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Por
um governo livre de transgênicos
Esta semana o governo federal tornou pública uma posição
que já se desconfiava sua: ampla e irrestritamente favorável
aos alimentos transgênicos. É melhor que seja assim.
Fica tudo mais claro quando seis ministros assinam nota
conjunta a favor dessa biotecnologia e da Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).
Muito
pior é ter um governo omisso e sem política definida,
que deixa a (des)regulamentação correr solta na esfera
dos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Agricultura
e, na pasta do Meio Ambiente, finge preocupação com
os efeitos ambientais dos transgênicos, a ponto de ter o Ibama
como co-autor de ação na Justiça contra decisões
do próprio Poder Executivo. Tudo isso sob a omissão
estridente do Ministério da Saúde, em geral mais eficiente
na exploração de temas capazes de mobilizar a atenção
do público.
O
fato de o governo ter uma posição não quer
porém dizer que ela esteja correta, embora muitos já
o considerem um avanço, em se tratando da atual administração.
Ela é livre para definir-se doutrinariamente contra ou a
favor dos transgênicos, por convicção própria
ou pressão alheia, mas não é prudente ignorar
a desconfiança da opinião pública.
O
que o governo federal, os empresários das "ciências
da vida" e os pesquisadores da biotecnologia não foram
ainda capazes de perceber é que a batalha dos alimentos geneticamente
modificados será ganha ou perdida no campo simbólico,
ou seja, das idéias e noções que as pessoas
formam sobre o assunto, e não no estritamente científico.
Não basta que as análises de risco sejam aceitas por
especialistas em biotecnologia e biossegurança, todos eles
convertidos para o mesmo credo. Elas têm de se tornar convincentes
para a população que vai comprar e engolir os transgênicos.
Chamar
militantes ambientalistas e juízes de ignorantes não
vai ajudar a ganhar essa guerra, não mesmo. Esse tipo de
arrogância serve só para tornar mais plausível
o argumento persecutório de que os administradores da coisa
pública estão a soldo da iniciativa privada. Em bom
português: que os homens do governo, em vez de representar
os interesses de quem os elegeu, defende o de empresas de biotecnologia
como a Monsanto, a Novartis e a AgrEvo.
Não
há uma única cultura transgênica legalmente
aprovada para plantio em escala comercial no Brasil. A soja resistente
a herbicida teve sua licença até agora barrada pela
Justiça, e a CTNBio nada aprovou ainda em termos de plantio
de milho em território nacional. Importar, porém,
pode, segundo a própria comissão e o Superior Tribunal
de Justiça (STJ). Não faltará milho argentino
para frango nordestino.
Pode
parecer uma vitória dos defensores dos alimentos transgênicos,
mas indefinição e paradoxo talvez soem melhor como
descrição da situação. O verdadeiro
teste da posição do governo federal se alinhada
com as empresas ou com o público- virá na hora de
decidir se devem ser rotulados como tais os produtos contendo alimentos
transgênicos, como na maioria dos países da Europa,
ou se serão consumidos inadvertidamente, como nos Estados
Unidos.
A
decisão do governo parece já estar tomada, mas não
se sabe ainda se ele terá coragem, ou força, para
seguir com ela até o fim.
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