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05/04/2007
-
08h24
da Folha Online
Após quase duas semanas de impasse, chegaram a Londres na manhã nesta quinta-feira os 15 militares britânicos libertados ontem pelo Irã. O grupo ficou detido no país persa durante 13 dias e recebeu uma surpreendente "anistia" do presidente iraniano em uma cerimônia nesta quarta-feira, após uma escalada na tensão entre o Irã e o Reino Unido que levou ao corte de relações entre os dois países.
A aeronave que transportava o grupo de 14 homens e uma mulher aterrissou no aeroporto internacional de Heathrow às 11h02 (7h02 de Brasília). Os marinheiros e fuzileiros navais britânicos foram transferidos para helicópteros militares, nos quais seriam levados para uma base militar em Chivenor, Devon, ao sudoeste de Londres, para um encontro particular com familiares. Espera-se que eles também prestem depoimentos iniciais para as Forças Armadas britânicas na base sobre a detenção.
No Irã, os britânicos haviam sido levados até o pavilhão oficial do aeroporto internacional de Mehrhabad em dois pequenos ônibus escoltados pela polícia iraniana. No local estavam também o embaixador do Reino Unido em Teerã, Geoffrey Adams, e outros diplomatas britânicos.
Ontem ocorreu a primeira reunião dos militares britânicos com Adams desde a detenção, no dia 23 de março, informou o Ministério das Relações Exteriores em Londres. O local do encontro não foi revelado.
O impasse começou no último dia 23 de março, quando os 15 militares britânicos foram detidos por Teerã por terem supostamente entrado ilegalmente nas águas iranianas, acusação que o Reino Unido negou.
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O líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou a "anistia" de seu país aos britânicos em uma entrevista coletiva realizada na última quarta-feira. "Os 15 marinheiros receberam nosso perdão, e oferecemos sua liberdade como um presente ao povo britânico", disse.
O anúncio da libertação surpreendeu os britânicos. Na última terça-feira (3), a chanceler do Reino Unido, Margaret Beckett, havia afirmado que o impasse poderia levar ainda algum tempo para ser resolvido. Após a libertação, o premiê Tony Blair negou que tivesse negociado com os iranianos.
"Desde o início adotamos uma postura comedida, firme mas tranqüila, sem negociar, mas sem confrontações", disse o premiê. Ele insistiu que o fim do impasse trazia um "alívio profundo" para o Reino Unido.
O embaixador britânico na ONU (Organização das Nações Unidas), Emyr Jones Parry, também negou que seu país negociou bilateralmente a libertação dos 15 marinheiros e fuzileiros navais por Teerã. Em uma entrevista coletiva na organização realizada nesta quarta-feira, Parry descartou a existência de negociações prévias e disse que ocorreram apenas "discussões de embaixadores".
Em Londres, Blair agradeceu a todos que participaram de alguma forma na libertação --a Europa, o Conselho de Segurança da ONU e também seus "aliados na região". A ONU, assim como países europeus e do Oriente Médio (especialmente a Síria e o Qatar), pressionaram o Irã a libertarem os britânicos durante a detenção.
Gratidão britânica
Após anunciar oficialmente a libertação, o presidente iraniano reuniu-se com o grupo no palácio presidencial. Imagens exibidas pela TV estatal iraniana mostraram Ahmadinejad cumprimentando os militares e conversando com o grupo com a ajuda de intérpretes. Na gravação, é possível ouvir um dos 15 militares dizer em inglês ao presidente: "Estamos gratos pelo seu perdão".
Durante a entrevista coletiva, Ahmadinejad deu medalhas de condecoração aos guardas da costa iraniana que interceptaram a embarcação britânica, reiterando que os militares estavam em águas territoriais do Irã no momento em que foram capturados.
"Em nome do grande povo iraniano, quero agradecer à Guarda Costeira, que corajosamente defendeu nossas águas territoriais e deteve aqueles que violaram nossa fronteira", disse o líder do Irã. Em seguida, interrompeu o discurso e deu medalhas a três guardas.
Na controvérsia, o Irã acusou o grupo de marinheiros e marines britânicos de invadir suas águas. O Reino Unido negou a invasão, dizendo que os militares faziam uma inspeção de rotina em águas iraquianas na região do canal de Shatt al Arab quando foram capturados.
Ahmadinejad criticou o destacamento da marinheira Faye Turney, 26, a única mulher do grupo, lembrando que ela é mãe de crianças pequenas. "Como se justifica que uma mãe fique fora de casa, longe de seus filhos? Não se respeita os valores familiares no Ocidente?".
