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07/12/2008 - 16h47

Africanos unem-se a pressão por intervenção militar no Zimbábue

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da Folha Online

A pressão internacional sobre o governo do Zimbábue chegou neste fim de semana ao ápice, com apelos abertos pela renúncia ou deposição do ditador Robert Mugabe. O país enfrenta um colapso econômico, com a inflação de 231.000.000% anuais, um impasse político e uma epidemia de cólera, impulsionada pela falência do saneamento básico, que matou mais de 500 pessoas.

Neste domingo o primeiro-ministro do Quênia, Raila Odinga, disse que tropas estrangeiras devem se preparar para intervir no Zimbábue, para dar fim à crise humanitária, e que Mugabe deveria ser investigado por crimes contra a humanidade.

"Se não houver tropas disponíveis, então a União Africana (UA) deve permitir que as Nações Unidas enviem as suas forças para o Zimbábue, com efeito imediato, para assumir o controle do país e garantir a assistência humanitária urgente para as pessoas que morrem de cólera", disse Odinga, defendendo a realização de uma cúpula de emergência dos países da região.

A declaração vem a público um dia depois de a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, afirmar que os países da região deviam tomar medidas concretas contra o presidente do Zimbábue.

"Já passou da hora de Mugabe sair. Se para a comunidade internacional isso não é uma evidência de que é hora de agir, eu não sei o que será", disse ela.

Haia

Exortações à intervenção ainda mais delicadas politicamente vieram da ex-metrópole colonial do Zimbábue. O primeiro-ministro do reino Unido, Gordon Brown, disse no sábado que a crise virou uma emergência internacional e pediu ao mundo que se una para dizer "basta" a Mugabe.

Em um comunicado, Brown argumentou que a crise no país africano "é internacional porque as doenças cruzam fronteiras" e porque "os sistemas do governo do Zimbábue estão partidos".

"Não há um Estado capaz ou disposto a proteger sua gente", afirmou o primeiro-ministro britânico.

O arcebispo anglicano de York, John Sentamu, também se manifestou em termos contundentes em artigo publicado neste domingo no jornal semanal londrino "The Observer".

"Chegou a hora de Robert Mugabe responder por seus crimes contra a humanidade, contra os homens e mulheres do seu país, e de ser feita a justiça. Os ventos da mudança que um dia trouxeram esperança para o Zimbábue e para os seus vizinhos transformaram-se em um furacão de destruição, com o surto de cólera, miséria, fome e abuso sistemático de poder pelo Estado", escreveu o religioso, que há um ano retirou na TV seu colarinho de sacerdote e disse que voltaria a usá-lo quando Mugabe caísse.

No artigo, ele defendeu que o presidente do Zimbábue seja deposto e levado para o Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda: "Enquanto um país grita por justiça, nós não podemos ficar parados diante do chamado. Robert Mugabe e seus seguidores devem agora ocupar o seu lugar de direito em Haia e responder por suas ações. A hora de tirá-los do poder chegou".

Críticas africanas

O governo do Zimbábue reagiu apelando para o sentimento anticolonialista. Um jornal estatal informou neste domingo a ex-metrópole está usando a epidemia de cólera como desculpa para conseguir apoio ocidental para uma invasão.

"Eu não sei do que este louco primeiro-ministro (Brown) está falando. Ele está pedindo uma invasão do Zimbábue ... mas ele vai fracassar ", disse George Charamba, porta-voz do governo ao jornal.

O governo freqüentemente culpa o Reino Unido e outras nações ocidentais pelos problemas do Zimbábue, dizendo que sanções contra Mugabe e seu círculo mais próximo de seguidores sabotaram a economia.

Mas o discurso contra as antigas metrópoles e a aura de herói africano que Mugabe um dia ostentou já não são suficientes para garantir o apoio de todos os vizinhos.

O ministro dos das Relações Exteriores de Botsuana, Phandu Skelemani e o arcebispo anglicano sul-africano, Desmond Tutu, também fizeram apelos pela remoção do ditador.

"Existe amargo desapontamento em relação à atual liderança", disse o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, um ganense, em uma declaração emitida pelo "Grupo dos Anciãos", um grupo de figuras proeminentes, que inclui a ex-EUA Presidente Jimmy Carter e Tutu.

"Este governo não demonstrou a capacidade de conduzir o país para sair da crise", afirmou Annan, que, juntamente com Carter e Graça Machel, a esposa de Nelson Mandela, foi impedido pelo governo de entrar no Zimbábue no mês passado, para uma visita humanitária.

Impasse político

Mugabe, de 84 anos, governa o país desde 1980, após derrotar um regime segregacionista branco liderado por pessoas de origem britânica. Ele é considerado o pai da verdadeira independência do Zimbábue, já que o regime que dominou o país após o fim da dominação inglesa, em 1965, excluiu do governo a maioria negra.

O confisco de terras dos fazendeiros brancos no início desta década levou ao colapso da produção de fumo e agravou a situação econômica do país.

Em meio à crise, havia esperança em alguns setores de que as eleições marcadas para o início deste ano trouxessem a mudança ao país, o que se materializou na votação de Morgan Tsvangirai, líder do Movimento pela Mudança Democrática (MDC, na sigla em inglês), nas eleições presidenciais de 29 de março. Ele ficou em primeiro lugar, mas, por não ter obtido maioria absoluta dos votos, foi realizado um segundo turno, em 27 de junho.

No entanto, uma semana antes do segundo turno, Tsvangirai se retirou das eleições por causa de ataques contra seus partidários por forças fiéis a Mugabe. O presidente concorreu sozinho e obteve mais de 80% dos votos.

Sob pressão internacional e diante da deterioração das condições do país, Mugabe assinou um acordo com a oposição em setembro, para divisão de poder, mas logo descumpriu muitos dos termos do acordo, e a formação de um governo de união nacional continua indefinida.

Com Reuters

 

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