo escolar.

"Fui contra essa decisão porque, apesar de acreditar que o país precisa saber mais sobre a história do continente africano, não havia professores preparados para ensinar. Isso acabaria sendo visto pelos alunos como um assunto cansativo e obrigatório", conta.

Europa medieval

De acordo com Alencastro, professor de história do Brasil na Universidade Sorbonne, em Paris, um exemplo desse desinteresse pela África está no fato de o Brasil ter mais historiadores pesquisando a Europa do período medieval do que a África colonial.

"Não precisa ter tanta história medieval. O Brasil pode formar um ponto de vista brasileiro sobre a história da África", afirma Alencastro.

No Rio de Janeiro, o Centro de Estudos Afro-Asiáticos, da Universidade Candido Mendes, é uma das poucas instituições brasileiras a oferecer um curso de pós-graduação sobre o tema.

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