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18/11/2004
-
09h50
Quando os navios de cruzeiro chegam a La Spezia, porto ao sul de Gênova, as excursões oferecidas levam os passageiros a locais como Portofino e Santa Margherita, na Riviera Italiana; a Cinque Terre, na Ligúria; a Pisa ou a Florença, na Toscana. La Spezia, com seu promenade à beira-mar, um parque muito arborizado, calçadões, restaurantes simpáticos e bons museus, vale a visita.
Para os brasileiros que gostam de arte, La Spezia lembra Pietro Maria Bardi (1900-1999), o homem cuja biografia está ligada à formação do acervo do Masp (Museu de Arte de São Paulo).
Andrea Marmori, 40, diretor do museu Lia, na Via Prione, não conheceu Bardi, mas seu pai, Franco, um arquiteto que hoje tem 82 anos, trocou farta correspondência com o diretor do Masp.
P.M. Bardi, como ele assinava, aliás, nasceu na Via Prione e, segundo Marmori, era o segundo de quatro filhos (Luigi, ele mesmo, Giulio e Antonio).
Figura polêmica e vivaz, um homem de poucas palavras, bigode branco bem aparado, dono de gestos engraçados e gravatas extravagantes, Bardi falava baixinho e com sotaque, era cativante e sabia tudo de artes plásticas.
Bardi adotou no fim da vida a cidadania brasileira, doando para a Itália as obras de arte que havia amealhado antes de vir para o Brasil. "Ninguém pode ter dois pés em um sapato", disse ele ao se tornar um legítimo "brasiliano".
Chamado afetuosamente de "professor", Bardi ironicamente foi um aluno medíocre, repetiu três vezes a escola elementar, que acabou abandonando.
Ainda jovem, foi trabalhar no Arsenal Militar de La Spezia, onde há uma importante base da Marinha italiana que remonta a 1860.
Bardi encontrou a sua vocação de especialista em arte quando foi trabalhar no escritório do advogado Pellizza, um homem culto que o colocou em contato com a sua boa biblioteca.
Em 1917, com apenas 17 anos, ele se mudou para Savona e retomou os estudos. Mas as peripécias do "professor" estavam apenas começando. Já jornalista, Bardi aderiu ao fascismo e passou a editar uma revista de artes autorizada pelo regime que foi duramente criticada pelo poeta norte-americano Ezra Pound, admirador de Mussolini exilado em Rappalo.
Quando Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, decidiu formar o acervo do Masp, Bardi foi indicado e desembarcou no Brasil, em 1946, ao lado de sua mulher --aliás comunista--, a arquiteta Lina Bo Bardi, autora do projeto do museu situado na avenida Paulista e inaugurado em 1968.
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"Mare Nostrum": La Spezia traz Pietro Maria Bardi à memória
Do enviado especial da Folha de S.Paulo ao MediterrâneoQuando os navios de cruzeiro chegam a La Spezia, porto ao sul de Gênova, as excursões oferecidas levam os passageiros a locais como Portofino e Santa Margherita, na Riviera Italiana; a Cinque Terre, na Ligúria; a Pisa ou a Florença, na Toscana. La Spezia, com seu promenade à beira-mar, um parque muito arborizado, calçadões, restaurantes simpáticos e bons museus, vale a visita.
Para os brasileiros que gostam de arte, La Spezia lembra Pietro Maria Bardi (1900-1999), o homem cuja biografia está ligada à formação do acervo do Masp (Museu de Arte de São Paulo).
Andrea Marmori, 40, diretor do museu Lia, na Via Prione, não conheceu Bardi, mas seu pai, Franco, um arquiteto que hoje tem 82 anos, trocou farta correspondência com o diretor do Masp.
P.M. Bardi, como ele assinava, aliás, nasceu na Via Prione e, segundo Marmori, era o segundo de quatro filhos (Luigi, ele mesmo, Giulio e Antonio).
Figura polêmica e vivaz, um homem de poucas palavras, bigode branco bem aparado, dono de gestos engraçados e gravatas extravagantes, Bardi falava baixinho e com sotaque, era cativante e sabia tudo de artes plásticas.
Bardi adotou no fim da vida a cidadania brasileira, doando para a Itália as obras de arte que havia amealhado antes de vir para o Brasil. "Ninguém pode ter dois pés em um sapato", disse ele ao se tornar um legítimo "brasiliano".
Chamado afetuosamente de "professor", Bardi ironicamente foi um aluno medíocre, repetiu três vezes a escola elementar, que acabou abandonando.
Ainda jovem, foi trabalhar no Arsenal Militar de La Spezia, onde há uma importante base da Marinha italiana que remonta a 1860.
Bardi encontrou a sua vocação de especialista em arte quando foi trabalhar no escritório do advogado Pellizza, um homem culto que o colocou em contato com a sua boa biblioteca.
Em 1917, com apenas 17 anos, ele se mudou para Savona e retomou os estudos. Mas as peripécias do "professor" estavam apenas começando. Já jornalista, Bardi aderiu ao fascismo e passou a editar uma revista de artes autorizada pelo regime que foi duramente criticada pelo poeta norte-americano Ezra Pound, admirador de Mussolini exilado em Rappalo.
Quando Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, decidiu formar o acervo do Masp, Bardi foi indicado e desembarcou no Brasil, em 1946, ao lado de sua mulher --aliás comunista--, a arquiteta Lina Bo Bardi, autora do projeto do museu situado na avenida Paulista e inaugurado em 1968.
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