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30/11/2004 - 02h54

Sudeste: tecnologia de ponta, petróleo e parcerias

Carolina Chagas
Estanislau de Freitas

free-lance para a Folha de S.Paulo

Principal potência econômica do país, o Estado de São Paulo distorce qualquer média nacional. Tem disparado o maior PIB e a maior população, alta desigualdade de renda, ilhas de segurança, focos de violência e expoentes universitários. USP (Universidade de São Paulo, www.usp.br), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas, www.unicamp.br), Unesp (Universidade Estadual Paulista, www.unesp.br), Unifesp (Universidade Federal de São Paulo, www.epm.br), ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica, www.ita.cta.br) e Ufscar (Universidade Federal de São Carlos, www.ufscar.br) costumam constar em listas de excelência. Em qualquer área, há um ótimo curso.

Em duas, no entanto, a concentração é ainda maior: economia e saúde. "Eu destacaria ainda engenharia e física, mas é inegável a vocação de São Paulo nessas áreas, sobretudo em medicina", afirma Moisés Balassiano, coordenador da pesquisa "Ranking das Cidades para se Fazer Carreira", da FGV-RJ (Fundação Getúlio Vargas).

Os dados confirmam. Das dez melhores faculdades de medicina, segundo o Provão, do MEC, São Paulo abriga cinco: USP, USP-RP, Famema (Faculdade de Medicina de Marília, www.famema.br), Unifesp e Unicamp. E, entre as quase 200 pós-graduações em medicina reconhecidas pelo MEC, apenas duas, paulistas, tiveram nota máxima na avaliação trienal (2001-2003) da Capes, publicada em outubro: neurologia da USP-RP e oncologia do Hospital do Câncer (www.hcanc.org.br).

Já em economia, "só o Rio rivaliza com São Paulo", segundo Fabiana Rocha, coordenadora da pós-graduação em economia da USP e conselheira da Associação Nacional de Pós-Graduação em Economia. Somando qualidade na graduação e na pós, ela aponta USP, FGV-SP (www.fgvsp.br), USP-RP e Unicamp como as melhores do Estado. Na graduação, ela inclui o Ibmec (www.ibmec.br).

"O curso precisa ter capital físico e capital humano. Não adianta ter um computador por aluno, laboratórios sofisticados, mas não ter os melhores docentes", diz a professora.

Não foi por acaso que o primeiro curso de engenharia do petróleo surgiu em Macaé, no norte do Rio de Janeiro. Lá fica a bacia de Campos, responsável por quase 80% do petróleo produzido pela Petrobras (total de 1,7 milhão de barris por dia, segundo a empresa). Lá também estão cerca de 50 empresas nacionais e estrangeiras ligadas à exploração e à produção de petróleo. Na cidade, a instalação do Lenep (Laboratório de Engenharia e Exploração do Petróleo, www.lenep.uenf.br), ligado à Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense), no meio da década de 1990, respondeu a duas necessidades: preparar pessoas para trabalhar com petróleo, especialmente na Petrobras, e melhorar o nível de escolaridade dessa região, o mais baixo do Estado.

"A formação do pessoal é importante por conta de uma exigência do mercado", diz Abel Carrasquilla, chefe do Lenep. Carrasquilla afirma, no entanto, que o nível dos pesquisadores de petróleo também melhorou. "Temos vários profissionais que defenderam teses aqui e estão desenvolvendo pesquisas em laboratórios e empresas da Europa."

A aposta da Uenf já rendeu frutos. A UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro, www.ufrj.br) e a PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica, www.puc-rio.br) também abriram cursos de engenharia do petróleo. A PUC já oferecia especialização, mas, respondendo a uma demanda do mercado, incluiu a carreira na graduação. Na UFRJ, a aprovação veio dos vestibulandos. Neste ano, o curso teve 19,2 candidatos por vaga —apenas atrás de medicina, com 25 candidatos por vaga.

Estudos mostram que o país logo deverá ser auto-suficiente na produção de petróleo, e aposta-se em um poço recém-descoberto no Espírito Santo. Está também nesse Estado uma forte parceria entre a universidade e a iniciativa privada. Com o objetivo de produzir madeira para papel e celulose, a Aracruz investe desde a década de 1970 em pesquisa, em conjunto com universidades, sobretudo de Minas Gerais.

A mais bem-sucedida parceria talvez seja com a Ufla (Universidade de Lavras, www.ufla.br). Em 1996, a empresa fechou um acordo com a instituição mineira para investigar os efeitos do eucalipto nos processos de erosão e exaustão do solo. Para José Roberto Scolforo, pró-reitor de pesquisa da Ufla, a parceria é importante por três motivos: a Aracruz é um laboratório para comprovar teses, os alunos têm e ministram aulas "in loco", e a empresa gera empregos para os estudantes. "Nos últimos três anos, quatro doutores formados na Ufla foram contratados pela Aracruz", diz Scolforo.

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