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21/07/2005
-
10h42
Enviada da Folha de S.Paulo a Las Vegas
Nenhuma janela está aberta, mas é permitido fumar. Um constante ruído eletrônico ecoa das centenas de caça-níqueis. Descombinando com papéis de parede decorados, carpetes estampados escandalosamente cobrem o chão e exalam um cheiro esquisito --misto de suor e de fumaça, com toques sutis de mofinho. E esse cheiro nunca vai embora, pois, como já foi dito, nenhuma janela está aberta.
Bem-vindo a um cassino, ambiente proibido para menores de 21 anos e para qualquer pessoa com tendências depressivas.
Para quem não os conhece, cassinos são lugares bastante particulares. Centenas de pessoas ficam horas ali perdendo rapidamente seu dinheiro. Em menos de um minuto, apostando apenas US$ 1 em um de seus caça-níqueis, perde-se US$ 10.
Por isso ou para isso, a bebida é por conta da casa. É só colocar uma moedinha na máquina que aparece uma garçonete perguntando o que o jogador quer beber. E o jogador pode escolher o que quiser. Quando ela volta com o drinque, basta dar a gorjeta --no mínimo US$ 1.
Uma peculiaridade desses locais é a suspensão das mudanças naturais do dia. Em primeiro lugar, a temperatura é constante. Em uma cidade em que à meia-noite a temperatura pode ser de 31ºC, em um cassino faz sempre quase 22ºC.
Em segundo lugar, dentro de um cassino as horas só passam no relógio. A iluminação desses lugares isola os jogadores do fato de ser dia ou noite. Vêem-se, portanto, pessoas bebendo uísque às 8h. Elas podem não ter ido dormir, podem não saber que já amanheceu. Aqui dentro, vive-se uma espécie de começo de noite infinito. Alguns lugares pegam pesado: no Desert Passage, o teto é pintado de tons de azul alaranjado, e a iluminação reproduz um fim de tarde. Assim, é possível querer jantar antes mesmo de ter almoçado.
Reza a lenda que as janelas não abrem para evitar o suicídio daqueles que perderam muito dinheiro. Os gerentes de hotéis negam a medida precavida; alegam que o ar-condicionado precisa do ambiente fechado para combater o calor do deserto.
Existe uma hierarquia velada entre os jogadores, na qual o último degrau é formado pelos acompanhantes, os que não jogam. O penúltimo é o nível dos caçadores de níqueis. Então vêm os apostadores de jogos tradicionais --cartas, roleta, dados, apostas esportivas. Acima de todos, pairam os apostadores de fortunas, que têm salas separadas para perder seus milhares de dólares sem o assédio dos mortais.
Recomendação
Em um lugar em que se entreter é a máxima, estar triste é quase proibido. Por isso Las Vegas não é um bom destino para quem está passando por uma fase difícil. Perambular pelo cassino observando as pessoas é receita certa para chafurdar na inquietude de uma alma machucada. A epidemia de obesidade que se abate sobre os EUA, a hipnose dos caça-níqueis e a aparente solidão dos jogadores destroem qualquer chance de recuperação para quem está entristecido.
Heloisa Lupinacci viajou a convite do Las Vegas Convention and Visitors Authority e da companhia aérea American Airlines.
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Em cassino de Las Vegas, janela não abre e bebida é de graça
HELOISA LUPINACCIEnviada da Folha de S.Paulo a Las Vegas
Nenhuma janela está aberta, mas é permitido fumar. Um constante ruído eletrônico ecoa das centenas de caça-níqueis. Descombinando com papéis de parede decorados, carpetes estampados escandalosamente cobrem o chão e exalam um cheiro esquisito --misto de suor e de fumaça, com toques sutis de mofinho. E esse cheiro nunca vai embora, pois, como já foi dito, nenhuma janela está aberta.
Bem-vindo a um cassino, ambiente proibido para menores de 21 anos e para qualquer pessoa com tendências depressivas.
Para quem não os conhece, cassinos são lugares bastante particulares. Centenas de pessoas ficam horas ali perdendo rapidamente seu dinheiro. Em menos de um minuto, apostando apenas US$ 1 em um de seus caça-níqueis, perde-se US$ 10.
Por isso ou para isso, a bebida é por conta da casa. É só colocar uma moedinha na máquina que aparece uma garçonete perguntando o que o jogador quer beber. E o jogador pode escolher o que quiser. Quando ela volta com o drinque, basta dar a gorjeta --no mínimo US$ 1.
Uma peculiaridade desses locais é a suspensão das mudanças naturais do dia. Em primeiro lugar, a temperatura é constante. Em uma cidade em que à meia-noite a temperatura pode ser de 31ºC, em um cassino faz sempre quase 22ºC.
Em segundo lugar, dentro de um cassino as horas só passam no relógio. A iluminação desses lugares isola os jogadores do fato de ser dia ou noite. Vêem-se, portanto, pessoas bebendo uísque às 8h. Elas podem não ter ido dormir, podem não saber que já amanheceu. Aqui dentro, vive-se uma espécie de começo de noite infinito. Alguns lugares pegam pesado: no Desert Passage, o teto é pintado de tons de azul alaranjado, e a iluminação reproduz um fim de tarde. Assim, é possível querer jantar antes mesmo de ter almoçado.
Reza a lenda que as janelas não abrem para evitar o suicídio daqueles que perderam muito dinheiro. Os gerentes de hotéis negam a medida precavida; alegam que o ar-condicionado precisa do ambiente fechado para combater o calor do deserto.
Existe uma hierarquia velada entre os jogadores, na qual o último degrau é formado pelos acompanhantes, os que não jogam. O penúltimo é o nível dos caçadores de níqueis. Então vêm os apostadores de jogos tradicionais --cartas, roleta, dados, apostas esportivas. Acima de todos, pairam os apostadores de fortunas, que têm salas separadas para perder seus milhares de dólares sem o assédio dos mortais.
Recomendação
Em um lugar em que se entreter é a máxima, estar triste é quase proibido. Por isso Las Vegas não é um bom destino para quem está passando por uma fase difícil. Perambular pelo cassino observando as pessoas é receita certa para chafurdar na inquietude de uma alma machucada. A epidemia de obesidade que se abate sobre os EUA, a hipnose dos caça-níqueis e a aparente solidão dos jogadores destroem qualquer chance de recuperação para quem está entristecido.
Heloisa Lupinacci viajou a convite do Las Vegas Convention and Visitors Authority e da companhia aérea American Airlines.
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