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Rubens Barrichello


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Sábado, 5 de agosto de 2000

De repente, num domingo

José Henrique Mariante
     
Diego Medina


A "Autosport" descreveu o GP da Alemanha como a corrida mais maluca da história da F-1. Não para justificar a vitória de Barrichello. Mas por Hockenheim ter abrigado, de fato, uma competição única _fosse cinema, por exemplo, nem o pior dos roteiristas teria coragem de colocar um ressentido e furioso demitido da Mercedes no enredo.
Dado o número de ocorrências, qualquer um do grid poderia ser contemplado com a vitória, assim como aconteceu com Panis, em Mônaco, há alguns anos, naquela corrida em que só três chegaram, sendo que o quarto (último) se classificou quebrado, nos boxes.
O GP da Alemanha, porém, foi escrito de forma diferente. Premiou o verdadeiro herói da prova, Rubens Barrichello, o patinho feio da F-1, da mídia e, até esse domingo, de boa parte do público.
Uma redenção espetacular, que fez Bussunda "chorar" no último programa por ter que jogar fora um estoque de piadas prontas.
Barrichello era de fato piada para o público não especializado e, por desespero, ingenuidade ou burrice, contribuiu para isso.
Se vai deixar de ser agora, é outra história. Por enquanto, a única certeza é que a próxima etapa, na Hungria, terá uma boa audiência, pelo menos na largada _no último domingo, teve gente que só ligou a TV depois de ouvir gritos do vizinho ou rojões.
E para quem não viu a prova, a surpresa não foi a inédita vitória, mas o modo como ela se deu, da péssima posição de largada ao pranto infantil no pódio, passando pelas entradas do carro-madrinha (provocadas por franceses malucos, o demitido e Alesi) e pela caprichosa chuva alemã, molhando só um trecho da pista.
Barrichello não deixou dúvidas. Seria ridículo, por exemplo, dizer que teve sorte ou que o alemão abandonou, até então, pelo senso comum, as condições necessárias, nunca suficientes, para vencer.
Pior, ele teve sorte, e Schumacher não passou nem pela primeira curva. Mas diante do que fez na pista, isso tudo virou detalhe.
Sua explicação foi o descompromisso de quem larga do fundo do grid, algo bastante razoável.
Mas antes e durante a prova, alguns fatos e decisões foram preponderantes para a vitória.
O primeiro deles, a opção pessoal do piloto de colocar mais asa no carro, mesmo diante da necessidade de velocidade para ultrapassagens _nas voltas finais, foi isso que o segurou na pista no trecho encharcado do estádio.
Segundo, a ausência de Schumacher, não a do adversário invencível, mas a que lhe garantiu o papel de único defensor da Ferrari, aglutinando as forças do time, vitais para quem corria com uma estratégia de duas paradas contra apenas uma da McLaren.
Terceiro, a estupidez da McLaren naquele pit "Indy", que provou, pela enésima vez, a preferência do time inglês por Hakkinen.
Finalmente, a exclusividade dos serviços de Ross Brawn, o sujeito que pensa na escuderia, normalmente apenas para Schumacher.
O resto (como se fosse pouco) Barrichello tirou do braço.

Como são as coisas. Um leitor escreveu para coluna para se desculpar pela "fraqueza" de ter torcido por Barrichello no domingo.


NOTAS

Chorões
Não foi apenas a dupla de narradores da Globo que verteu lágrimas com Barrichello no domingo. Do repórter ao técnico de som, quase todo staff da emissora em Hockenheim não se conteve.

Pressa
E não foi apenas a família de Barrichello que foi pega de surpresa com a vitória. A assessoria de imprensa da Ferrari tinha vôo marcado para logo depois da corrida.

Indy
Outro que merecidamente saiu do armário no domingo foi Cristiano da Matta, com a vitória no oval de Chicago.

Ôps
Em entrevista à "F1 Racing", o presidente da Ferrari reclama: "Queria saber quem inventou esse "di" no meio do meu nome". É só Luca Montezemolo, segundo o próprio.




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