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17/01/2010 - 08h25

Doações em dinheiro contornam governo do Haiti

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LUCIANA COELHO
da Folha de S. Paulo, em Genebra (Suíça)

Países, agências internacionais, entidades de caridade, empresas e indivíduos estão evitando doações diretas em dinheiro ao governo haitiano, mostra a análise detalhada dos números do Serviço de Rastreamento Financeiro, banco de dados de doações humanitárias globais mantido pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Indagado sobre o monitoramento da aplicação dos fundos, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou na sexta-feira (15) que se trata de uma necessidade e que a ONU decidirá ainda como fazê-lo.

A administração de recursos para o Haiti tem provocado questionamentos. O colunista conservador Andres Oppenheimer, do "Miami Herald", exortou nesta semana a criação de uma junta independente que monitore o uso da verba.

"Em um país onde o Estado é tão fraco que não consegue, na prática, manter serviços públicos e onde a corrupção é escrachada, muitos temem que tão logo a notícia saia das manchetes o fluxo de ajuda suma", escreveu. "E que boa parte do que chegou ao Haiti seja roubada."

Até agora, 119 grupos doaram efetivamente cerca de US$ 160 milhões em dinheiro e suprimentos às vítimas do terremoto. O número sobe em US$ 140 milhões se consideradas promessas não firmadas como compromisso, mais do que todo o montante de US$ 258,4 milhões doados durante 2009 em 70 desastres naturais.

Mas apenas três deles --os governos da Suíça e da Guiana e o Banco Interamericano de Desenvolvimento-- se propuseram a dar dinheiro em espécie ao governo em Porto Príncipe.

Há padrões. Na maioria dos casos, as doações são canalizadas por agências da ONU (opção feita pelo Brasil, por exemplo, que entregará seus recursos nas mãos da Ocha, braço da ONU para ajuda humanitária) ou por agências humanitárias mantidas pelo próprio país doador (caso dos EUA, que administram a verba pela Usaid).

Empresas e indivíduos em geral fazem doações por entidades e ONGs --os atores Angelina Jolie e Brad Pitt prometeram seu milhão à Médicos Sem Fronteiras, e a General Motors, "a ONGs", genericamente.

De qualquer forma, todos os casos de doações diretas ao governo haitiano listados (com exceção dos três já citados) são em remédios ou equipes de resgate e atendimento às vítimas. Mesmo a entrega de alimentos e cobertores é administrada por agências humanitárias.

Capacidade estatal

Arrecadar dinheiro não tem sido, até o momento, um problema. A ONU estima precisar de cerca de US$ 560 milhões para o socorro imediato. Promessas oficiais e não oficiais já superam os US$ 300 milhões, e pedidos de doações pipocam em sites de órgãos internacionais e empresas. O temor é sobre o uso dos fundos. "É preciso ter transparência e prestar contas de como esse dinheiro será usado", disse Ban.

A administração de verba humanitária por agências da ONU ou agências nacionais é normalmente a opção preferida na maioria dos desastres. Mas em casos anteriores --como o terremoto de Sichuan, na China, em 2007, e o ocorrido no Peru no ano seguinte-- uma parcela maior das doações foi entregue ao governo nacional para sua própria administração.

Isso expõe duas coisas sobre o Haiti. A primeira é a desconfiança do alto índice de corrupção do país (o 168º no ranking da Transparência Internacional). A outra é a descrença em um Estado erodido por ingerência externa, governos fracos, golpes e desastres naturais.

Uma análise dos dados compilados pela ONU mostra que os únicos países onde o governo é praticamente barrado de administrar a ajuda humanitária são aqueles onde o Estado é frágil e não alcança todo o território, como Somália e Iraque.

"As agências [humanitárias no Haiti] encontrarão um ambiente de ações inacabadas de operações anteriores. É difícil achar outro país que tenha recebido tantas forças de paz, estabilização e ações de crise nos últimos 30 anos", escreveu Kara McDonald, especialista em planejamento de ações multilaterais de paz, no site do Council on Foreign Relations. "O terremoto não pode ser outra chance para fracassar."

A preocupação quanto ao decréscimo de fundos também é pertinente, embora o quadro não seja dos mais desanimadores. Em média, após um ano do lançamento do apelo humanitário, entre 60% e 70% dos fundos foram entregues ou estão prometidos em acordo juridicamente vinculante, mostram os dados analisados pela Folha.

Passados dois anos, a média sobe de 70% a 90%. Há casos em que apenas um terço é obtido, mas há outros em que 100% do pedido é cumprido. Para as vítimas do furacão Gustav, que atingiu o Haiti em 2008, foram pedidos US$ 121 milhões e doados US$ 73 milhões --60,5%.

Comentários dos leitores
Ze Vitrola (72) 02/02/2010 20h53
Ze Vitrola (72) 02/02/2010 20h53
Gandin, escreveu:
" ... imagino que uma pessoa fale tanto mal do presidente, não deva nem jogar lixo na lixeira e, sim, em via pública da janela do importado dele. (risos).
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Vc é um daqueles que nem sabe o que fala ou escreve, então a gente precisa desenhar. Se vc nunca me viu, não sabe se sou mais magro ou mais gordo, como pode inventar uma asneira dessa para ter o que escrever? Isso é ser leviano, infantil.
sem opinião
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marcos cesar fernandes (232) 02/02/2010 19h10
marcos cesar fernandes (232) 02/02/2010 19h10
Sr. Jose R. N. Filho. Gostei muito de seu testemunho e isso prova que há pessoas que sabem aproveitar os limões que a vida lhe oferecem e transforma-los em limonada. No caso das crianças haitianas houve muito desrespeito, pois o país, apesar de viver uma situação caótica, ainda tem suas leis e leis devem ser respeitadas.
No Brasil existem as leis que pegam e as que não pegam. Dentre as que pegaram está a Lei de Gerson, infeliz propaganda de cigarro feita por quem pela lógica deveria ser totalmente contra, por tratar-se de um atleta. Não podemos esquecer que o tabagismo, assim como o alcoolismo, são agentes causais da pressão alta. Como essa lei vale para todas as camadas socias, possivelmente existem milhares de mães pelo Brasil afora que se sentem orgulhosas quanto seus filhos fazem uso dela e se tornam cidadãos expressivos na sociedade, não por seus feitos positivos, mas por obterem prestígio e admiração justamente por serem espertos e aproveitadores.
Vejo como um fator positivo para o Haiti a sua proximidade com os EUA e seu grande mercado. Se se aproveitar o clima tropical para produzir frutas como o abacaxi e o mamão papaya que praticamente só é produzido no Hawai, o Haiti terá um importador garantido, e nestas duas culturas nós brasileiros somos experts. Pode-se aproveitar o clima da ilha para produzir cacau, abacate, seringais, uvas etc.
Cabe a agora aos paises com bom know-how agrícola se disporem a ajudar o Haiti, e só assim sairão desse estágio de atrazo.
sem opinião
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Regina Martins (141) 02/02/2010 09h27
Regina Martins (141) 02/02/2010 09h27
Para onde estão sendo levadas as crianças haitianas?
Para uma vida melhor, uma adoção justa?
Ou serão escravos de pessoas ditas boazinhas?
Acho q a UNICEF tem a obrigação de apurar.
7 opiniões
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