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02/04/2004
-
04h49
SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo
Ver Cleo Pires é como olhar para sua mãe, Glória Pires --uma das atrizes brasileiras que conquistaram na TV o status de estrela perene--, aos 21 anos. "Também acho que sou muito parecida com ela. Corpo igual. Mãos iguais. Digo isso, e ela adora."
Hoje, com a estréia do longa "Benjamim", baseado no livro homônimo de Chico Buarque, Cleo debuta como atriz, profissão também de seu pai, Fábio Jr., que ela diz nunca haver cogitado.
"Estava completamente divorciada dessa idéia [de ser atriz]. Nem divorciada, porque nunca a namorei." Mas diz que "algumas vezes" gostava de se imaginar nos filmes que via e gostava, como "Beleza Roubada" (Bernardo Bertolucci, 1996).
"Ficava pensando como devia ser legal você viver uma realidade completamente diferente da sua. Aí acaba a cena, pronto. Você volta a ser você mesma."
O convite da diretora Monique Gardenberg para atuar no longa, no papel duplo da atriz Castana Beatriz e da corretora de imóveis Ariela Masé, foi aceito porque a confiança que a diretora demonstrou em sua capacidade a comoveu. "Achei muito fofo o jeito que ela falou comigo. Queria que eu fosse protagonista e nunca tinha me visto fazer nada."
Antes de filmar, diretora e atriz ensaiaram cena a cena. Apenas na fase dos ensaios Cleo conheceu pessoalmente o ator Paulo José, intérprete de Benjamim, seu 24º personagem no cinema, desde o clássico "O Padre e a Moça" (Joaquim Pedro de Andrade, 1965).
No encontro profissional com a moça Cleo, Paulo José percebeu algumas qualidades próprias dos atores que nascem prontos. "A espontaneidade da Cleo, fazendo tudo sem o menor esforço, é exatamente o que procuro demonstrar nas palestras sobre interpretação no cinema. Descontração, simplicidade, boa execução das ações físicas são qualidades que ela tem. Mas isso não é tudo. Tem também essa outra qualidade, inexplicável, que não se aprende no colégio nem está nos manuais --a empatia, a fotogenia, que fazem dela um animal cinematográfico, um olhar que rasga a tela e paira sobre toda a platéia."
Agora convicta de que quer ser atriz, Cleo pretende seguir um curso de interpretação em Los Angeles, nos Estados Unidos. "Tenho que estar mais preparada. Nem sempre vou ter a Monique do meu lado. Mas existem muitas outras coisas que eu queria aprender --marcenaria, direito, decoração, tocar guitarra, culinária."
Enquanto a moça se prepara para o começo, o ator, de 67 anos, segue refletindo sobre os benefícios da longevidade na profissão.
"Uma grande vantagem de nosso ofício é que há ótimos papéis para todas as idades. Envelhecer pode ser qualidade. Gosto da cara que tenho agora. Tenho um orgulho de sobrevivente."
Paulo José tem também outro orgulho manifesto: "Os atores do cinema brasileiro são dignos, não são exibicionistas de feira nem têm 'público-tropismo', essa enfermidade causada pela vaidade".
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da Folha de S.Paulo
Ver Cleo Pires é como olhar para sua mãe, Glória Pires --uma das atrizes brasileiras que conquistaram na TV o status de estrela perene--, aos 21 anos. "Também acho que sou muito parecida com ela. Corpo igual. Mãos iguais. Digo isso, e ela adora."
Hoje, com a estréia do longa "Benjamim", baseado no livro homônimo de Chico Buarque, Cleo debuta como atriz, profissão também de seu pai, Fábio Jr., que ela diz nunca haver cogitado.
"Estava completamente divorciada dessa idéia [de ser atriz]. Nem divorciada, porque nunca a namorei." Mas diz que "algumas vezes" gostava de se imaginar nos filmes que via e gostava, como "Beleza Roubada" (Bernardo Bertolucci, 1996).
"Ficava pensando como devia ser legal você viver uma realidade completamente diferente da sua. Aí acaba a cena, pronto. Você volta a ser você mesma."
O convite da diretora Monique Gardenberg para atuar no longa, no papel duplo da atriz Castana Beatriz e da corretora de imóveis Ariela Masé, foi aceito porque a confiança que a diretora demonstrou em sua capacidade a comoveu. "Achei muito fofo o jeito que ela falou comigo. Queria que eu fosse protagonista e nunca tinha me visto fazer nada."
Antes de filmar, diretora e atriz ensaiaram cena a cena. Apenas na fase dos ensaios Cleo conheceu pessoalmente o ator Paulo José, intérprete de Benjamim, seu 24º personagem no cinema, desde o clássico "O Padre e a Moça" (Joaquim Pedro de Andrade, 1965).
No encontro profissional com a moça Cleo, Paulo José percebeu algumas qualidades próprias dos atores que nascem prontos. "A espontaneidade da Cleo, fazendo tudo sem o menor esforço, é exatamente o que procuro demonstrar nas palestras sobre interpretação no cinema. Descontração, simplicidade, boa execução das ações físicas são qualidades que ela tem. Mas isso não é tudo. Tem também essa outra qualidade, inexplicável, que não se aprende no colégio nem está nos manuais --a empatia, a fotogenia, que fazem dela um animal cinematográfico, um olhar que rasga a tela e paira sobre toda a platéia."
Agora convicta de que quer ser atriz, Cleo pretende seguir um curso de interpretação em Los Angeles, nos Estados Unidos. "Tenho que estar mais preparada. Nem sempre vou ter a Monique do meu lado. Mas existem muitas outras coisas que eu queria aprender --marcenaria, direito, decoração, tocar guitarra, culinária."
Enquanto a moça se prepara para o começo, o ator, de 67 anos, segue refletindo sobre os benefícios da longevidade na profissão.
"Uma grande vantagem de nosso ofício é que há ótimos papéis para todas as idades. Envelhecer pode ser qualidade. Gosto da cara que tenho agora. Tenho um orgulho de sobrevivente."
Paulo José tem também outro orgulho manifesto: "Os atores do cinema brasileiro são dignos, não são exibicionistas de feira nem têm 'público-tropismo', essa enfermidade causada pela vaidade".
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