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13/06/2002
-
10h04
da Folha de S.Paulo
Não é só com o advérbio "não" que se pode exprimir a negação em língua portuguesa. Embora seja essa a forma mais comum de fazê-lo, há locuções por meio das quais é possível não só negar mas também dar mais ênfase à negação. Um simples "não" não tem o mesmo efeito que alcançam expressões como "em hipótese alguma" ou "de jeito nenhum".
A palavra "nem", num enunciado como: "Nem (sequer) me disse o que conversaram", também confere realce à idéia de negação. Nesse caso, tem valor de advérbio.
Os pronomes indefinidos "nenhum", "ninguém" e "nada", desde que na posição de sujeito ou de aposto, dispensam o advérbio "não", uma vez que eles mesmos estabelecem a negação: "Ninguém (sujeito) viu o que aconteceu", "Entre tantas pessoas, nenhuma (sujeito) viu...", "Homens, mulheres, crianças, ninguém (aposto) se machucou...".
O pronome "nada" normalmente aparece como objeto em frases negativas. Assim: "Não viu nada". Mas, se estiver anteposto _"Nada viu"_, desaparecerá a dupla negativa. Não se diz: "Nada não viu" por ser construção intuída como redundante.
Já o pronome "algum", quando posposto ao substantivo, assume valor negativo. Assim: "Ajuda alguma adiantará se você não se empenhar".
Há verbos que, graças ao seu conteúdo semântico, podem exprimir negação. É o caso de "impedir", "evitar" ou "recusar", por exemplo. Assim: "Algo o impede de realizar a tarefa". Ou seja: "Algo faz que ele não realize a tarefa". O mesmo se dá com "evitar".
Há muitas expressões que conduzem à idéia de negação, cada qual com um matiz. Se dissermos que alguém perdeu a oportunidade de dizer algo, estaremos lamentando o fato de não tê-lo feito. Em: "Ele deixou de dizer algo", além da idéia de negação, o verbo sugere que se poderia ou até se deveria tê-lo feito.
É preciso lembrar que, diante de verbos de conteúdo negativo, o advérbio de negação produz uma afirmação. Não impedir ou não evitar equivalem a permitir.
Enunciados com seqüências de negações podem causar confusão. Merecem atenção redobrada. Se, por exemplo, uma pessoa não evita que a outra impeça uma terceira de realizar uma ação, a tal ação não se concretiza.
A negativa também pode ser usada para atenuar idéias desagradáveis: "Seu argumento não foi inteligente"; "Ela não era das mais bonitas". Afirmar pela negação do contrário é empregar a "lítotes", artifício retórico recomendado nas lições de etiqueta...
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
Leia mais:
Atualidades: As atenções mundiais se voltam para a Índia e o Paquistão
História: A política econômica do capitalismo comercial
Geografia: As características dos domínios morfoclimáticos
Física: A pressão que sentimos e os seus efeitos sobre nós
Português: Negar pode ser um modo de afirmar
THAÍS NICOLETI DE CAMARGOda Folha de S.Paulo
Não é só com o advérbio "não" que se pode exprimir a negação em língua portuguesa. Embora seja essa a forma mais comum de fazê-lo, há locuções por meio das quais é possível não só negar mas também dar mais ênfase à negação. Um simples "não" não tem o mesmo efeito que alcançam expressões como "em hipótese alguma" ou "de jeito nenhum".
A palavra "nem", num enunciado como: "Nem (sequer) me disse o que conversaram", também confere realce à idéia de negação. Nesse caso, tem valor de advérbio.
Os pronomes indefinidos "nenhum", "ninguém" e "nada", desde que na posição de sujeito ou de aposto, dispensam o advérbio "não", uma vez que eles mesmos estabelecem a negação: "Ninguém (sujeito) viu o que aconteceu", "Entre tantas pessoas, nenhuma (sujeito) viu...", "Homens, mulheres, crianças, ninguém (aposto) se machucou...".
O pronome "nada" normalmente aparece como objeto em frases negativas. Assim: "Não viu nada". Mas, se estiver anteposto _"Nada viu"_, desaparecerá a dupla negativa. Não se diz: "Nada não viu" por ser construção intuída como redundante.
Já o pronome "algum", quando posposto ao substantivo, assume valor negativo. Assim: "Ajuda alguma adiantará se você não se empenhar".
Há verbos que, graças ao seu conteúdo semântico, podem exprimir negação. É o caso de "impedir", "evitar" ou "recusar", por exemplo. Assim: "Algo o impede de realizar a tarefa". Ou seja: "Algo faz que ele não realize a tarefa". O mesmo se dá com "evitar".
Há muitas expressões que conduzem à idéia de negação, cada qual com um matiz. Se dissermos que alguém perdeu a oportunidade de dizer algo, estaremos lamentando o fato de não tê-lo feito. Em: "Ele deixou de dizer algo", além da idéia de negação, o verbo sugere que se poderia ou até se deveria tê-lo feito.
É preciso lembrar que, diante de verbos de conteúdo negativo, o advérbio de negação produz uma afirmação. Não impedir ou não evitar equivalem a permitir.
Enunciados com seqüências de negações podem causar confusão. Merecem atenção redobrada. Se, por exemplo, uma pessoa não evita que a outra impeça uma terceira de realizar uma ação, a tal ação não se concretiza.
A negativa também pode ser usada para atenuar idéias desagradáveis: "Seu argumento não foi inteligente"; "Ela não era das mais bonitas". Afirmar pela negação do contrário é empregar a "lítotes", artifício retórico recomendado nas lições de etiqueta...
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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