Petistas encaçaparam bolas importantes, mas seguem jogando
na mesa do adversário
O PT
teve um êxito reluzente nas eleições encerradas
no último domingo. Não foi o seu primeiro triunfo.
Por certo não será o último. Mas as urnas municipais
não tiveram o condão de alterar uma velha sina do
partido: qualquer vitória do PT sempre estará separada
da derrota por uma nova candidatura presidencial de Lula.
Lula
é a principal evidência de que a política brasileira
não está aí para prestar homenagens à
racionalidade. Num país em que os excluídos compõem
grossa maioria, só mesmo a falta de lógica pode explicar
os motivos que levam um personagem como Lula a ser derrotado por
alguém com o berço de Collor ou com o pê
aga dê e a soberba de FHC.
Um
eventual governo de Lula poderia ser melhor ou pior do que qualquer
outro. Não é isso o que se discute. O que se argumenta
é que Lula já provou, em três oportunidades,
que a exclusão social brasileira não está disposta
a votar em si mesma. Nem para testar.
O PT
reúne-se nos próximos dias, para interpretar a própria
vitória e programar os passos seguintes. A despeito da fragilidade
de sua pretensão, não há, por ora, o menor
sinal de que Lula esteja prestes a protagonizar o grande gesto,
sem o qual o partido não tem como se livrar da tendência
suicida.
O curioso
é que o eleitorado deu algumas demonstrações
de que confia no PT. Mas só até certo ponto. O ponto
de interrogação que enxerga atrás do sonho
presidencial de Lula. O PT aumenta sua representação
parlamentar a cada eleição e detém o governo
de alguns Estados. Nos municípios, consolida-se como opção
honesta e, por vezes, criativa. Na politizada Porto Alegre, vai
para a quarta administração sucessiva. Mas para a
Presidência... Com Lula...
Sob
reserva, o próprio Lula reconhece que bateu no teto. Tem
o voto de um terço do eleitorado. E daí dificilmente
passaria. Acha-se vítima de preconceito. Mas argumenta que
o PT ainda não produziu nenhuma alternativa melhor.
O paroxismo
petista atinge agora o seu ápice: a maior fragilidade do
PT é a força de seu principal líder. Se Lula
fosse um Brizola, humilhado com um quarto lugar no pleito municipal
carioca, o PT talvez já o tivesse rifado.
Nenhuma
candidatura nova brotará à sombra de outra que já
entra na disputa com a simpatia de 30% do eleitorado. A menos que
o dono de tal patrimônio político se disponha a adotar
um nome alternativo, pegando-o pela mão e conduzindo-o a
cada comício.
Vencido
o dilema do nome, o PT ainda precisaria arrumar um discurso para
o seu candidato à Presidência, fosse ele quem fosse.
Precisaria também dar certo nas prefeituras que colheu na
atual safra eleitoral. Sobretudo em São Paulo, uma vitrine
à espera de arrumação.
Olhando
de longe, tem-se a impressão de que o PT caminha para a sinuca
eleitoral de sempre. O partido encaçapou algumas bolas importantes.
Mas segue jogando contra os donos da mesa. Parecem afastadas as
chances de alguém virar a mesa e recolher os tacos. Mas na
hora da decisão, quando estiver em jogo a bola sete, todos
se juntarão do outro lado, só para derrotar o PT.
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