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17/11/2005 - 11h36

Experiências testam benefícios das artes contra Alzheimer

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FLÁVIA MANTOVANI
da Folha de S.Paulo

Parada em frente ao quadro "Paisagem", de Alfredo Volpi, Sonia Fernandes Branco, 56, lembra-se de cenas de sua infância. "Morava numa casa com um riacho e uma ponte parecidos com esses. Meu pai era farmacêutico, e as pessoas atravessavam a ponte para comprar remédios", conta. Apesar de se recordar de detalhes de tempos remotos, ela faz esforço para lembrar, minutos depois, as cores do quadro que acabou de ver. O esquecimento de acontecimentos recentes foi o primeiro sintoma que Sonia manifestou da doença de Alzheimer, diagnosticada em 2004. "Ela não me dava os recados. Ligava para a minha filha e perguntava a mesma coisa duas vezes", diz seu marido, José Carlos Branco, 59.

O passeio de Sonia à exposição de pintores modernistas, no Espaço Cultural BM&F, em São Paulo, foi organizado pela psicóloga e artista plástica Sonia Fortuna a pedido da Folha. Enquanto via as obras, a paciente era estimulada a fazer relações com episódios de sua vida e a fixar detalhes dos quadros na memória. Logo depois, foi convidada a fazer, com desenho e colagem, uma interpretação do que viu.
Cenas como essas, que despertam a curiosidade de alguns visitantes, já se tornaram comuns em alguns museus dos EUA. O MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) e o Museu de Belas Artes de Boston, por exemplo, criaram programas específicos para portadores de Alzheimer visando usar a arte como um instrumento terapêutico para esses doentes.

No MoMA, os educadores foram treinados pela organização Artists for Alzheimer's para entender a doença. Em novembro de 2004, o museu criou o programa "Meet me at MoMA", que promove para esse público, mensalmente, visitas interativas que incluem a apreciação do acervo e atividades práticas. O programa também é oferecido em residências para esses pacientes. "As pessoas com Alzheimer conseguem responder a uma pintura ou escultura mesmo sem reconhecê-los", diz Carrie McGee, do departamento de educação do MoMA.

Apesar de não haver estudos científicos conclusivos na área, acredita-se que o contato com as artes ajude a despertar capacidades interpretativas e expressivas. Menos pesquisadas do que a música em relação a seu efeito em portadores de Alzheimer, as artes plásticas estimulam diferentes áreas do cérebro e podem ser usadas na reabilitação desses pacientes.

Para o neurologista Paulo Bertolucci, chefe do setor de neurologia do comportamento da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), apreciar obras de arte pode ajudar pelo fato de despertar emoções. As situações com grande carga emocional costumam ficar por mais tempo na memória, cuja perda progressiva é um sintoma da doença. "Intuitivamente, parece benéfico. As grandes obras de arte tocam, trazem referências pessoais. Um museu pode ter uma carga emocional que funciona como estímulo extra", diz.

Segundo Bertolucci, como o número de pessoas com Alzheimer aumenta com o envelhecimento da população mundial, instituições como os museus devem se preparar para receber esses pacientes.

Segundo o neurologista Rodrigo Schultz, participante do grupo de pesquisas de Bertolucci que estudou a relação entre memória emocional e Alzheimer, observar obras de arte estimula as sinapses (conexões entre os neurônios). "A imagem pode trazer lembranças ou ser associada a outras coisas, mantendo as sinapses mais ativas. A observação e o fato de a pessoa ter de responder a perguntas sobre as obras estimulam diferentes áreas do cérebro."

Ele também lembra o papel da música na reabilitação de quem tem Alzheimer. "Tem gente que não fala, mas, quando ouve música, de repente começa a cantar", conta.

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