Reação britânica
O governo do Reino Unido elogiou a decisão iraniana. "Cumprimentamos o que o Irã disse sobre a libertação dos 15 militares", disse um porta-voz de Downing Street, casa oficial do premiê britânico.
O presidente dos EUA, George W. Bush elogiou a decisão. "Assim como o premiê [Tony] Blair, o presidente Bush saúda a notícia", disse a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino.
Bush havia afirmado anteriormente que a captura dos 15 marinheiros britânicos pelo Irã era um "comportamento inaceitável", e que se opôs a qualquer concessão em troca da libertação.
Após 12 dias de crise, Irã e Reino Unido já davam sinais de que iriam contornar a questão por meio da diplomacia. Nesta quarta-feira, Naigil Shinvald, conselheiro do premiê britânico, Tony Blair, conversou por telefone com Ali Larijani, chefe do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, para discutir a questão, segundo a agência oficial Irna.
Depois de cortar relações com o Irã, o Reino Unido só permitia discussões sobre a detenção dos marinheiros e fuzileiros navais britânicos detidos no país persa.
Outra captura
Irã e Reino Unido viveram um incidente similar em 2004, quando o regime de Teerã manteve detidos durante três dias oito militares britânicos acusados de entrarem de forma ilegal em águas territoriais do Irã no golfo Pérsico. Na época, o Reino Unido também negou a invasão.
A tensão teve início na mesma semana em que o Conselho de Segurança da ONU aprovou novas sanções contra Teerã por sua insistência em manter seu programa nuclear.
Após a libertação, a rede de TV Sky News afirmou que a Síria e o Qatar desempenharam papéis importantes para a resolução da controvérsia. A Embaixada síria em Londres confirmou o envolvimento de Damasco no fim da crise entre Irã e Reino Unido.
Anteriormente, o ministro sírio das Relações Exteriores, Walid al Moallem, afirmou a um jornal do Kuait que seu país estaria mediando o impasse entre o Reino Unido e o Irã.
"A solução deve ser diplomática, e a Síria agora negocia esse processo entre os dois países", afirmou Moallem ao jornal "Al Anba", em entrevista em Damasco. "Nós torcemos por uma solução satisfatória, que leve à resolução da crise em torno da prisão dos britânicos".
Entre as nações árabes, a Síria é o mais próximo aliado do Irã, que é um país persa. Os dois países estreitaram ainda mais as relações quando passaram a ser acusados pelos Estados Unidos e pela União Européia (UE) de interferirem nos conflitos no Iraque e no Líbano.
Com agências internacionais
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Após quase duas semanas de impasse, chegaram a Londres na manhã nesta quinta-feira os 15 militares britânicos libertados ontem pelo Irã. O grupo ficou detido no país persa durante 13 dias e recebeu uma surpreendente "anistia" do presidente iraniano em uma cerimônia nesta quarta-feira, após uma escalada na tensão entre o Irã e o Reino Unido que levou ao corte de relações entre os dois países.
A aeronave que transportava o grupo de 14 homens e uma mulher aterrissou no aeroporto internacional de Heathrow às 11h02 (7h02 de Brasília). Os marinheiros e fuzileiros navais britânicos foram transferidos para helicópteros militares, nos quais seriam levados para uma base militar em Chivenor, Devon, ao sudoeste de Londres, para um encontro particular com familiares. Espera-se que eles também prestem depoimentos iniciais para as Forças Armadas britânicas na base sobre a detenção.
Reuters |
Britânicos libertados pelo Irã chegam ao aeroporto de Heathrow, no Reino Unido |
Ontem ocorreu a primeira reunião dos militares britânicos com Adams desde a detenção, no dia 23 de março, informou o Ministério das Relações Exteriores em Londres. O local do encontro não foi revelado.
O impasse começou no último dia 23 de março, quando os 15 militares britânicos foram detidos por Teerã por terem supostamente entrado ilegalmente nas águas iranianas, acusação que o Reino Unido negou.
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O líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou a "anistia" de seu país aos britânicos em uma entrevista coletiva realizada na última quarta-feira. "Os 15 marinheiros receberam nosso perdão, e oferecemos sua liberdade como um presente ao povo britânico", disse.
O anúncio da libertação surpreendeu os britânicos. Na última terça-feira (3), a chanceler do Reino Unido, Margaret Beckett, havia afirmado que o impasse poderia levar ainda algum tempo para ser resolvido. Após a libertação, o premiê Tony Blair negou que tivesse negociado com os iranianos.
"Desde o início adotamos uma postura comedida, firme mas tranqüila, sem negociar, mas sem confrontações", disse o premiê. Ele insistiu que o fim do impasse trazia um "alívio profundo" para o Reino Unido.
