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17/11/2005 - 11h37

Museus no Brasil não têm programas especiais

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FLÁVIA MANTOVANI
da Folha de S.Paulo

No Brasil, os principais museus não têm programas específicos para portadores de demências. Mas alguns arteterapeutas, psicólogos e terapeutas ocupacionais que trabalham com idosos organizam visitas a espaços culturais e desenvolvem atividades artísticas como um meio de melhorar a qualidade de vida desses pacientes e até de tornar o avanço da doença mais lento.

A psicóloga Sonia Fortuna, que acompanhou Sonia Branco na visita à exposição dos modernistas, é uma delas. Autora do livro "Doença de Alzheimer, Qualidade de Vida e Terapias Expressivas" (ed. Alínea), ela é a curadora do concurso anual de artes promovido pela Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer). Anualmente, quatro portadores da doença são premiados nas categorias pintura, escultura, artesanato e literatura.

Fortuna costuma levar seus pacientes para visitar exposições. Alguns já tinham o hábito de pintar antes de adquirir a doença. É o caso de Maria Aparecida Salgado, que tem Alzheimer há três anos. "Pinto tudo o que vejo e acho bonito", diz ela, enquanto olha para dois de seus quadros no Centro de Estudos Gerontológicos Arte e Vida, onde Fortuna atende.

"O trabalho com terapias expressivas não pára a evolução da doença, mas amplia suas etapas", afirma a psicóloga. O Alzheimer é composto por três fases. Na fase inicial, o paciente costuma manifestar distração, dificuldade para se lembrar de nomes e palavras e desorientação em ambientes familiares. Na fase intermediária, os principais sintomas são perda marcante da memória e da atividade cognitiva, diminuição do conteúdo da fala e alterações de comportamento como agressividade. Na fase avançada, a fala vai desaparecendo, e a pessoa passa a ter dificuldade para andar, engolir alimentos e controlar a bexiga.

Fortuna trabalha com artes plásticas apenas na etapa inicial da doença. "Depois, a pessoa fica sem comprometimento com o que vê."

Para a terapeuta ocupacional e especialista em neurologia Maria Cristina Anauate, da clínica Espaço Viver com Arte, em São Paulo, a decisão de trabalhar com as artes plásticas numa etapa mais avançada da doença depende do quadro do paciente. "As funções que ficam comprometidas variam. Algumas pessoas não conseguem decodificar uma imagem. Nesses casos, fica difícil, mas podemos usar música ou trabalhos corporais. No início, a arte tem um papel de recuperação cerebral. Nas fases mais avançadas, ajuda a manter a auto-estima e o senso de integridade. O que não pode é a pessoa viver fechada em seu mundo", afirma.

Anauate leva seus pacientes a espaços como a Pinacoteca do Estado e o Museu do Ipiranga, em São Paulo. Mas, para ela, não são todos que devem ser encaminhados para a arteterapia. "É preciso analisar as afinidades, as limitações e a história de vida de cada um", diz.

Os dois pacientes que ela levou na semana passada para conhecer a exposição "Homo Ludens", no Itaú Cultural, em São Paulo, são exemplos disso. Um deles, Antonio dos Santos Pereira, 83, trabalhou como pedreiro e se adaptou bem ao trabalho com artes manuais. "Ando muito esquecido", diz ele, que foi diagnosticado com Alzheimer há um ano e meio.

Já Eline Prado, 85, ex-pesquisadora, não tem afinidade com a pintura, mas trabalha bem com a literatura. Ela apresenta uma doença parecida com o Alzheimer: a demência vascular. Animada, com uma articulação perfeita da fala, só é possível notar a doença quando ela passa a repetir várias vezes a mesma história.

A opinião dos dois sobre a exposição "Homo Ludens" foi divergente: enquanto Antonio desfrutou do passeio e se entusiasmou com algumas obras interativas, Eline só aproveitou a visita quando viu obras mais tradicionais, como uma tela de Portinari e uma casa de bonecas. "Para que serve isso?", dizia, diante de obras menos convencionais como uma cortina com pães pendurados. "Para divertir a turma que vem ver", respondeu Antonio.

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