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29/06/2006 - 16h08

Mostra argentina expõe violência na Colômbia sob olhar de Botero

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NATALIA KIDD
da Efe, em Buenos Aires

Cadáveres em primeiro plano, gritos e choros desgarrados e a onipresente sombra da morte são o fio condutor de "A Dor da Colômbia nos Olhos de Botero", mostra que foi aberta ao público na noite de terça-feira no Museu Nacional de Belas Artes da Argentina.

Longe das afáveis imagens das suas cândidas "gordinhas", o colombiano Fernando Botero oferece nessa exposição sua visão pessoal sobre a violência que espreita a sua pátria, representada em 27 desenhos e 23 telas doadas pelo artista ao Museu Nacional da Colômbia em 2004.

A coleção, que já foi exposta em museus e galerias da América e da Europa, ficará em Buenos Aires até 13 de agosto e constitui um dos eventos culturais mais importantes do ano na Argentina.

Surpreenderá os visitantes o fato de que, longe da atmosfera aprazível que caracteriza a obra de Botero, nesta série realizada entre 1999 e 2004 o artista tenha se mantido fiel ao seu estilo, utilizando as figuras rechonchudas, embora aqui elas apareçam em cenas inspiradas no narcotráfico, na guerrilha e no comportamento dos paramilitares colombianos.

O clima de denúncia é evidente, mas a advertência leva o selo "boteriano" de autenticidade criado a partir da sedutora ingenuidade popular, dos contrastes de escala e dos típicos personagens rechonchudos do artista, que aparecem esfaqueados, baleados ou mortos.

Talvez por seu tamanho e carga simbólica, seja quase impossível não se sensibilizar com as telas "O Desfile" (2000), "A Morte na Catedral" (2002) e "Massacre na Colômbia" (2000).

"As obras mostram a tenebrosa realidade da guerra e da violência sofrida pelos colombianos, causam no observador um profundo sentimento de dor e têm um profundo valor histórico", disse a diretora do Museu Nacional da Colômbia, María Victoria Robayo, na inauguração da mostra na Argentina.

"Obrigação moral"

Botero, nascido em Medellin em 1932, sempre se proclamou um defensor da idéia da arte como motor para gerar prazer no público, não angústia, pois, segundo afirmou, "a grande pintura tem uma atitude positiva perante a vida".

Mas, embora tenha se colocado a princípio contra a utilização ideológica da arte como um "arma de combate", a magnitude do drama vivido pela Colômbia acabou influenciando as concepções do artista, inspirando as obras que estão expostas em Buenos Aires.

O pintor sentiu a "obrigação moral" de deixar um testemunho sobre um momento irracional da história colombiana, não com a intenção de "consertar as coisas", mas para deixar "o testemunho de um artista que viveu e sentiu seu país e seu tempo".

Contudo, esta série não representa a primeira aproximação de Botero com a violência, já retratada no mural "Massacre dos Inocentes", criado na década de 60, e em quadros como "O Assassinato de Rosa Calderón" (1970) e "Guerra" (1973), no qual militares, sacerdotes, mulheres e crianças aparecem amontoados como se estivessem em um campo de batalha.

"Não há melhor e mais incisivo testemunho da criminosa inutilidade da violência do que os deixados pelas imagens dos artistas visuais ao longo da história", disse Roberto Bellucci, diretor do Museu Nacional de Belas Artes da Argentina, que há 13 anos abrigou uma grande mostra de pinturas e esculturas de Botero.

Segundo Bellucci, o artista colombiano "não pretende exacerbar o horror": "Pelo contrário, seu objetivo é atenuar a agressão da crua imagem testemunhal levando-a a uma descrição figurativa próxima da sua ideologia e do seu estilo".

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