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12/03/2007 - 18h09

EUA elaboram plano reserva para responder a fracasso no Iraque

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da Folha Online

Pressionados pela crescente oposição dentro e fora dos Estados Unidos e pela continuidade da violência sectária no Iraque, militares americanos começaram a formular uma estratégia de "reserva" para a ação no país árabe caso o plano atual falhe ou seja bloqueado pelo Congresso.

O plano de reserva, delineado na edição desta segunda-feira do jornal americano "Los Angeles Times", prevê a retirada gradual dos soldados dos EUA do país árabe e a ênfase no treinamento dos militares iraquianos.

O jornal afirma que a estratégia reserva é baseada parcialmente na experiência americana em El Salvador nos anos 1980, quando em vez de enviar tropas dos EUA, Washington investiu pesadamente no apoio financeiro e no treinamento das forças do governo local. O plano reserva ainda está, segundo o "LA Times", em seus estágios iniciais, e poderá ser ajustado para se adaptar ao resultado do atual aumento das tropas americanas no Iraque.

O presidente dos EUA, George W. Bush, ordenou em janeiro o envio de mais 21.500 soldados americanos para o combate no Iraque, contrariando expectativas da oposição que domina o Congresso e da opinião pública, cada vez mais hostil à guerra.

Já uma eventual diminuição das tropas americanas em combate estaria de acordo com um discurso feito pelo secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, ao Congresso em fevereiro. No discurso, Gates disse que se o aumento do número de soldados no Iraque falhar, o plano de reserva incluiria a remoção das tropas para "fora do perigo".

O plano de reserva seria também mais próximo das recomendações feitas pelo Grupo de Estudos para o Iraque (comissão bipartidária encarregada pela Casa Branca de elaborar propostas para a ação americana no país árabe), do qual Gates foi membro antes de substituir Donald Rumsfeld como secretário de Defesa. O grupo recomendou a ênfase no apoio das tropas iraquianas e a aproximação com países vizinhos do Iraque para a estabilização do país --até mesmo o Irã e a Síria, tradicionais adversários os EUA na região.

Alergia a estrangeiros

A estratégia de seguir o modelo de El Salvador seria uma mudança radical da atual política do presidente Bush para o Iraque, que comprometeu grande número de tropas para lutar agressivamente contra a insurgência no país. Mas o "plano b" tem, ainda de acordo com o "LA Times", forte apoio no Pentágono.

10.mar.2007/Reuters
Premiê iraquiano Nouri Al Maliki discursa em abertura de reunião sobre violência no Iraque
Premiê iraquiano Nouri Al Maliki discursa em abertura de reunião sobre violência no Iraque
"Esta parte do mundo [o Oriente Médio] tem alergia à presença estrangeira", disse um oficial sênior do Pentágono, citado em condição de anonimato no jornal americano. Para ele, as chances de sucesso com uma grande força de segurança americana no Iraque estão caindo diariamente.

Há divisões. O general em comando no Iraque, David Petraeus, defende o uso de mais forças americanas para proteger os bairros de Bagdá --de acordo com a estratégia sendo implementada atualmente no Iraque. Já o general John Abizaid, comandante das tropas americanas no Oriente Médio que está se aposentando, prefere passar mais rapidamente a responsabilidade para os iraquianos.

Em meio à crescente tensão no Congresso e no Pentágono com relação ao Iraque, a guerra no país se aproxima do início de seu quinto ano com um índice de mais de 3.000 americanos mortos.

El Salvador

O caso de El Salvador contrasta com o exemplo de outras ações militares americanas, como a guerra do Vietnã e a atual experiência no Iraque. Em El Salvador, os EUA enviaram, de acordo com o "LA Times", 55 "Green Berets" ( "boinas verdes", como são conhecidos os membros das Forças Especiais do Exército dos EUA) para ajudar militares salvadorenhos a lutar contra rebeldes marxistas de 1981 a 1992, quando acordos de paz foram assinados.

Chris Hondros/Reuters
General David Petraeus defende tomada dos bairros de Bagdá pelas forças americanas
General David Petraeus defende tomada dos bairros de Bagdá pelas forças americanas
O papel dos EUA em El Salvador ainda é controverso. Alguns acadêmicos afirmam que o Exército americano permitiu a ação de esquadrões da morte pelo governo salvadorenho --e até os ajudou. Ex-conselheiros e historiadores militares, no entanto, afirmam que os EUA gradualmente profissionalizaram o Exército salvadorenho e coibiu abusos do governo.

O uso do modelo salvadorenho permitiria uma presença menor e menos visível das tropas americanas no Iraque, que atuariam apenas como conselheiros e treinadores. Mas oficiais do Pentágono citados pelo jornal americano afirmam que, no Iraque, um número muito maior do que os 55 "Boinas Verdes" de El Salvador seria necessário. A quantidade de conselheiros no país árabe pode, segundo o plano reserva, chegar à casa dos milhares.

Oposição

O plano de reserva já tem seus críticos. Stephen Biddle, pesquisador de políticas de defesa da organização independente americana Conselho de Relações Exteriores, afirma que o modelo de El Salvador não funcionará no Iraque.

Segundo Biddle, a luta no país da América Central era contra uma insurgência marxista, enquanto a no Iraque é uma guerra civil entre xiitas e sunitas --e treinar o governo dominado pelos xiitas só traria mais conflitos.

"Eles estão totalmente comprometidos com a idéia de que o caminho é entregar a responsabilidade pela segurança para os militares locais, mas isso é errado", diz Biddle.

Para ele, a solução seria ou a retirada total ou o aumento real das tropas, mas não um meio-termo como o dos planos anunciados até o momento.

Congresso

Na última semana, em um desafio aberto ao presidente dos EUA, os democratas na Câmara dos Representantes revelaram um projeto de lei que prevê a retirada das tropas americanas do Iraque até 1 de setembro de 2008.

A líder do Congresso, Nancy Pelosi, disse que será a primeira vez que o Congresso, dominado pelos democratas, estabelecerá uma "data certa" para o fim dos combates americanos no Iraque, numa guerra que já dura quatro anos e deixou um saldo de mais de 3.100 soldados americanos e milhares de iraquianos mortos.

Pelosi quer a proposta aprovada como parte de um projeto de US$ 100 bilhões de fundos para as guerras no Iraque e no Afeganistão.

Dusan Vranic/AP
Soldado revista suspeito nos arredores de Muqdadiyah, 90 km ao norte de Bagdá<BR>
Soldado revista suspeito nos arredores de Muqdadiyah, 90 km ao norte de Bagdá
O projeto de lei pede que Bush ateste, no dia 1 de julho e novamente em 1 de outubro, se o governo iraquiano realizou progressos no sentido de melhorar a segurança no país, além de distribuir os rendimentos do petróleo e de criar um sistema justo para melhorar sua Constituição.

Caso Bush confirme que a situação no Iraque melhorou, a retirada das tropas de combate começaria em 1 de março de 2008 e seria concluída até 1 de setembro. Caso contrário, a retirada será acelerada.

Se Bush não conseguir confirmar que a situação no Iraque melhorou até 1 de julho, a retirada de tropas começaria imediatamente, ainda neste ano, e terminaria em seis meses. O mesmo ocorreria se Bush não conseguir a segunda confirmação. A proposta é um desafio a Bush, que ordenou o envio de tropas extras para o Iraque e se opõe a prazos de retirada.

Com "Los Angeles Times" e agências internacionais

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