O embaixador britânico na ONU (Organização das Nações Unidas), Emyr Jones Parry, também negou que seu país negociou bilateralmente a libertação dos 15 marinheiros e fuzileiros navais por Teerã. Em uma entrevista coletiva na organização realizada nesta quarta-feira, Parry descartou a existência de negociações prévias e disse que ocorreram apenas "discussões de embaixadores".
Em Londres, Blair agradeceu a todos que participaram de alguma forma na libertação --a Europa, o Conselho de Segurança da ONU e também seus "aliados na região". A ONU, assim como países europeus e do Oriente Médio (especialmente a Síria e o Qatar), pressionaram o Irã a libertarem os britânicos durante a detenção.
Gratidão britânica
Após anunciar oficialmente a libertação, o presidente iraniano reuniu-se com o grupo no palácio presidencial. Imagens exibidas pela TV estatal iraniana mostraram Ahmadinejad cumprimentando os militares e conversando com o grupo com a ajuda de intérpretes. Na gravação, é possível ouvir um dos 15 militares dizer em inglês ao presidente: "Estamos gratos pelo seu perdão".
Durante a entrevista coletiva, Ahmadinejad deu medalhas de condecoração aos guardas da costa iraniana que interceptaram a embarcação britânica, reiterando que os militares estavam em águas territoriais do Irã no momento em que foram capturados.
"Em nome do grande povo iraniano, quero agradecer à Guarda Costeira, que corajosamente defendeu nossas águas territoriais e deteve aqueles que violaram nossa fronteira", disse o líder do Irã. Em seguida, interrompeu o discurso e deu medalhas a três guardas.
Na controvérsia, o Irã acusou o grupo de marinheiros e marines britânicos de invadir suas águas. O Reino Unido negou a invasão, dizendo que os militares faziam uma inspeção de rotina em águas iraquianas na região do canal de Shatt al Arab quando foram capturados.
Ahmadinejad criticou o destacamento da marinheira Faye Turney, 26, a única mulher do grupo, lembrando que ela é mãe de crianças pequenas. "Como se justifica que uma mãe fique fora de casa, longe de seus filhos? Não se respeita os valores familiares no Ocidente?".
Reação britânica
O governo do Reino Unido elogiou a decisão iraniana. "Cumprimentamos o que o Irã disse sobre a libertação dos 15 militares", disse um porta-voz de Downing Street, casa oficial do premiê britânico.
O presidente dos EUA, George W. Bush elogiou a decisão. "Assim como o premiê [Tony] Blair, o presidente Bush saúda a notícia", disse a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino.
Bush havia afirmado anteriormente que a captura dos 15 marinheiros britânicos pelo Irã era um "comportamento inaceitável", e que se opôs a qualquer concessão em troca da libertação.
Após 12 dias de crise, Irã e Reino Unido já davam sinais de que iriam contornar a questão por meio da diplomacia. Nesta quarta-feira, Naigil Shinvald, conselheiro do premiê britânico, Tony Blair, conversou por telefone com Ali Larijani, chefe do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, para discutir a questão, segundo a agência oficial Irna.
Depois de cortar relações com o Irã, o Reino Unido só permitia discussões sobre a detenção dos marinheiros e fuzileiros navais britânicos detidos no país persa.
Outra captura
Irã e Reino Unido viveram um incidente similar em 2004, quando o regime de Teerã manteve detidos durante três dias oito militares britânicos acusados de entrarem de forma ilegal em águas territoriais do Irã no golfo Pérsico. Na época, o Reino Unido também negou a invasão.
A tensão teve início na mesma semana em que o Conselho de Segurança da ONU aprovou novas sanções contra Teerã por sua insistência em manter seu programa nuclear.
Após a libertação, a rede de TV Sky News afirmou que a Síria e o Qatar desempenharam papéis importantes para a resolução da controvérsia. A Embaixada síria em Londres confirmou o envolvimento de Damasco no fim da crise entre Irã e Reino Unido.
Anteriormente, o ministro sírio das Relações Exteriores, Walid al Moallem, afirmou a um jornal do Kuait que seu país estaria mediando o impasse entre o Reino Unido e o Irã.
"A solução deve ser diplomática, e a Síria agora negocia esse processo entre os dois países", afirmou Moallem ao jornal "Al Anba", em entrevista em Damasco. "Nós torcemos por uma solução satisfatória, que leve à resolução da crise em torno da prisão dos britânicos".
Entre as nações árabes, a Síria é o mais próximo aliado do Irã, que é um país persa. Os dois países estreitaram ainda mais as relações quando passaram a ser acusados pelos Estados Unidos e pela União Européia (UE) de interferirem nos conflitos no Iraque e no Líbano.
Com agências internacionais
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