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23/06/2003
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06h35
"Uma gostosura dos diabos", brinca Almerice da Silva Santos, 79, a dona Teté do Cacuriá. No centro histórico de São Luís, ela e a trupe de belas moças e rapazes requebram para os fotógrafos. "É rebolado, sim, só que vem do Divino", corrige dona Teté, apelidada assim por um padre.
Fala com conhecimento de causa: ela também é rezadeira, tocadora de caixa (espécie de zabumba) e cantora de ladainhas na festa do Divino Espírito Santo, em São Luís, onde nasceu.
A sensualidade das coreografias (mãos nas cadeiras e muito rebolado), as composições de duplo sentido ("Jabuti sabe ler, não sabe escrever/Ele trepa no pau e não sabe descer") e principalmente o carisma de Teté caíram nas graças do povo. Aqui, porém, a erotização não é ostensiva.
Além de ensaiar as coreografias e decorar as canções, os 13 casais, seis caixeiros e três músicos (violão, flauta e cavaquinho ou banjo) precisam emanar o sorriso largo tal qual a caixeira Teté.
"Aonde o cacuriá chega ele contagia as pessoas", orgulha-se a mulher que incrementou a dança de roda aprendida com o colega Lauro de Almeida, um estivador dado à criação de pastoris (folguedos) e turmas de samba.
No início dos anos 70, dona Zelinda Lima, uma pesquisadora de cultura popular, pediu para seu Lauro inventar uma nova dança: o cacuriá, derivação do carimbó das caixeiras, acompanhamento tradicional para a derrubada do tronco de árvore que vira mastro para a festa do Divino.
"O Lauro, com quem trabalhei por nove anos, era muito puritano. As mulheres trajavam vestidos de senhora. Aí eu apimentei o cacuriá. Ficou uma dança menos religiosa e mais "reboculosa'", despacha Teté.
Convidada a ensinar o toque das caixas às jovens que frequentavam o Laborarte, em meados dos anos 70, Teté introduz as mudanças que deixaram o cacuriá com a marca da lascívia e da diversão. Seu Lauro, que já morreu, e outros artistas mais conservadores chegaram a protestar, em vão, contra a "escandalosa dança".
Hoje, o cacuriá de dona Teté vai além do Divino e atravessa as festas juninas com desenvoltura. É uma performance que cabe em qualquer calendário da cultura popular.
Atualmente, há outros 40 grupos de cacuriá em São Luís, prova do talento dessa mulher vaidosa e graciosa, que nunca se casou, mas criou uma filha e ganhou netos. Ela lançou um CD ("Cacuriá de Dona Teté", selo Laborarte) e acaba de gravar o segundo, que deve sair em breve.
Três anos atrás, fez participação especial no espetáculo "Mãe Gentil", do coreógrafo Ivaldo Bertazzo, que passou por São Paulo e pelo Rio. Estava ao lado dos conterrâneos Zeca Baleiro e da cantora Rosa Reis, parceira nas coreografias do cacuriá com o pesquisador Nelson Santos de Brito.
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Dona Teté assanha trupe com cacuriá
Do enviado especial da Folha de S.Paulo a São Luís (MA)"Uma gostosura dos diabos", brinca Almerice da Silva Santos, 79, a dona Teté do Cacuriá. No centro histórico de São Luís, ela e a trupe de belas moças e rapazes requebram para os fotógrafos. "É rebolado, sim, só que vem do Divino", corrige dona Teté, apelidada assim por um padre.
Fala com conhecimento de causa: ela também é rezadeira, tocadora de caixa (espécie de zabumba) e cantora de ladainhas na festa do Divino Espírito Santo, em São Luís, onde nasceu.
A sensualidade das coreografias (mãos nas cadeiras e muito rebolado), as composições de duplo sentido ("Jabuti sabe ler, não sabe escrever/Ele trepa no pau e não sabe descer") e principalmente o carisma de Teté caíram nas graças do povo. Aqui, porém, a erotização não é ostensiva.
Além de ensaiar as coreografias e decorar as canções, os 13 casais, seis caixeiros e três músicos (violão, flauta e cavaquinho ou banjo) precisam emanar o sorriso largo tal qual a caixeira Teté.
"Aonde o cacuriá chega ele contagia as pessoas", orgulha-se a mulher que incrementou a dança de roda aprendida com o colega Lauro de Almeida, um estivador dado à criação de pastoris (folguedos) e turmas de samba.
No início dos anos 70, dona Zelinda Lima, uma pesquisadora de cultura popular, pediu para seu Lauro inventar uma nova dança: o cacuriá, derivação do carimbó das caixeiras, acompanhamento tradicional para a derrubada do tronco de árvore que vira mastro para a festa do Divino.
"O Lauro, com quem trabalhei por nove anos, era muito puritano. As mulheres trajavam vestidos de senhora. Aí eu apimentei o cacuriá. Ficou uma dança menos religiosa e mais "reboculosa'", despacha Teté.
Convidada a ensinar o toque das caixas às jovens que frequentavam o Laborarte, em meados dos anos 70, Teté introduz as mudanças que deixaram o cacuriá com a marca da lascívia e da diversão. Seu Lauro, que já morreu, e outros artistas mais conservadores chegaram a protestar, em vão, contra a "escandalosa dança".
Hoje, o cacuriá de dona Teté vai além do Divino e atravessa as festas juninas com desenvoltura. É uma performance que cabe em qualquer calendário da cultura popular.
Atualmente, há outros 40 grupos de cacuriá em São Luís, prova do talento dessa mulher vaidosa e graciosa, que nunca se casou, mas criou uma filha e ganhou netos. Ela lançou um CD ("Cacuriá de Dona Teté", selo Laborarte) e acaba de gravar o segundo, que deve sair em breve.
Três anos atrás, fez participação especial no espetáculo "Mãe Gentil", do coreógrafo Ivaldo Bertazzo, que passou por São Paulo e pelo Rio. Estava ao lado dos conterrâneos Zeca Baleiro e da cantora Rosa Reis, parceira nas coreografias do cacuriá com o pesquisador Nelson Santos de Brito.
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