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30/11/2004 - 03h00

Norte: floresta e subsolo influenciam cursos

Estanislau de Freitas
free-lance para a Folha de S.Paulo

O desafio da geração de energia, os recursos do subsolo e a biodiversidade da floresta amazônica incentivam os bons cursos universitários da região Norte. Assim despontam em qualidade as engenharias elétricas e as graducações em biologia e geologia.

Concentrando as melhores condições de ensino e os cursos mais bem avaliados pelo Ministério da Educação na região, a Ufam (Universidade Federal do Amazonas, www.ufam.edu.br) e a UFPA (Universidade Federal do Pará, www.ufpa.br) têm ainda o reforço de duas tradicionais e prestigiadas instituições federais de pesquisa: em Manaus, o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, www.inpa.gov.br) e, em Belém, o Museu Paraense Emílio Goeldi (www.museu-goeldi.br), ambas com pesquisas e cursos de pós-graduação nas áreas de ciências humanas, desenvolvimento sustentável e ecologia.

"Nosso grande diferencial é que o campus está na maior floresta urbana do mundo, em Manaus", diz o professor Bruce Osbourne, pró-reitor de graduação da Ufam, que destaca a qualidade do curso de ciências biológicas, uma das 51 graduações da universidade.

Segundo ele, os alunos têm a chance única no mundo de aprofundar seus estudos e pesquisas na floresta amazônica. De fato. O campus universitário ocupa uma área de 6,7 milhões de m2, que o torna a maior área verde urbana do país, conservando ainda mata virgem, onde são encontrados preguiças e pacas. Para completar, há o incentivo da pós-graduação em biotecnologia, uma área que vem crescendo em importância em Manaus porque alia recursos naturais com os avanços tecnológicos das indústrias instaladas na Zona Franca.

Avaliado com conceito 4 da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), numa escala cujo máximo é 7, o curso de doutorado em biotecnologia da Ufam é multidisciplinar.

Para quem quer aprofundar nesse ramo de estudos ou seguir carreira acadêmica, o Inpa tem seis áreas com conceito 4 da Capes —botânica; entomologia; ecologia; biologia de água doce e pesca; ciências de florestas tropicais; genética, conservação e biologia evolutiva— entre seus sete cursos de pós-graduação.

"Empresas como Natura e O Boticário já estão instaladas em Manaus. Há perspectivas de crescimento de trabalho na área. Ainda mais com a implantação do CBA [Centro de Biotecnologia da Amazônia]", afirma Marcelo Lopes, 34, secretário-executivo da RBT (Rede Brasil de Tecnologia) do Ministério de Ciência e Tecnologia.

O CBA, uma instituição federal instalada em um prédio de 12 mil m2, que custou R$ 14,5 milhões, começou a funcionar neste ano em Manaus. A meta é receber a nata dos pesquisadores do setor e fazer desenvolvimento de ponta nas áreas de química, farmacologia e bioquímica.

Referência mundial na área de pesquisa antropológica e zoobotânica, o museu Goeldi, com sede em Belém, oferece três cursos de pós-graduação: zoologia e ciências sociais, em parceria com a UFPA, e botânica, com a UFRA (Universidade Federal Rural da Amazônia, www.ufra.edu.br), também em Belém. Ali os alunos dispõem de acervos com mais de 1 milhão de exemplares de invertebrados, fazem pesquisa direto na floresta, no campus de Belém ou numa área de 33 mil hectares dentro da reserva de Caxiuanã (400 km a oeste de Belém).

A UFPA oferece ainda o único curso de pós-graduação de todo o Norte com conceito 6 da Capes: geologia e geoquímica. Nessa área de geociências há apenas outros oito cursos no país com o mesmo conceito.

A universidade também abriga o único mestrado e doutorado multidisciplinar do Brasil em desenvolvimento sustentável do trópico úmido. Com conceito 5, é o curso multidisciplinar mais bem avaliado do Norte e Nordeste. "Na graduação, a qualidade é a mesma para cursos como geologia, geofísica, oceanografia", defende o diretor do Departamento de Pós-Graduação, Paulo Sérgio de Sousa Gorayeb, 52.

Ele explica que os alunos da graduação têm os mesmos professores e laboratórios desses cursos de pós bem avaliados.

A qualidade do ensino se reflete também no trabalho social, que busca melhorar a vida do ribeirinho e das comunidades distantes. Exemplo disso é o curso de engenharia elétrica, um dos mais procurados da universidade, cujo forte é a pesquisa em geração de energia.

Há dez anos, o Departamento de Engenharia Elétrica e Computação criou o Gedae (Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas) para criar alternativas de geração de eletricidade a comunidades de áreas afastadas.

O grupo acabou desenvolvendo um sistema híbrido eólico-fotovoltáico-diesel, que utiliza uma turbina com hélices movida pelo vento e mais 40 módulos fotovoltaicos que captam a energia solar. O sistema foi instalado na vila de São Tomé, no município de Maracanã, no litoral paraense. O Gedae faz pesquisas até mesmo em São Paulo. Em parceria com a USP, realiza o levantamento das potencialidades solar e eólica na comunidade de Maruja, uma APA (Área de Proteção Ambiental) na ilha do Cardoso, no litoral sul do Estado.

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