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05/04/2007
-
09h46
MARCELO NINIO
da Folha de S.Paulo
O show montado pelo Irã para a libertação dos militares britânicos rendeu pontos para o seu presidente, Mahmoud Ahmadinejad, que aproveitou a chance para aliviar a pressão internacional que sofre por causa do polêmico programa nuclear do país e das diatribes que costuma lançar contra Israel e os Estados Unidos.
Para a maioria dos analistas, foi ele o maior beneficiado com o desfecho da crise.
"Ahmadinejad foi o grande vencedor. Ele conseguiu comer o bolo e, ao mesmo tempo, deixá-lo inteiro: fulminou o Ocidente e também levou o crédito pela libertação dos marinheiros", disse à Folha, por e-mail, o especialista em Irã Gary Sick, que foi assessor de três governos americanos, de Gerald Ford (1974-1977) a Ronald Reagan (1981-1989).
Racha na aliança
Para o historiador iraniano Hamid Dabashi, a estratégia de Teerã foi rachar a aliança anglo-americana no Iraque. "Foi um triunfo de relações públicas para Ahmadinejad, especialmente se compararmos o tratamento humano recebido pelos britânicos com as atrocidades cometidas em Abu Ghraib, Guantánamo e Bagram [prisões americanas]", disse Dabashi, professor da Universidade Columbia (EUA), por telefone à Folha.
"Acho que isso pode ter um impacto na opinião pública britânica e causar divisões entre Londres e Washington."
A imprensa britânica não poupou críticas ao governo e ao comando militar do país. Em editorial publicado hoje, o "Financial Times" acha difícil entender como patrulhas despreparadas operavam nas "águas mais perigosas do mundo".
O jornal classifica de "particularmente tola" a tentativa do governo de argumentar que as embarcações estavam no lado iraquiano "de uma fronteira marítima que não existe formalmente", quando o melhor seria insistir que as patrulhas cumpriam resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
Assim como o "Financial Times", o "Guardian" também considera que a diplomacia saiu ganhando no episódio como a melhor forma de lidar com a república islâmica. O incidente, diz o jornal londrino, "fortalece a posição dos diplomatas no interminável debate com a linha dura sobre o que fazer com o Irã".
Gary Sick, o veterano especialista que era um dos principais assessores da Casa Branca sobre o Irã durante a crise dos reféns na embaixada americana em Teerã, em 1979, discorda.
"A credibilidade do Irã na comunidade internacional e sua capacidade de angariar apoio na ONU foi seriamente abalada", diz Sick. "Suspeito que foi o reconhecimento disso que levou o Irã a terminar essa disputa o mais rapidamente possível."
Fred Burton, analista da agência americana de inteligência privada Stratfor, acha que a intenção dos aiatolás que controlam o regime de Teerã foi justamente dar uma demonstração de força.
"O Irã instigou o drama pela mesma razão que manteve 52 americanos reféns por 444 dias após a invasão da Embaixada dos EUA por estudantes radicais, em 1979", escreveu Burton.
"Os dois incidentes serviram para mostrar a força da linha dura iraniana, não só para o público iraniano mas também para o Ocidente e o resto do mundo."
O iraniano Dabashi, por sua vez, vê mais diferenças que semelhanças entre os dois episódios, razão pela qual também considera o Irã vitorioso. "A percepção geral parece ser que o Irã teve sua integridade territorial violada, foi militarmente eficiente na resposta e teve um gesto de grandeza ao libertar os militares. E não convém desprezar o poder que as percepções têm em política."
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O show montado pelo Irã para a libertação dos militares britânicos rendeu pontos para o seu presidente, Mahmoud Ahmadinejad, que aproveitou a chance para aliviar a pressão internacional que sofre por causa do polêmico programa nuclear do país e das diatribes que costuma lançar contra Israel e os Estados Unidos.
Para a maioria dos analistas, foi ele o maior beneficiado com o desfecho da crise.
"Ahmadinejad foi o grande vencedor. Ele conseguiu comer o bolo e, ao mesmo tempo, deixá-lo inteiro: fulminou o Ocidente e também levou o crédito pela libertação dos marinheiros", disse à Folha, por e-mail, o especialista em Irã Gary Sick, que foi assessor de três governos americanos, de Gerald Ford (1974-1977) a Ronald Reagan (1981-1989).
Racha na aliança
Para o historiador iraniano Hamid Dabashi, a estratégia de Teerã foi rachar a aliança anglo-americana no Iraque. "Foi um triunfo de relações públicas para Ahmadinejad, especialmente se compararmos o tratamento humano recebido pelos britânicos com as atrocidades cometidas em Abu Ghraib, Guantánamo e Bagram [prisões americanas]", disse Dabashi, professor da Universidade Columbia (EUA), por telefone à Folha.
"Acho que isso pode ter um impacto na opinião pública britânica e causar divisões entre Londres e Washington."
A imprensa britânica não poupou críticas ao governo e ao comando militar do país. Em editorial publicado hoje, o "Financial Times" acha difícil entender como patrulhas despreparadas operavam nas "águas mais perigosas do mundo".
O jornal classifica de "particularmente tola" a tentativa do governo de argumentar que as embarcações estavam no lado iraquiano "de uma fronteira marítima que não existe formalmente", quando o melhor seria insistir que as patrulhas cumpriam resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
Assim como o "Financial Times", o "Guardian" também considera que a diplomacia saiu ganhando no episódio como a melhor forma de lidar com a república islâmica. O incidente, diz o jornal londrino, "fortalece a posição dos diplomatas no interminável debate com a linha dura sobre o que fazer com o Irã".
Gary Sick, o veterano especialista que era um dos principais assessores da Casa Branca sobre o Irã durante a crise dos reféns na embaixada americana em Teerã, em 1979, discorda.
"A credibilidade do Irã na comunidade internacional e sua capacidade de angariar apoio na ONU foi seriamente abalada", diz Sick. "Suspeito que foi o reconhecimento disso que levou o Irã a terminar essa disputa o mais rapidamente possível."
Fred Burton, analista da agência americana de inteligência privada Stratfor, acha que a intenção dos aiatolás que controlam o regime de Teerã foi justamente dar uma demonstração de força.
"O Irã instigou o drama pela mesma razão que manteve 52 americanos reféns por 444 dias após a invasão da Embaixada dos EUA por estudantes radicais, em 1979", escreveu Burton.
"Os dois incidentes serviram para mostrar a força da linha dura iraniana, não só para o público iraniano mas também para o Ocidente e o resto do mundo."
O iraniano Dabashi, por sua vez, vê mais diferenças que semelhanças entre os dois episódios, razão pela qual também considera o Irã vitorioso. "A percepção geral parece ser que o Irã teve sua integridade territorial violada, foi militarmente eficiente na resposta e teve um gesto de grandeza ao libertar os militares. E não convém desprezar o poder que as percepções têm em política."
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