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09/12/2006 - 13h33

Presidente da ANP decide convocar novas eleições palestinas

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da Folha Online

Em uma forte manobra de pressão, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, afirmou neste sábado que pretende convocar eleições antecipadas para pôr um fim ao impasse político com o governo liderado pelo grupo extremista islâmico Hamas. Abbas não descartou, no entanto, a possibilidade de alcançar um acordo com o grupo islâmico, segundo informações da Organização pela Libertação da Palestina (OLP)

Abbas anunciou sua decisão depois de um encontro com o comitê executivo da OLP, e deverá fazer um discurso formal à nação palestina na próxima semana. "Ao final do discurso, ele irá anunciar que teremos eleições presidenciais e legislativas antecipadas, mas manterá portas abertas" para a formação de um governo de unidade nacional com o Hamas, disse um dos membros do comitê, Khalida Jarar.

O Hamas imediatamente condenou a decisão de Abbas e afirmou que o presidente da ANP não tem autoridade para convocar novas eleições. "A OLP neste momento não é qualificada para decidir em nenhuma questão palestina porque os membros do comitê executivo representam apenas eles mesmos", disse Ahmed Yousef, um importante auxiliar do premiê palestino, Ismail Haniyeh, do Hamas.

OLP

A OLP é a entidade que reúne a maioria dos grupos palestinos, tanto nos territórios como no exílio. O partido do presidente da ANP, o moderado Fatah, tem controle absoluto da instituição. O Hamas e o Jihad Islâmico não integram a entidade.

Abbas buscou as recomendações da comissão depois de afirmar, na última semana, que seus esforços para formar uma coalizão moderada de governo com o Hamas (que, assim como o Fatah, possui braços político e armado) chegaram a um impasse.

Desde que o Hamas chegou ao poder, em março --após vencer as eleições democráticas palestinas em janeiro deste ano--, sua recusa em reconhecer o Estado de Israel gerou a um bloqueio internacional de fundos destinados ao governo palestino. Abbas espera que, com um novo governo, as potências ocidentais e Israel sejam persuadidas a suspenderem o bloqueio financeiro.

A crise financeira palestina, causada não só pelo boicote de ajuda de governos ocidentais mas também, principalmente, pela interrupção do repasse de valores arrecadados em impostos por parte de Israel, leva à míngua a infra-estrutura dos territórios palestinos [já bastante deteriorada ] e desencadeia confrontos devido ao atraso de salários de milhares de funcionários.

Governo de unidade nacional

Com a recusa do Hamas em aceitar as condições internacionais para o fim do bloqueio, Abbas pediu ao grupo de formasse um governo de coalizão com o Fatah, e os dois lados negociaram uma plataforma mais moderada há meses. As negociações, no entanto, não avançam devido principalmente a discordâncias quanto à divisão do gabinete e ao reconhecimento de Israel.

O bloqueio financeiro deixou o governo palestino incapaz de pagar salários integrais a mais de 165 mil trabalhadores. Nesta sábado, cerca de 2.500 policiais palestinos que não recebem há meses invadiram o Parlamento da Cidade de Gaza durante uma manifestação exigindo pagamento. Um segurança ficou ferido em uma troca de tiros com os manifestantes.

Em Hebron, na Cisjordânia, dezenas de pais com crianças no colo invadiram uma clínica médica em protesto contra o governo do Hamas. Também na Cisjordânia, na cidade de Jenin, outros 4.000 membros das forças de segurança palestinas marcharam em protesto para pressionar por seus salários.

Eleições

Participantes da reunião com Abbas e a OLP neste sábado afirmaram que ainda não foi fixado um prazo para as novas eleições. Um oficial próximo a Abbas, no entanto, disse que a votação poderá ocorrer em quatro ou cinco meses, se um governo de unidade nacional não for formado até lá. O atual Parlamento e o gabinete de governo continuariam no poder até lá.

A convocação de novas eleições é um risco para Abbas. O presidente da ANP, um moderado que foi eleito em uma votação separada em 2005, colocará seu próprio posto em risco, e não há garantias de que o Fatah melhoraria suas chances com uma nova eleição.

A percepção de corrupção do partido de Abbas foi uma das grandes responsáveis por sua derrota em janeiro deste ano. O Fatah, que dominou a política palestina por quatro décadas, continua perdendo para o Hamas em pesquisas de intenção de voto locais. Ontem, milhares de pessoas marcharam em Gaza para manifestar seu apoio a Ismail Haniyeh, dizendo que o atual premiê deveria continuar a liderar um eventual novo governo de coalizão.

Abbas se arrisca também a intensificar a tensão com o Hamas. Em meses recentes, as diferenças entre o Hamas e o Fatah freqüentemente levaram à violência. Em visita ao Irã nos últimos dias, Haniyeh continuou afirmando que jamais reconhecerá Israel, e que os palestinos não precisam aceitar a pressão internacional se contam com o apoio de Teerã.

Negociação fracassada

Em novembro, o Hamas e o Fatah chegaram perto de concordar com a formação de um novo governo, que seria formado essencialmente por tecnocratas e teria o professor universitário Mohammed Shbair, 60, como candidato a premiê para substituir Ismail Haniyeh.

No entanto, apesar da expectativa de que o novo governo fosse anunciado em poucas semanas, a discussão não avançou e o impasse ainda continua.

O princípio de acordo entre os dois grupos foi o principal sinal de progresso nas negociações, que já duram meses. Não ficou claro se o novo governo seria aceito pelos países ocidentais, principalmente se mantiver a recusa em reconhecer Israel.

Tanto Israel quanto os Estados Unidos deram sinais no último mês de que desejam dialogar com o governo palestino caso ele adote uma postura mais moderada, mas exigem ver o programa do novo governo de coalizão antes de expressar sua posição a respeito.

Com agências internacionais

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