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23/06/2003
-
05h42
A singela e acolhedora casa em Vila Conceição, bairro de São Luís, e a paciência para atender a reportagem e formar a roda de tambor-de-crioula na rua onde mora, fazem de Felipe Neris Figueiredo, 79, o mestre Felipe, e de seus seguidores mais uma prova de que não dá para apreciar a cultura popular do Maranhão sem travar contato com sua gente.
O apoio institucional do Estado, sempre bem-vindo em se tratando de artistas de origem humilde, não dá conta da riqueza que é conhecer pessoalmente esses brincantes, verdadeiros protagonistas dos festejos juninos.
Tambor-de-crioula é a brincadeira de roda que veio da África, trazida pelos escravos, e encontrou terreno fértil no Maranhão. Consiste em cantos, tambores e coreografias que remetem às umbigadas de outras regiões do Brasil ou mesmo da África.
Depois de trabalhar em roça, carpintaria e olaria, mestre Felipe passou as últimas três décadas dedicando-se quase exclusivamente ao tambor-de-crioula, à frente do grupo União de São Benedito, o mais tradicional da cidade, em atividade desde 1973.
Ele herdou a brincadeira dos avós, com quem praticava desde os três anos em São Vicente de Ferrer, no interior, onde nasceu.
A formação do seu tambor-de-crioula é de três tocadores (nos tambores grande, meião e crivador). São homens que também entoam as ladainhas, às vezes fazendo uso do improviso, para uma roda de 19 dançarinas.
Elas são as coureiras, com seus vestidos coloridos e movimentos de gira que lembram os rituais de religiões afro-brasileiras, como o candomblé ou a umbanda.
Há sempre uma coureira no centro. Para sair da roda, ela irá ao encontro de uma das colegas para substituí-la. As duas mulheres tocam os umbigos, daí a umbigada, ou a punga, como também é conhecida entre os maranhenses.
É na celebração do tambor-de-crioula que o público finalmente encontrará a fogueira, mas com uma função distinta daquela conhecida das festas juninas (pular ou esquentar batata-doce).
Em São Luís, as fogueiras servem para esquentar e esticar o couro dos tambores (é assim também com os instrumentos dos grupos de bumba-meu-boi), antes de cada apresentação.
Mestre Felipe já gravou dois CDs. Neste ano, ele, a mulher Raimunda, 79, e todos os integrantes do União de São Benedito têm sete noites para brincar em alguns arraiais de São Luís. É mais uma chance de reafirmar a crença no tambor-de-crioula, "afinado a fogo, tocado a murro e dançado a coice", como manda o dito popular.
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Mestre perpetua fé no tambor-de-crioula em São Luís
Do enviado especial da Folha de S.Paulo a São Luís (MA)A singela e acolhedora casa em Vila Conceição, bairro de São Luís, e a paciência para atender a reportagem e formar a roda de tambor-de-crioula na rua onde mora, fazem de Felipe Neris Figueiredo, 79, o mestre Felipe, e de seus seguidores mais uma prova de que não dá para apreciar a cultura popular do Maranhão sem travar contato com sua gente.
O apoio institucional do Estado, sempre bem-vindo em se tratando de artistas de origem humilde, não dá conta da riqueza que é conhecer pessoalmente esses brincantes, verdadeiros protagonistas dos festejos juninos.
Tambor-de-crioula é a brincadeira de roda que veio da África, trazida pelos escravos, e encontrou terreno fértil no Maranhão. Consiste em cantos, tambores e coreografias que remetem às umbigadas de outras regiões do Brasil ou mesmo da África.
Depois de trabalhar em roça, carpintaria e olaria, mestre Felipe passou as últimas três décadas dedicando-se quase exclusivamente ao tambor-de-crioula, à frente do grupo União de São Benedito, o mais tradicional da cidade, em atividade desde 1973.
Ele herdou a brincadeira dos avós, com quem praticava desde os três anos em São Vicente de Ferrer, no interior, onde nasceu.
A formação do seu tambor-de-crioula é de três tocadores (nos tambores grande, meião e crivador). São homens que também entoam as ladainhas, às vezes fazendo uso do improviso, para uma roda de 19 dançarinas.
Elas são as coureiras, com seus vestidos coloridos e movimentos de gira que lembram os rituais de religiões afro-brasileiras, como o candomblé ou a umbanda.
Há sempre uma coureira no centro. Para sair da roda, ela irá ao encontro de uma das colegas para substituí-la. As duas mulheres tocam os umbigos, daí a umbigada, ou a punga, como também é conhecida entre os maranhenses.
É na celebração do tambor-de-crioula que o público finalmente encontrará a fogueira, mas com uma função distinta daquela conhecida das festas juninas (pular ou esquentar batata-doce).
Em São Luís, as fogueiras servem para esquentar e esticar o couro dos tambores (é assim também com os instrumentos dos grupos de bumba-meu-boi), antes de cada apresentação.
Mestre Felipe já gravou dois CDs. Neste ano, ele, a mulher Raimunda, 79, e todos os integrantes do União de São Benedito têm sete noites para brincar em alguns arraiais de São Luís. É mais uma chance de reafirmar a crença no tambor-de-crioula, "afinado a fogo, tocado a murro e dançado a coice", como manda o dito popular.
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