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05/05/2005 - 11h00

Medicamentos e informação correta ajudam quem sofre com o frio

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FLÁVIA MANTOVANI
MARCOS DÁVILA

da Folha de S. Paulo

Quando alguns já sonhavam com um outono quente com jeito de fim de verão, a frente fria chegou ao país. E trouxe com ela alguns incômodos que muita gente conhece bem: coriza, coceira no nariz, febre e crises de asma --sintomas das doenças respiratórias que aparecem com muito mais intensidade nesta época do ano.

A maior das novidades de tratamento na área vem para tentar aliviar os sintomas da asma, que acomete cerca de 10% da população brasileira.

Trata-se do omalizumabe, medicamento já comercializado no exterior e que deve chegar ao Brasil ainda neste ano. A promessa é agir na raiz do problema, e não apenas minimizar os sintomas. Além disso, remédios já receitados com freqüência, como os anti-histamínicos e os esteróides, estão sendo aprimorados. Os primeiros causam agora menos efeitos colaterais, principalmente sonolência. E um novo tipo de esteróide para crianças com asma está sendo testado em uma pesquisa mundial.

No entanto, os médicos afirmam que somente os medicamentos não resolvem o problema. Ainda falta informação: muitas pessoas têm rinite alérgica e não sabem disso, problemas alérgicos são comumente confundidos com doenças virais, como a gripe, e pacientes com asma se tratam apenas na hora da crise.

Uma pesquisa realizada pelo Wolson Institute of Preventive Medicine, em Londres, e divulgada no mês passado no "British Medical Journal", mostra que a quantidade de alérgicos no mundo cresceu dez vezes entre as décadas de 70 e 90. Diferentemente da maioria dos médicos, que associa a alergia a fatores ambientais, o estudo defende que é o ser humano que está mais sensível à doença.

Segundo a pneumologista Maria Alenita Oliveira, do Hospital Paulistano, uma hipótese que tenta explicar esse aumento assinala que as condições cada vez mais higiênicas deixariam o homem menos imunizado. Isso porque elas impediriam a exposição a certos patógenos (como bactérias e parasitas) que ajudam o organismo a desenvolver a imunidade. "Crescemos em ambientes extremamente estéreis. Isso poderia causar um desvio do nosso sistema imune", diz a médica. Outra teoria diz que o fenômeno tem a ver com o fato de as pessoas permanecerem mais em ambientes fechados.

De acordo com o alergista Wilson Tartuce Aun, diretor da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia), a rinite é a mais comum entre as alergias --estima-se que entre 30% e 40% da população mundial tem ou já teve pelo menos uma crise.

Especialistas da ONG Iniciativa Aria (sigla em inglês para rinite alérgica e seu impacto na asma) afirmam que mais de 80% dos asmáticos têm rinite, doença alérgica considerada um "gatilho" para a asma. São mais de 350 mil internações por ano na rede pública.

De acordo com Luiz Alves dos Santos Neto, meteorologista da Climatempo, o frio veio para ficar. "A frente fria que chegou a São Paulo na semana passada acabou com o calor atípico da primeira quinzena do mês. Agora vamos começar a sentir o outono de verdade", diz.

Segundo ele, não deve haver grandes surpresas no inverno deste ano, já que não são esperados fenômenos de escala global como El Niño e La Niña, que provocam grandes alterações climáticas.

Neto lembra que o mês de abril foi bastante seco, o que dificulta a dispersão dos poluentes, piorando a qualidade do ar. As baixas temperaturas também contribuem com a chamada inversão térmica. "A camada de ar frio mais próxima da superfície funciona como uma tampa, impedindo a dispersão dos poluentes", explica Maria de Fátima Andrade, professora do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG (Instituto de Astronomia e Geofísica da Universidade de São Paulo).

A poluição aumenta a incidência de doenças alérgicas, mas, diferentemente do que se costuma pensar, seu nível está caindo em São Paulo, segundo o médico Alfesio Braga, coordenador da área de epidemiologia ambiental do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP.

Segundo ele, essa diminuição está relacionada aos resultados obtidos pela ação do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), criado em 1986. " Em relação à década de 90, houve queda na concentração de poluentes no ar", diz.

Mesmo assim, de acordo com os últimos estudos feitos pelo laboratório, as consultas em prontos-socorros de crianças com doenças respiratórias relacionadas à poluição aumentam cerca de 20% nas épocas mais frias do ano. Há ainda elevações de 12% nas internações e de 6% no número de mortes de crianças devido aos poluentes. Os irmãos Pyhetro, 4, e Raphaela Fontana, 11, filhos da auxiliar de classe Lucia Mara Fontana, 28, foram parar no hospital com crise de asma assim que o tempo virou. "Eles só ficam mal quando o tempo está muito seco ou nos dias frios. Na última crise, a médica disse que ele quase teve uma parada respiratória", afirma Lucia.

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