Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
12/10/2006 - 13h30

Ameaça norte-coreana é "paranóia" para deter EUA, diz especialista

Publicidade

DANIELA LORETO
da Folha Online

A Coréia do Norte usa a ameaça de seus supostos testes nucleares para tentar deter o risco de uma eventual ação dos EUA contra o regime de Pyongyang. A afirmação parece estranha, mas, segundo Steve Tsang, do Centro de Estudos Asiáticos da Universidade de Oxford (Reino Unido), tem explicação.

Ele diz que a idéia do presidente norte-coreano, Kim Jong-il, de que os EUA querem derrubar seu regime é pouco realista e anterior ao recente anúncio de testes nucleares, mas trata-se de uma "paranóia" desencadeada pelo isolamento em que vive sua administração.

"[O presidente da Coréia do Norte] Kim Jong-il herdou o trono de seu pai e foi criado em um ambiente muito fechado. O seu entendimento do mundo é muito particular, ele tem pouco contato com pessoas reais, de fora de seu próprio país e de seu poder estabelecido, e uma visão de mundo limitada. O regime norte-coreano é fechado, os cidadãos vivem em um sistema quase totalitário. O governo mais próximo do totalitarismo que você pode encontrar em todo o mundo é o norte-coreano", diz Tsang.

Na Coréia do Norte, o acesso à informação é limitado e os celulares são proibidos no país. Tsang explica que os celulares foram permitidos por um certo tempo, mas, depois que o regime percebeu que esses aparelhos permitiriam que os cidadãos se comunicassem de forma privada, voltaram a ser banidos.

Mas o controle do governo sobre as pessoas vai além. Tsang explica que o contato com outras línguas, culturas e internet é igualmente restrito, ninguém fala com estrangeiros, até porque, se o fizer, passa a ser vigiado pelo governo e poderá ter problemas. "E a imprensa --que poderia ser um canal de informação-- acaba se tornando uma 'não-oportunidade'. As pessoas não compram jornais estrangeiros porque a maioria da população nem mesmo fala outras línguas."

Coisa de criança

Para ele, não levar a sério a ameaça norte-coreana poderia ser um estímulo para que a Coréia do Norte faça uma nova explosão, desta vez nuclear de fato. "É como uma criança que faz de tudo para chamar a atenção e você simplesmente a ignora. Você não irá detê-la desta forma. É preciso responder da maneira correta para lidar com a questão."

O governo norte-coreano anunciou a realização de um teste nuclear na segunda-feira (9). No entanto, há dúvidas se a explosão foi de fato nuclear ou apenas de explosivos comuns. Ontem, a Coréia do Norte ameaçou realizar um segundo teste. Especula-se que o país queira realizar novos exercícios devido à suspeita de que o primeiro teste tenha falhado parcialmente.

De acordo com Tsang, é difícil saber ao certo o que de fato ocorreu. "A Coréia do Norte diz muitas coisas que nunca sabemos se são verdadeiras ou não. Teremos que esperar que cientistas recolham resíduos e definam se uma explosão nuclear realmente ocorreu."

Sanções

Segundo Tsang, as atuais sanções do Conselho de Segurança (CS) da ONU querem mostrar que a comunidade internacional está unida na questão e desaprova as ações norte-coreanas. No entanto, diz que só isso não é o suficiente. "As sanções, por si sós, não resolvem a questão, que é fazer com que a Coréia do Norte desista de seu programa nuclear. Pode-se convencer a Coréia do Norte a fazer isso pela força ou em negociações."

O especialista diz acreditar que a Coréia do Norte estaria disposta a negociar e que retomaria as discussões, mas com um grupo menor de países. Segundo ele, a China seria "crucial" nesse processo e teria uma chance para desenvolver seu papel como um "bom" membro do CS da ONU.

Questionado se a Coréia do Norte representa uma ameaça nuclear para outros países do mundo, Tsang diz que a ameaça existe, embora menor que a representada pelas outras cinco potências nucleares declaradas --China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia.

"Não acho que eles consigam construir uma arma de longo alcance, mas se quiserem ter armas nucleares para uma explosão do outro lado da sua fronteira, não precisam ter mísseis de longo alcance para isso. Armas sofisticadas seriam necessárias para alcançar um alvo americano, mas não para atacar o Japão ou a Coréia do Sul."

Tsang descarta, no entanto, o risco de um ataque norte-coreano. "Tecnicamente, eles poderiam fazê-lo, mas não fariam isso agora porque deixariam a comunidade internacional sem outra opção senão o uso da força, o que levaria ao fim do regime. E não é essa a intenção."

Leia mais
  • Proposta dos EUA contra Coréia do Norte desagrada China
  • Excêntrico, líder da Coréia do Norte é hábil estrategista
  • Entenda o caso dos testes nucleares da Coréia do Norte

    Especial
  • Leia cobertura completa sobre a crise da Coréia do Norte
  • Leia o que já foi publicado sobre o programa nuclear da Coréia do Norte
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página